sábado, 21 de novembro de 2009

Di Cavalcanti - O Pintor do Brasil

De todos os pintores modernistas do nosso país, acredito que possamos dizer que Di Cavalcanti foi o mais "brasileiro". Modernista por excelência mas figurativo acima de tudo, retratou como ninguém as coisas brasileiras, desde as comidas e iguarias às festas populares, principalmente o Carnaval, onde a gente do povo foi pintada com todos os traços e cores. Nas figuras humanas, tem na mulata, a mulher caracteristicamente brasileira, o principal motivo. A mulher mestiça, cheia de curvas sensuais, iluminada pelo sol quente da beira mar, talvez tenha sido a coisa que este carioca da gema, ou "perfeito carioca" como mesmo se entitulou, mais gostou de pintar.

Foi o idealizador da Semana de Arte Moderna de 1922, quando à época morava em São Paulo, onde frequentou o curso de Direito nas Arcadas do Largo São Francisco e trabalhava também como ilustrador. Foi também em São Paulo que realizou sua primeira individual em 1919.
Em 1923 foi para Paris, onde teve contato com a vanguarda artística mundial, travando conhecimento com vários artistas, principalmente Pablo Picasso. Retornando ao Brasil, trabalhando ora no Rio, ora em São Paulo como ilustrador, Di começou a se preocupar muito com os aspectos sociais de seu país, vindo a se filiar em função disso ao Partido Comunista, o que lhe rendeu a necessidade de viver escondido em Paquetá e depois em Mangaratiba devido à perseguição política, juntamente com sua esposa Noêmia Mourão, a qual tinha sido sua aluna. A vida política agitada, contudo, não o impedia de pintar e expor suas pinturas, tanto no Brasil como no exterior, além de continuar o trabalho de ilustrador e caricaturista.




Di Cavalcanti foi pintor, desenhista, ilustrador, gravador, escritor e no que tange a escultura, realizou jóias de uma beleza extraordinária. Participou de inúmeras exposições, no Brasil e no exterior, incluindo a Bienal de São Paulo e a Bienal de Veneza. Suas obras são disputadíssimas nos melhores leilões de arte do mundo e estão presentes em acervos dos mais importantes museus do Brasil e do exterior, além de seletas coleções particulares ao redor do planeta. São inúmeros os livros publicados a seu respeito o que faz de Di Cavalcanti um verdadeiro ícone da pintura nacional, que lhe valeu inclusive o justo título de "Patriarca da Pintura Moderna Brasileira".



É difícil imaginar o que seria da pintura moderna brasileira sem que Di Cavalcanti tivesse existido. A obra que criou é tão rica, vasta, variada e importante, que merece um sério esforço de registro e catalogação, o qual todo o mundo da arte espera com extrema ansiedade. Infelizmente, pelas elevadas cifras que seus quadros hoje alcançam, Di Cavalcanti deve ser um dos artistas mais falsificados no Brasil. Considero inclusive, que no caso de Di Cavalcanti, seria necessária uma séria iniciativa governamental, com a finalidade de catalogar e preservar o grande legado da obra deste grande artista. Afinal, Di Cavalcanti é uma questão de estado, pois Di Cavalcanti é Brasil.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Sotheby´s New York- Leilão de Arte Latinoamericana



Ocorreu ontem em Nova York, o leilão de Arte Latinoamericana da Sotheby's. Considerando as atuais circunstâncias, os resultados foram até satisfatórios. Destaque para a obra do brasileiro Sergio Camargo( reproduzida acima), "Relevos", de dimensões 170x115cm, que foi arrematada pelo valor de US$ 1.594.500, um verdadeiro recorde, principalmente se considerarmos a estimativa inicial de US$ 350.000 a US$ 450.000. Ela só foi superada no evento pela obra de Matta, Endless Nudes, capa do catálogo do leilão, que foi arrematada por US$ 2.490.500. Outras obras de brasileiros como "Raízes" de Frans Krajcberg e "Jogo da Velha" de Cildo Meireles também encontraram compradores pelos valores nada desprezíveis de US$ 146.500 e US$ 170.500 respectivamente, numa noite que movimentou um total de US$ 14.764.250 em vendas. A arte latinoamericana, principalmente a brasileira, agradece.

domingo, 8 de novembro de 2009

Fulvio Pennacchi - Pintor italiano, artista brasileiro

Quando Fúlvio Pennacchi aportou por terras brasileiras em 1929, há exatos 80 anos, encontrou o país imerso na grande crise mundial. No porto que chegara, talvez fosse ainda possível ver a queima do café, sinal do desespero que tomara conta de alguns. Para esse italiano nascido na Toscana em 1905, mais especificamente em Lucca, berço da civilização etrusca, não foi fácil se manter por aqui no começo, principalmente por ter sido a cidade de São Paulo, onde decidiu residir, uma das mais afetadas pela turbulência daquele momento. Mesmo tendo frequentado a Academia de Belas Artes de Lucca, onde aprendeu principalmente um desenho refinado, tinha que se contentar com simples e humildes trabalhos, geralmente de decoração, para que fosse possível comer e pagar o aluguel de um porão, onde morava.

Se integrando aos poucos à comunidade italiana paulistana, trabalhou no ateliê do escultor Galileo Emendabili e em 1935 participa de exposição no Palácio das Arcadas e no Salão Paulista de Belas Artes. As exposições foram a oportunidade para que o público e a crítica tivessem contato com o excelente trabalho artístico que Pennacchi realizava. Mesmo dentro da pintura figurativa, à qual não abandonou até o fim de sua vida, em contraposição às novas propostas que apareciam à época, ditas de vanguada, suas obras foram aceitas e admiradas com entusiasmo, dignas de opiniões muito favoráveis de críticos como Sérgio Milliet, que inclusive comprou uma das obras expostas. Pela mesma época, conhece Francisco Rebolo, com quem trava uma grande amizade, além de Aldo Bonadei, os quais juntamente com Alfredo Volpi, Mario Zanini e mais alguns formaram o famoso grupo Santa Helena, nome do Edifício que abrigava os ateliês daqueles pintores operários, de origem simples, mas muito identificados com a paisagem e com a realidade da população da São Paulo de então.






As figuras de camponeses, de gente simples em seu labor do dia a dia, além de cenas religiosas de poesia incomparável, passaram a ser as marcas registradas de Pennacchi. O desenho preciso e solto e o tratamento meticuloso dado à paleta, com a utilização de cores que remontam aos afrescos existentes em algumas cidades italianas, renderam ao artista reconhecimento e fama. As encomendas passaram a ser constantes e sua vida se transformou aos poucos. Foi professor do Colégio Dante Aleghieri e mesmo antes dos 40 anos já era considerado um mestre da pintura, o que lhe rendeu o convite para execução dos afrescos da Igreja N.Sra. da Paz em São Paulo.








As obras de Pennacchi passaram então a fazer parte de acervos de museus e de importantes coleções particulares. Executa inúmeros painéis para instituiçoes oficiais, estabelecimentos comerciais e residências particulares, principalmente na técnica do afresco, a qual desenvolveu com incomparável maestria. Participou de inúmeras exposições, individuais e coletivas, no Brasil e no extrerior, inclusive da I Bienal de São Paulo de 1951.

Casou-se posteriormente com uma das herdeiras da família Matarazzo, com quem teve oito filhos e uma vida financeira tranquila, quando não precisou mais vender seus quadros para subsistir. Veio a falecer em 1992, deixando um acervo enorme e um legado de amor ao ofício de pintor e à atividade de artísta múltiplo, uma vez que também gravou, esculpiu e realizou obras em cerâmica de um bom gosto inconfundível.

Sua obra hoje está sendo catalogada pelos filhos Valério e Giovanna, os quais darão sem dúvida o destaque que toda a vida de Fúlvio Pennacchi merece.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Saint Clair Cemin - Artista brasileiro internacional


Ao comentar a Bienal do Mercosul na última postagem, lembrei de Saint Clair Cemin, artista que foi homenageado na edição de 2003 deste evento, na qual havia exposto a escultura monumental de nome "Supercuia", reproduzida acima. Como bom gaúcho de Cruz Alta, não poderia deixar de retribuir a gentileza.

Saint Clair é hoje um dos nomes mais lembrados e comentados no eixo Nova York - Paris, quando o assunto é, principalmente, escultura contemporânea. Não que sua obra gráfica e desenhos não tenham importância, longe disso, mas é justamente na escultura onde Saint Clair vem se destacando cada vez mais, com suas obras frequentando acervos de grandes museus e importantes coleções particulares, além de monumentos em locais públicos. Navegando muitas vezes, como eu particularmente consigo definir, por um "surrealismo contemporâneo", Saint Clair lança mão de materiais diversos como mármore, metal, madeira, fibra de vidro e plástico para traduzir suas idéias e visão do mundo em esculturas e instalações que chamam a atenção não só pela técnica empregada mas como pela originalidade.

Desde os seus tempos de École de Beaux Arts de Paris, onde seus desenhos e esboços já demonstravam como uma bússola o caminho que iria seguir(vide acima um deles reproduzido), Saint Clair realiza uma obra consistente e coerente, que espelha aos poucos e cada vez mais, uma maturidade artística que justifica o seu já grande sucesso. É frequente a presença de suas obras em leilões importantes em Sotheby's e Christie's, apesar de que aqui dentro, em nosso país, pouca gente lembre dele, ou mesmo o conheça. Saint Clair foi um artista que também expôs na Galeria Projecta, no final dos anos 70 e início dos 80, antes de se mudar definitivamente para os EUA, onde reside atualmente e de onde parte para exposições e empreitadas de criação pelo mundo inteiro.

O artista participou de várias exposições individuais e coletivas, incluindo a Bienal de São Paulo, e suas obras, como já citado acima, já integram acervos de museus importantes como o Instituto Inhotim de Minas Gerais e os da relação abaixo, extraídos do site do próprio artista:

-Musee de la Chasse et de la Nature, Paris
-S.M.A.K., Stedelijk Museum voor Actuele Kunst,
-GentThe Rose Art Museum, Brandeis University, Waltham, MASS.
-Sydney and Walda Besthoff Sculpture Garden at NOMA, New Orleans
-Eli Broad Family Foundation, Los Angeles, California.
-Emily Fisher Landau Collection, Long Island City.
-Whitney Museum of American Art, New York.
-Grounds for Sculpture, Hamilton, New Jersey.
-Museum of Contemporary Art, Los Angeles, California.
-FNAC (Fonds National d'Art Contemporain), Paris, France.
-Museo de Arte Contemporaneo, Monterrey, Mexico.
-Rooseum, Stockholm, Sweden.
-Hakone Open-Air Museum, Japan.
-jBastads Kommun, Sweden.
-MEIAC - Museo Extremeno e Iberoamericano de Arte Contemporaneo, Badajoz, Spain.
Saint Clair Cemin deve ter seu nome anotado e guardado. Ainda vamos ouvir falar muito dele.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

7a. Bienal do Mercosul

Começou hoje em Porto Alegre e vai até o dia 29 de Novembro, a sétima edição da Bienal do Mercosul. Conforme a introdução existente no site do evento....:



"A 7ª Bienal do Mercosul começa em março de 2008, com o lançamento de um processo inédito para seleção do curador-geral. O concurso, aberto a profissionais de todo o mundo, recebeu 67 propostas para avaliação, vindas de candidatos de mais de 20 países. O método adotado marcou uma nova etapa evolutiva da Bienal do Mercosul, tornando mais dinâmica e transparente a escolha do curador.A proposta escolhida, assinada pelos curadores Victória Noorthoorn e Camilo Yáñez, atendeu às metas da Fundação Bienal do Mercosul:
• Foco na contribuição social, buscando reais benefícios para os seus públicos, parceiros e apoiadores;
• Contínua aproximação com a criação artística contemporânea e seu discurso crítico;
• Transparência na gestão e em todas as suas ações; • Prioridade de investimento em educação; e,
• Estabelecimento da Bienal como referência nos campos da arte, da educação e pesquisa nessas áreas.

Em linhas gerais, Noorthoorn e Yáñez propuseram um conceito de bienal que determina uma participação efetiva dos artistas que a compõem, valendo-se de sua energia criativa para refletir sobre o papel que representam. O projeto envolve os artistas na própria concepção da Bienal: considerados como atores sociais e constantes produtores de sentido crítico, os artistas serão responsáveis por conceituar formatos de exibição, o projeto pedagógico e as políticas editoriais do evento.A equipe curatorial da 7ª Bienal do Mercosul está integrada pelos seguintes curadores:
Curadores-gerais: Victoria Noorthoorn (Argentina) e Camilo Yáñez (Chile)
Curadora pedagógica: Marina De Caro (Argentina)
Curadores adjuntos: Roberto Jacoby (Argentina), Artur Lescher (Brasil), Mario Navarro (Chile) e Laura Lima (Brasil)
Co-curadora Radiovisual: Lenora de Barros (Brasil)
Curadores editoriais: Erick Beltrán (México) e Bernardo Ortiz (Colômbia)

A 7ª Bienal do Mercosul é uma plataforma aberta de comunicação sobre o estado das artes mais experimentais e críticas do continente, em diálogo com o mundo. Para a Fundação Bienal do Mercosul, esta Bienal vai promover ações pensadas para envolver o público em um processo contínuo de aproximação e diálogo, abrindo espaço para que as contribuições da Bienal à comunidade sejam positivas e crescentes a cada edição. Este contínuo projeto de renovação e ampliação se constitui num enorme investimento, cujos resultados não se restringem ao presente, mas serão percebidos também no futuro. "

Com aproximadamente 200 artistas, vale a pena uma ida a Porto Alegre e visitar a Bienal, cuja importância aumenta a cada edição, para se ater às tendências da arte brasileira e latinoamericana.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Valdir Sarubbi - Lembram dele?

Dos artistas que expuseram seus trabalhos na Projecta, galeria da qual meu falecido sogro era proprietário, Valdir Sarubbi foi um dos que mais me impressionou. A galeria abrigou duas individuais de Sarubbi em 1978 e 1982. A qualidade que empregava em seus trabalhos era tão grande e tão refinada, que lhe renderam inclusive em 1999/2000 um prêmio-bolsa pela Pollock-Krasner Fondation de Nova York, da qual recebeu rasgados elogios. Era apontado à época, como um dos grandes nomes da arte contemporânea brasileira. Infelizmente, por problemas de saúde, veio a falecer em São Paulo no ano 2000, quando seu poder de criação atingia o ápice. Das suas várias fases, reproduzimos abaixo um estudo em técnica mista da série "Este Rio é Minha Rua", na qual Sarubbi explora suas lembranças e conhecimentos da Amazônia, numa clara ação que clamava pela preservação do meio ambiente. É possível perceber nesse trabalho a grande qualidade do desenho e da execução como um todo. Um belo e raro exemplar.



Valdir Evandro Sarubbi de Medeiros nasceu em Bragança, estado do Pará, no dia 10 de Outubro, e estaria completando 70 anos. Foi pintor, desenhista, gravador e professor. Entre 1958 e 1962, cursa a Faculdade de Direito e entre 1969 e 1970, a Faculdade de Arquitetura, ambas em Belém (Pará). Em 1971, muda-se para São Paulo. Em 1986, desenvolve o Projeto Arte e Educação, como artista residente na Unicamp em Campinas (São Paulo). Em 1990, realiza a instalação do painel permanente denominado Meditação Labiríntica, na Estação Barra Funda do Metrô de São Paulo. Entre as exposições de que participa, destacam-se: XI e XII Bienal Internacional de São Paulo, 1971/1973; Salão Paulista de Arte Contemporânea, São Paulo, várias edições entre 1971 e 1975; Bienal Nacional, São Paulo, 1972/1974 (Prêmio Brasil Plástica, 1972); Panorama da Arte Atual Brasileira, no MAM/SP, São Paulo, várias edições entre 1974 e 1990; O Desenho como Instrumento, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, 1979; Bienal Latino-Americana, Havana (Cuba), 1984; 4ª Bienal Nacional de Santos, 1993. Em 2006, a DAN Galeria realizou uma exposição de Sarubbi com obras realizadas de 1970 a 1990.

Vários museus e coleções particulares no Brasil e no exterior possuem obras de Sarubbi, artista cuja memória merece ser resgatada, o que com certeza ocorrerá. É uma mera questão de tempo.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Aldir Mendes de Souza - A geometria e a cor

Depois de Volpi e Arcângelo Ianelli, Aldir Mendes de Souza foi, sem dúvida, um dos maiores artistas coloristas do Brasil. Desde os primordios, quando iniciou a representação geometrizada dos campos e cafezais paulistas em contraste com a urbe, com a cidade impessoal e cinza, Aldir já mostrava uma paleta madura, em que as cores justapostas dialogavam pela geometria, estabelecendo uma arte algo dialética, onde a última palavra era do observador, que inevitavelmente acabava indo paisagem a dentro, dela usufruindo e com ela conversando. Seus campos arados e suas montanhas geometrizadas possuem aquela marca registrada do mestre, a assinatura indelevel de um autor inquieto, que ao longo de uma carreira de mais de 40 anos, interrompida pela doença em 2007, mostrou uma evolução constante no trabalho da forma e da cor, digna de comparação a Volpi e Ianelli.




Médico de profissão e artista por paixão, Aldir trouxe para as telas um sentimento de alegria constante, digno de quem sempre esteve de bem com a vida, mesmo nos últimos instantes, quando ela, a vida, se esvaía, consumida pela leucemia. Ele, médico, não curou a si mesmo, mas pintou a si de certa forma, executando as últimas telas de sua vida baseadas nos mielogramas de seus exames médicos ( exames de medula óssea).
Aldir participou de inúmeras exposições individuais e coletivas, entre elas da Bienal de São Paulo e Ibero Americana no México. Suas obras se encontram hoje em dia em vários museus e em importantes coleções particulares no Brasil e no exterior.


Foi também um pioneiro na denúncia pela arte da devastação do planeta e sua degeneração pela poluição. O avanço da cidade sobre o campo e a degradação da qualidade de vida do ser humano sempre foram possíveis de serem percebidas em muitas de suas composições. Aldir foi um artista com "A" maiúsculo, um colorista de primeira e um pintor como poucos. Acredito que num futuro não muito distante, a crítica e o público colocarão Aldir no merecido lugar, aquele reservado aos grandes mestres da forma e da cor, cujas obras exalam vida e cujas vidas exaltam, pela arte, o amor.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Sörensen - A poesia da cor

Carlos Haraldo Sörensen, ou simplesmente Sörensen, como assinava seus quadros, foi um artista brilhante, e mais que isso, um personagem das artes como um todo. Além de pintor, foi arquiteto, gravador, ilustrador, tapeceiro, poeta, ator, figurinista, cenógrafo e ceramista. Este "autêntico" dinamarquês nascido em Bauru - SP, fez de tudo um pouco no campo das artes, culminando como cenarista do programa "Fantástico" da Rede Globo, tendo antes disso passado pela Tupi, com incursões pela Record e Bandeirantes. Foi também carnavaleso premiado pelos figurinos da Portela e bailes de carnaval históricos no Rio de Janeiro. A breve descrição anterior já é suficiente para perceber que Sörensen podia ter tudo, menos preguiça.


No campo da pintura, estudou com Lhote e Gleizes na França e trabalhou com Di Cavalcanti e Santa Rosa no Brasil. É necessário falar mais alguma coisa? As cores quentes de seu país tropical, renderam-lhe o adjetivo dado por A. Lhote de "colorista" . Realmente as obras de Sörensen são poesias coloridas de uma vibração e intensidade sem paralelo. Suas pinceladas generosas, rápidas e nervosas, com precisão de quem conhece o ofício de pintor, retratam uma arte figurativa, cheia de paisagens, marinhas, casarios e naturezas mortas, muitas delas carregadas de flores multicoloridas, como a reproduzida acima, dentro de um ambiente artístico onde a abstração era (e ainda é) a "coqueluche" da intelectualidade, sem que isso o fizesse menor. Sua arte é densa, cheia de vida e calor. Experimentou também a geometrização, talvez resquício da convivência com o mestre Lhote, mas sem abrir mão daquilo que mais prezava em seus quadros: a cor.

Produziu também murais(junto com Di Cavalcanti) tapetes, cerâmicas e assemblages, estas últimas inclusive, com um "sotaque" de vanguarda de quem preza a liberdade e busca novas formas de expressá-la.

Participou de várias exposições individuais e coletivas, destacando-se a sala paralela da Bienal de São Paulo de 1963, e suas obras estão presentes em museus e coleções brasileiras importantes.
Faleceu em fevereiro de 2008 deixando saudades e um legado de alegria constante, irradiada pela luz sublime que emana de seus quadros, repletos de Brasil, de poesia, de calor e cor, muita cor.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Gilberto Salvador - Um Mestre Contemporâneo

Há muito que admiro o trabalho de Gilberto Salvador, mais precisamente desde o início da década de 80, logo após o artista ter exposto seus trabalhos na Galeria Projecta, da qual meu sogro, José Luiz Pereira de Almeida, era sócio. Me impressionei desde o princípio com a precisão de execução de obras que "navegavam" pela Pop Art, mas sempre externando uma preocupação do artista com os aspectos sociais e também ecológicos do mundo que o cercava. Talvez um neo-figurativismo que evoluiu aos poucos, chegando a uma abstração onde a bidimensionalidade deixou de ser suficiente para que o artista expressasse todo o seu sentimento de liberdade. E como bem escreveu Jacob Klintowitz em seu livro sobre o artista: "O tema permanente de Gilberto Salvador é o diálogo entre oposições: formas inogârnicas e orgânicas, geométricas e barrocas, estático e movimento". São geralmente obras que nos levam à reflexão e nos transportam a cenários imaginários, onde o deleite se torna inevitável, não só pela temática mas também, e principalmente, pela fatura impecável.


Gilberto Salvador -"Solar Composto", 80x180 cm, datada de 1999

Além de artista plástico dos mais completos, Gilberto Salvador é arquiteto e professor universitário. Em complemento às obras que produziu, levou também suas idéias e conceitos em palestras e conferências proferidas no meio artístico brasileiro. Seu espírito é inquieto, seu instinto criador é fértil e seu trabalho é de artesão dedicado. Em seu ateliê extremamente profissional e organizado, dá asas à imaginação realizando obras delicadas e bem elaboradas, ricas em detalhes que espelham sua maestria: do papel artesanal para as gravuras ao fino acabamento de suas pinturas, passando pelos recortes, colagens e densos depósitos de pigmentos de seus quadros e elementos que tangem ao escultórico, buscando a tridimensionalidade tão almejada desde os primórdios. Como escultor, realizou obras importantes, uma das quais, com o título de "O Vôo de Xangô", está na Estação Jardim São Paulo do Metrô da capital paulista.

As obras de Gilberto Salvador já integram os acervos de importantes coleções particulares e museus como o Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Álvares Penteado, o MASP - Museu de Arte de São Paulo, MAM SP -Museu de Arte Moderna de São Paulo e a Pinacoteca do Estado de São Paulo entre outros.

Entre as suas inúmeras exposições individuais e coletivas, destaque para a Bienal de São Paulo(67,77 e 91) e a Bienal Iberoamericana de Arte no México(98).

A partir de 12 de Setembro de 2009, acontece a "Gênesis no Museu da Casa Brasileira", exposição reunindo 30 peças tridimensionais de Gilberto Salvador, organizada por sua esposa e marchand, Ana Claudia Roso, com lançamento conjunto de um livro sobre a exposição e o artista. Vale a pena visitar pois Gilberto Salvador é sem sombra de dúvida um dos grandes nomes da arte contemporânea brasileira.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Salão da Hebraica em São Paulo

Vai do dia 18 ao dia 23 de Agosto o 16o. Salão da Hebraica, realizado no Salão Marc Chagall do "Clube A Hebraica" de São Paulo, que geralmente reúne galerias, escritórios de arte, antiquários e joalheiros de peso do Brasil. Existe arte e antiguidades de todos os tipos e para todos os gostos. Este ano contará também com uma sala especial em homenagem ao Ano da França no Brasil, organizada por Claudio Valério Teixeira e Max Perlingeiro, que com certeza tem tudo para ser magnífica.
Haverá também uma exposição em homenagem a Zanine Caldas, com curadoria de Luiz Octávio Louro Gomes, colococando ainda mais em evidência as peças de design. Atualíssimo.

Dentre os participantes, gostaria de citar um nome que cresce cada vez mais na arte contemporânea que é o do mineiro Murilo Castro. Murilo tem feito um trabalho muito bonito, de valorização e divulgação de novos talentos da arte brasileira, ação indispensável para que haja renovação e busca por um novo espírito de vanguarda. Entre as obras que serão apresentadas pela galeria, está o trabalho reproduzido abaixo "Grande Pássaro Mãe", de autoria de Mestre DIDI, cujas obras estão sendo muito procuradas e já frequentam os melhores leilões do país. Vale a pena a visita.

O Salão Marc Chagall fica na Rua Dr. Alberto Cardoso de Melo Neto, 115 nos Jardins em São Paulo. Considero o evento imperdível. Nos encontraremos por lá.

sábado, 8 de agosto de 2009

Leilão de Agosto da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro

No próximo dia 20 de Agosto, na Rua Oscar Freire, 379, no coração dos Jardins em São Paulo, será realizado o leilão de Agosto da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro, sem dúvida o mais tradicional leilão de arte do Brasil, e sempre um dos mais esperados. A seleção das obras dos leilões da Bolsa é uma das mais criteriosas, e sempre apresenta uma gama de boas oportunidades. Neste leilão, por exemplo, destaques para os contemporâneos, abstratos e concretos, onde nomes como Beatriz Milhazes, Barsotti, Ianelli, Franz Weismann e Bandeira entre outros, propiciam ao colecionador a chance de adquirir belos exemplares.

Quanto aos modernos, destaque para Di Cavalcanti, onde a deliciosa "Paisagem", reproduzida abaixo, é uma das obras do mestre "perfeito carioca" que será colocada à venda com estimativa de R$ 120.000 a R$ 180.000.


O leilão oferecerá ainda obras de Pancetti, Portinari, Tarsila, Bonadei e Djanira entre muitos outros artistas, que justificam uma visita e uma consulta ao catálogo, que está "on line" no site www.bolsadearte.com . É sempre bom lembrar que as obras comercializadas pela Bolsa de Arte, passam a ser, quase sempre, referências no mercado, aumentando ainda mais a importância do evento. Bom leilão!

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Leilão de Agosto da Pro Arte em São Paulo

No próximo dia 10 de Agosto será realizado o leilão de arte da Pro Arte em São Paulo, que fica na Gabriel Monteiro da Silva, 1644, nos Jardins. Destaque para obras de Di Cavalcanti, Arcângelo Ianelli, Tomie Ohtake e Clóvis Graciano entre muitas outras, dentro de uma seleção de muito bom gosto.


A obra reproduzida abaixo, "Músicos" de Clóvis Graciano, pertencente a uma das melhores fases do artista, e que com certeza será disputada no leilão, é a que nos chega no convite.


O caro leitor pode ter acesso ao catálogo "on line" através do site http://www.proartegaleria.com.br/ . E não hesite em dar uma passada pelo leilão na próxima segunda-feira, pois sempre haverá uma boa oportunidade. Boas compras!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Bruno Giorgi - Um Escultor do Modernismo Brasileiro


Na última postagem, falamos um pouco de Alfredo Volpi e suas badeirinhas, caminhando de forma bem superficial pela evolução de seu processo criativo. Dentro deste processo, uma figura que teve grande importância, e que merece um comentário específico é Bruno Giorgi, um dos nossos maiores escultores modernistas, cuja amizade com Volpi só foi interrompida pela morte.

Nascido em 1905 em Mococa, no estado de São Paulo, esse filho de imigrantes italianos, começou seus estudos artísticos pela dec. 20 em Roma, para onde a família havia se mudado, na Academia de Belas Artes, mas foi apenas em meados dec. de 30 que Bruno Giorgi se aproximou mais da atividade artística, em meio ainda a uma conturbada vida de ativista político, que lhe rendeu inclusive prisão e extradição da Itália. Após breve passagem pelo Brasil, volta à Europa e estava em Paris em 1937, em função de suas atividades políticas de conspiração contra o regime fascista italiano, quando começou a frequentar os ateliês livres da Grand Chaumière em Montparnasse e Ranson, onde assiste as aulas de modelo vivo com Aristide Maillol, que se tornou seu grande ídolo. É dessa época também o contato com o escultor e ex-assistente de Rodin, Charles Despiau. Em 1938 e 1939, já tem trabalhos expostos no Salão da Tulherias e no Salão de Outono da capital francesa. Em 1940, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, volta ao Brasil acompanhado da esposa, Giuliana e do irmão Cesare.



Bruno Giorgi - Estudo para escultura
Morando em São Paulo, frequenta o Palacete Santa Helena e participa da Família Artística Paulista, solidificando a amizade com Joaquim Lopes Figueira Jr. e principalmente com Volpi, que conheceu em seu breve retorno de 1936. Começa a frequentar assiduamente o meio artístico paulista e brasileiro, participando de exposições em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Amplia o leque de amizades, travando conhecimento e expondo em conjunto com nomes como Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Rebolo, Brecheret, Tarsila e muitos outros. Com a amizade e o apoio de Mario de Andrade e outros intelectuais e críticos de arte, ascende, de forma justa, a um dos mais altos conceitos dentro da escultura brasileira.
Realizou muitas exposições, individuais e coletivas, no Brasil e no exterior, incluindo as Bienais de São Paulo e de Veneza, conquistando renome internacional. Realizou uma série de esculturas para Brasíia em 1959/1960, onde a obra "Candangos" , reproduzida abaixo, é um dos símbolos da cidade.

Bruno Giorgi - "Candangos" Fonte: O Globo
As obras de Bruno Giorgi estão hoje presentes em importantes museus no Brasil e no exterior e são disputadas por colecionadores de todo o mundo. Seus torsos, meteroros, labaredas e também propriamente os candangos, são presença obrigatória na relação de todos aqueles que querem formar uma boa coleção. Estarão sem dúvida adquirindo obras de um dos maiores artistas do modernismo brasileiro e internacional. Bruno Giorgi faleceu vítima de problemas cardíacos em 1993 no Rio de Janeiro, local que o acolheu carinhosamente como filho e morador na dec.50, inclusive outorgando o título de "Cidadão Carioca" ao paulista "vero italiano", da pacata "ma non tropo" Mococa.

sábado, 25 de julho de 2009

Alfredo Volpi e as bandeirinhas

Recentemente tive a oportunidade de visitar a filha do grande pintor Alfredo Volpi, D. Eugenia. Tive uma emoção muito grande por poder pisar num "solo sagrado" da pintura brasileira, que é a casa do pintor no bairro do Cambuci em São Paulo. Lá foi possível também ter contato com algumas obras do artista, daquelas que só vemos em livros, de vez em quando em exposições e raramente no mercado.

Quadros ainda figurativos, como o reproduzido abaixo, Retrato de Hilde Weber, uma vez vistos pessoalmente, e mais, quando estudados nos detalhes, nos ensinam muito sobre o trabalho e a obra de Alfredo Volpi.

Volpi era, além de um grande artista, um grande artesão e trabalhador. Fazia o que gostava e gostava do que fazia. Isso é perceptível em cada detalhe de seus quadros. A evolução de sua obra ao longo de sua carreira, mostra como a visão que o artista tem do mundo se transforma com o tempo, e o que das impressões que o meio lhe causam são transportadas para as telas. No caso de Volpi, o seu compromisso maior acabou sendo com a cor. A geometria obtida com as chamadas "bandeirinhas", foi o estágio final de uma linguagem que buscava transmitir sensações cromáticas equilibradas ao observador. A bem da verdade, só o próprio artista sabia no seu íntimo o que realmente via e buscava nas suas telas. As bandeirinhas eram na verdade, quadrados ou retângulos dos quais se tiravam um triângulo. Seus arcos talvez fossem estágios finais de uma visão dos arcos das portas de suas fachadas, que por sua vez foram paisagens e casarios que aos poucos perderam a perpectiva e ganharam representação em apenas duas dimensões. Uma vez questionado sobre as bandeirinhas que pintava, exclamou:"Mas eu não pinto bandeirinhas. Quem pinta bandeirinhas é o Pennacchi". Desta expressão podemos obter muitas respostas para entender quem foi Alfredo Volpi.
Muitas das pessoas que hoje conhecem ao menos o nome Volpi, o relacionam diretamente com as tais bandeirinhas, e não tem conhecimento do longo caminho trilhado pelo artista, que começou pintando figuras e paisagens em pedaços de papelão e tampas de caixas de charuto, como a reproduzida abaixo, possivelmente pintada em Itanhaém, na qual se percebe a maestria de execução. Pinceladas rápidas, precisas e com impasto generoso, extraindo da paisagem todas as impressões que lhe agradavam, com uma qualidade alcançada por poucos. Realmente coisa de mestre.
Na verdade, para os mais desavisados, é difícil estabelecer uma relação entre as paisagens e por exemplo a obra abaixo reproduzida, Menino Jesus com o globo na mão, onde a figura e a geometria se misturam.


Se na comparação acima é difícil perceber uma relação, na fachada abaixo, a simplificação comentada é patente, e também mostra uma etapa na evolução da obra de Alfredo Volpi, onde a cor ganha maior importância e se sobrepõe à forma.


Nos elementos circulares abaixo, podemos perceber, talvez como já comentado, uma forma simplificada de ver os arcos das portas de suas fachadas, onde novamente o que importa é a cor e o equilibrio cromático da composição. Apesar da assimetria das formas, a obra é perfeitamente equilibrada e não "pende" para nenhum dos lados.




E por fim, uma de suas composições com bandeirinhas, o seu estágio final, pelo qual Volpi se tornou mundialmente conhecido. Nesta obra, chamada de "Ogiva" vê-se o coroamento de uma carreira de mais de 70 anos de pintura, de um artista que amou intensamente o que fez e deixou um legado de trabalho expresso em telas, hoje muito disputadas por colecionadores do Brasil e do exterior.
Volpi é sem sombra de dúvida, um dos maiores artistas que este Brasil já viu, e sua obra, mesmo já tendo sido tão estudada, ainda com certeza merecerá novas análises, pois o conteúdo pictórico e o repertório de criação que carrega é quase que inesgotável.

domingo, 19 de julho de 2009

Leilão Renot de Agosto 2009

Quero pedir desculpas aos meus leitores habituais pela ausência de novas postagens nos últimos dias. Tivemos problemas técnicos de conexão em função de um temporal há quase um mês, que só foram possíveis de se solucionar esta semana. Felizmente estamos de volta com informações na área das artes plásticas em geral.

Recomeçamos com alguns detalhes sobre o próximo leilão do Renot, que ocorrerá no próximo dia 3 de Agosto em São Paulo. Destaque para o Aldemir Martins reproduzido abaixo, "Vaso de Flores", um óleo de 1949, que participou da exposição no Masp, está reproduzido no livro "Aldemir Martins por Aldemir Martins" e tem estimativa entre R$ 80 e R$ 90 mil.



Outro destaque é o enorme óleo(1,87x2,10m) de Mario Gruber reproduzido abaixo, "Três músicos", de 1972, cuja estimativa é de R$ 60 a R$ 80mil, e que fala por si.


O leilão está ainda rechedo de boas peças de artistas como Cícero Dias, Arcângelo Ianelli, Ismael Nery e Manabu Mabe entre muitos outros. Vale a pena conferir. O leilão será nas dependências da galeria, que fica na Alameda Ministro Rocha Azevedo, 1327, nos Jardins em São Paulo. Mais informações no site www.renot.com.br e boas compras.

domingo, 28 de junho de 2009

Sotheby's London - Resultado do leilão

No último dia 24 de junho, foi realizado em Londres pela tradicional casa de leilões Sotheby's, o leilão de arte impressionista e moderna, com um total de vendas de 33,531 milhões de libras esterlinas, quando 23 dos 27 lotes oferecidos foram vendidos. A tendência continua sendo menor quantidade e maior qualidade. Uma das sensações da noite, o Picasso "Homme à l'Epée", foi arrematado por nada menos que 6.985 milhões de libras esterlinas, algo em torno de 13,8 milhões de dólares americanos.

Os impressionistas, para não fugir à regra observada nos últimos leilões, tem sido muito procurados, principalmente por estarem com estimativas relativamente mais baixas às encontradas no período pré-crise financeira internacional. Em minha opinião, o resultado deste leilão mostra isso. O Monet reproduzido abaixo "Route de Giverny en Hiver", uma belíssima execução de 1885 é um bom exemplo. Ele foi arrematado por 3,849 milhões de libras esterlinas, dentro de uma estimativa inicial que situava o valor da obra entre 3 e 4 milhões de libras.
Outro quadro impressionista que na mesma noite superou as expectativas foi o Renoir "Nature Morte - Fleurs et Fruits"(ver abaixo), que de una estimativa inicial entre 1,5 - 2,5 milhões de libras, saltou no arremate para 2,841 milhões de libras esterlinas.

O resultado geral do leilão foi razoável para o momento que atravessamos. Obras de Giacometti, Paul Signac, Magritte, Leger e outros, trocaram de mãos por cifras razoavelmente altas, dentro ou acima das estimativas, o que continua mostrando a seletividade praticada pelos colecionadores com a atual conjuntura. Acredito que com a diluição da crise ao longo dos próximos meses, não só a liquidez será melhor como também os preço devem voltar a subir. Com os grandes magnatas da Rússia e do oriente em aparente "hibernação", o mercado tem tudo para uma nova reação quando eles "acordarem" em futuro breve. É esperar para ver.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Sergio Telles - O diplomata da cor

Sempre tive uma admiração muito grande pelo trabalho de Sergio Telles, que além de artista foi diplomata de carreira, o que lhe permitiu viajar pelo mundo, acompanhado do cavalete, e registrar cenas maravilhosas, de um colorido quase sempre vibrante, que nos faz remontar aos "Fauves" franceses, até mesmo a Pissarro quando o assunto é Paris. Algumas obras passam por Kokoshka segundo alguns, e eu também vejo Valtat, Marquet, Matisse, Bonnard e Vuillard em muitas delas. Tudo isso só contribui para afirmar que Sergio Telles é um digníssimo membro da Escola de Paris, e o mais importante, reconhecido pelos prórpios franceses. Da minha parte, sou verdadeiramente "apaixonado" por algumas obras deste grande pintor. Uma delas, que está no livro/catálogo da exposição que Sergio Telles fez na Galeria Wildenstein, uma vista de Lisboa pintada em 1968, sempre me tira o fôlego e me faz sentir o calor do sol poente da capital portuguesa, através das pinceladas rápidas, nervosas e precisas, de "impasto" generoso, coisa de quem conhece o ofício de pintor, numa execução de raro talento. Pena a reprodução do livro abaixo não ser das melhores, mas permite ao leitor captar muito do clima transmitido pelo artista nesta obra magnífica.

Sergio Telles é também desenhista e gravador de primeira. Editou pela Wildenstein álbuns de águas-fortes, serigrafias e litografias, como "Portugal", "Póvoa do Varzim" e " A festa do Mangue". Nas pinturas, retratou, entre outros lugares, Paris, cidade onde viveu por muitos anos, Portugal, Itália, Bélgica, Holanda, Espanha, Uruguai, Argentina e o Brasil quase que de "cabo a rabo". Pintou em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Pará e Amazonas. A série de pinturas realizadas em Porto Seguro mereceram inclusive um livro com textos de Jorge Amado. Quanto aos motivos, paisagens, naturezas mortas e cenas de interior foram tratados com maestria pelas impacientes e hábeis mãos do pintor.

O artista completou em Abril de 2009, 73 anos de uma existência rica e extremamente produtiva. Sergio Telles trabalhou em quase tudo, pintou de tudo, viajou o mundo e deu às nossas vidas um novo colorido. Sua obra cheia de vigor e cor, nos faz sentir frio ou calor, ou ouvir os sons e burburinhos do Sena e seus transeuntes, ou do mar e seus banhistas inundados pela luz, de um sol para sempre a brilhar, agradecido aos pincéis de um artista que pinta o que gosta e gosta de pintar.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Obras de arte roubadas, recuperadas

Neste mês de junho, já tivemos algumas notícias de obras roubadas há vários anos e que foram recuperadas. Uma delas foi o Renoir reproduzido abaixo, entitulado "Oedipus Rex", uma pequena tela aparentemente datada de 1895 e com dimensões de 30cm x 29cm, que havia sido roubada em Roma, de um colecionador particular em 1984. A tela foi encontrada na casa de um outro colecionador na região de Treviso na Itália.



Fonte: O Estado de São Paulo - Ag. Estado.

Outra pintura roubada desde 2002 que reapareceu em um leilão na região dos Jardins em São Paulo esta semana, foi o Volpi reproduzido abaixo, Vaso de Flores, que foi levada à época por assaltantes, da coleção Mastrobuono de São Paulo. A trilha percorrida pela obra será agora refeita, como tentativa de se chegar aos criminosos. Estes dois casos, principalmente o ocorrido no Brasil, demonstram a necessidade de talvez se tornarem públicas as informações sobre obras roubadas, para evitar que comerciantes sérios sejam iludidos por pessoas que forjam informações sobre procedência de obras de arte. Com a Internet à disposição de todos, talvez não fosse difícil. Existem alguns sites que já tentam fazer uma compilação, pricipalmente no exterior, onde a Interpol mantém, de forma atualizada, um banco de dados com obras roubadas.

Fonte da imagem: site ACLO


Fica aqui a sugestão para a realização de um banco de dados de obras roubadas no Brasil. Claro, que deverá haver a boa vontade dos agentes do mercado, caso contrário, continuaremos sujeitos a surpresas como as descritas acima, nem sempre agradáveis. Acredito que ajudaria a todos.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Picasso na Sotheby's London


No próximo dia 24 de Junho, ocorrerá na Sotheby's Londres mais um leilão de arte impressionista e moderna. Uma das estrelas da noite será o Picasso reproduzido acima"HOMME À L'ÉPÉE" ( Homem com espada), um óleo sobre cartão de grandes dimensões( 1,46m x 1,14m) executado em 1969, que irá a leilão com estimativa entre US$ 9,8 - 13,0 milhões.
O evento contará ainda com obras de nomes de peso da pintura mundial como René Magritte, Paul Signac, Alberto Giacometti, Henri Matisse e Wassily Kandinsky entre muitos outros. Entre os impressionistas fundadores do movimento, salientamos as obras de Claude Monet "Route de Giverny en hiver", com estimativa de US$ 4,5 - 6,0 milhões, e Pierre-Auguste Renoir, onde a obra "Nature Morte Fleurs et Fruits", executada em 1889 e de um colorido espetacular, tem estimativa de US$ 2,5 - 4,0 milhões.

É difícil fazer um prognóstico dos resultados, mas se depender das últimas vendas realizadas em Nova York, podemos dizer que os impressionistas serão vendidos, pois suas estimativas estão relativamente baixas se comparadas com o início de 2008, antes da eclosão da crise financeira mundial. Quanto às obras de Picasso, lembramos que algumas "encalharam" recentemente nas vendas novaiorquinas, com isso, se a flexibilidade de valor for menor, é provável que os possíveis interessados migrem para outros artistas. Vamos aguardar os resultados, esperando que o pessimismo não ronde a sala de leilões londrina.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Arte Latinoamericana na Sotheby's New York

Acabou de ocorrer o leilão de arte Latinoamericana da Sotheby's de Nova York. Não dá para dizer que foi um sucesso, infelizmente. Algumas das obras mais importantes do evento não foram arrematadas, como a obra que foi capa do catálogo "Chiki, Ton Pays" de Leonora Carrington, cuja estimativa entre US$ 1,2 e 1,6 milhão deve ter assustado os possíveis interessados. Nota favorável a alguns dos artistas brasileiros presentes no acervo ofertado, como por exemplo Cândido Portinari, cuja obra "Cangaceiro", já apresentada em postagem anterior e que possuia estimativa entre US$ 80 e 100 mil, que foi arrematada por US$ 314.500, aliás, resultado já esperado por este blog. O desempenho das obras de Portinari em termos de preços em leilões internacionais, em nossa opinião, ainda está longe do patamar de estabilidade e , salvo tempestades imprevistas, deve aumentar muito em futuro breve. Tudo fruto do sério trabalho de catalogação realizado pelo Projeto Portinari, que permitiu ao mundo da arte uma melhor visualização e compreensão da obra do artista.

Outro artista brasileiro cuja obra não refugou diante das dificuldades e incertezas do mercado de arte internacional foi Cildo Meireles, que teve a técnica mista "Jogo da Velha Série C3B", reproduzida abaixo, vendida por US$ 98.500, diante de uma estimativa inicial de US$ 60 a 80 mil.



De maneira geral, o resultado do leilão, que faturou um total de US$ 9.442.625, com aproximadamente 60% dos lotes vendidos, deixou a desejar. Obras de artistas de peso como Wifredo Lam, Siqueiros entre outros notáveis, não encontraram comprador. O fato provoca ao menos a reflexão: consequência da crise ou baixa qualidade das obras oferecidas?

Quanto a nós brasileiros, continuamos esperando um trabalho de divulgação sério de nossa arte, que com certeza tem muito a oferecer ao mundo. Até a próxima.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Arcângelo Ianelli - O adeus ao mestre

Morreu ontem em São Paulo aos 86 anos, Arcângelo Ianelli, um dos maiores nomes história da arte brasileira recente. Nascido em São Paulo em 1922, ano da Semana de Arte Moderna que de alguma forma revolucionou as artes no Brasil, Ianelli começou a pintar na dec. de 40, quando recebeu os primeiros ensinamentos de Colette Pujol. Participou do Grupo Guanabara, do qual foi um dos fundadores, e juntamente com artistas como Sophia Tassinari e Fukushima, pintou as várzeas e arredores de São Paulo, iniciando-se num figurativismo de desenho preciso e colorido equilibrado, que ao longo de sua carreira foi se transformando numa abstração geométrica, a qual na sua última fase se reduziu a estudos cromáticos de valor das cores, onde as obras mostravam "vibrações", aliás, palavra título de algumas delas. Ao longo de sua extensa carreira, chegou a pintar com Pancetti na Bahia e com Mario Zanini em Itanhaém, mas o que mais importava era a amizade que os ligava. Ianelli era amigo de todos.


Arcângelo Ianelli em seu ateliê. Fonte: Folha de São Paulo - Cristina C. Branco

Já há muito tempo que Ianelli vinha sendo homenageado pela sua magnífica obra. Inúmeras foram as exposições retrospectivas, com destaque para as que se deram na Pinacoteca do Estado de São Paulo em 2002 e do MAB FAAP em 2004. Nesta última, com o nome "Os Caminhos da Figuração", com curadoria dos filhos do artista Kátia e Rubens, foi mostrada de forma consistente, parte da transição que a obra do artista sofreu ao longo dos anos, caminhando para a abstração. O belíssimo catálogo editado à época é, inclusive, peça indispensável na biblioteca de quem admira o artista.


Arcângelo Ianelli foi além de pintor um desenhista e gravador de primeira. Sua obra contém além de telas e obras em papel algumas colagens e técnicas mistas como a reproduzida acima da dec. de 70, que apresentam resultados surpreendentes apesar da simplicidade de execução. Foi um mestre e seu reconhecimento só tende a aumentar, pois como homem discreto e humilde, nunca fez muita questão de publicidade. A fama veio pela qualidade do trabalho realizado. Um trabalho de artesão, executado com cuidado e amor nos mínimos detalhes.
A curadoria da obra do artista está hoje a cargo de Kátia Ianelli, filha do artista, a quem também nos unimos, e aos demais familiares, neste momento de tristeza pelo passamento deste grande homem e artista que foi Arcângelo Ianelli mas, com a certeza de que lá no céu sua obra continua, pois, como ele mesmo disse: "Não há morte para os que delegam ao objeto da criação o poder da vida". Saudades de Ianelli.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Bolsa de Arte do Rio de Janeiro - Leilão de Maio II


No próximo dia 23 de Maio de 2009, realizado o leilão de Design, Fotografia e Arte Contemporânea pela Bolsa de Arte do Rio de Janeiro. Neste leilão, cujo catálogo possui formato diferenciado, a maior parte das peças são móveis de design, assinados por grandes nomes como Sergio Rodrigues, Geraldo de Barros, Zanine, Tenreiro e muitos outros. Quanto às fotografias, uma excelente seleção com nomes como Miguel Rio Branco, Elliot Erwitt e Martin Parr entre mais alguns de renome internacional. Na arte contemporânea estão presentes entre outras, obras de artistas consagrados como Jeff Koons, Damian Hirst, Palatnik, Rubem Ludolf, Leonilson e Beatriz Milhazes, autora da serigrafia reproduzida acima, "Serpentina", que possui estimativa de R$ 60.000 a R$ 80.000. O leilão será na R. Oscar Freire, 379 em São Paulo e vale a pena conferir.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Bolsa de Arte do Rio de Janeiro - Leilão de Maio

No próximo dia 19 de Maio teremos em São Paulo, na Rua Oscar Freire, 379, o leilão da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro, que é sem dúvida o mais tradicional dos grandes leilões brasileiros.


Nesta edição de Maio de 2009, destaque para a "Coleção São Francisco", um belíssimo acervo de obras sobre o santo de Assis, executados por vários artistas como Vicente do Rego Monteiro, Bonadei, Reynaldo Fonseca, Pennacchi, Cícero Dias e mais alguns, cuja estimativa está entre R$ 550 e 650 mil.


A se ressaltar também uma seleção de bom gosto de obras de Di Cavalcanti, principalmente os desenhos das décadas de 20 e 30, onde o pastel "Melindrosa", executado na dec.20 e cuja estimativa está entre R$ 450 e 550 mil é o destaque.


Outro artista de destaque do leilão é Cícero Dias cuja obra "Paisagem com figuras", reproduzida abaixo, um óleo onde toda a poética do grande pintor pernambucano está presente, será ofertada com uma estimativa de R$ 200 a 250 mil.

Além das obras comentadas, o leilão conta ainda com uma bela seleção de obras de artistas modernos como Portinari, que comparece também com um Cangaceiro, e Pancetti entre outros. Artistas contemporâneos como Tunga, Leda Catunda e mais alguns também estão presentes e requerem a atenção do leitor que deseja fazer algum bom negócio. Acreditamos que será um sucesso e que ajude a mandar embora os ventos de crise que ainda sopram por aqui.

Sotheby's New York - Arte Latinoamericana

Nos próximos dias 27 e 28 de Maio, ocorrerá em Nova York o leilão de arte latinoamericana da Sotheby's.

Destaques, como sempre, paras obras de artistas mexicanos como Diego Rivera, Rufino Tamayo, Leonora Carrington, David Alfaro Siqueiros e outros como o cubano Wifredo Lam, o uruguaio Torres-Garcia, o colombiano Botero e mais alguns contemporâneos. Dos 216 lotes ofertados, apenas seis obras de artistas brasileiros estão presentes e entre elas um "Cangaceiro", reproduzido abaixo, de Cândido Portinari, pintado em 1956, mesmo ano da obra roubada e recuperada em São Paulo recentemente. A pintura, com dimensões aproximadas de 54cm x 45 cm está no catálogo com estimativa de US$ 80 a 100 mil dólares. Temos que concordar que é uma pechincha. Obras como essa aqui no Brasil estão cotadas no mínimo pelo dobro do preço.

O que tento entender é o fato de apenas algumas poucas obras de artistas brasileiros participarem do leilão, aliás como sempre tem acontecido. Acredito que seja por falta de divulgação de nossos principais artistas, que com isso não têm a atenção despertada por parte dos colecionadores internacionais. Entre os brasileiros representados estão também Di Cavalcanti, Mira Schendel e Cildo Meireles. Muito pouco pela qualidade que nossa arte brasileira apresenta. Comentaremos depois os resultados.

Portinari e Tarsila - Obras recuperadas

Aos amigos leitores, uma postagem curta mas reconfortadora: As obras de Portinari, Trasila e Teruz, roubadas no último Domingo e da qual trata a postagem abaixo e amplamente divulgada pela imprensa, já foram recuperadas. Elas foram abandonadas na madrugada desta quarta-feira nas proximidades dos estúdios da TV Record, no bairro da Barra Funda em São Paulo, e a polícia chegou até elas depois que um telefonema anônimo avisou o pessoal da emissora onde estariam as obras.

Pelas informações iniciais as peças não sofreram grandes danos e acredito que os ladrões perceberam a situação complicada em que se meteram. Não iriam conseguir vender essas pinturas a ninguém.

Começamos o dia muito bem. Até a próxima!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Portinari e Tarsila roubados em São Paulo

Duas obras de Cândido Portinari e uma de Tarsila do Amaral foram roubadas ontem, 10 de maio de 2009, da residência da Sra. Ilke Maksoud, nos Jardins em São Paulo. Tudo leva a crer que o roubo foi por acaso. A quadrilha, aproximadamente 15 homens, entrou na casa depois que um dos assaltantes, se fazendo passar por entregador de flores, fez com que o vigia abrisse a porta da residência possibilitando assim a invasão. Aparentemente, o bando queria apenas dinheiro e jóias e pelo visto, não tendo encontrado aquilo que esperavam, para não "perder a viagem", levaram as obras de arte. Pelos relatos, uma quarta obra, de autoria de Teruz, também foi levada.

Ponto triste foi como trataram as pinturas. Com um instrumento de lâmina afiada, cortaram as telas e as arrancaram das molduras, tudo indicando que seriam enroladas. Se fizeram isso no quadro Cangaceiro de Portinari, reproduzido abaixo, os danos serão enormes pois é uma obra na qual Portinari usou de um "impasto" intenso, muito característico dos anos 50.




O outro Portinari, reproduzido também abaixo, Retrato de Maria, executado na década de 30, possui execução com menos material depositado o que pode fazer com que se conserve melhor e resita aos maus tratos.


O quadro de Tarsila que foi roubado, é Figura em Azul, de 1923, pintado quando da permanência da pintora em Paris, antes até de frequentar o ateliê de Fernand Leger. É uma peça importante pois foi pintada em uma fase imediatamente posterior à Semana de Arte Moderna, da qual Tarsila não participou diretamente mas de cujos ideais comungava plenamente.


As obras roubadas tiveram seus valores estimados em R$ 3,5 milhões, e em minha opinião, vai ser difícil os ladrões acharem algum comprador para elas, mesmo no chamado "mercado negro". Espero mesmo que esses indivíduos, a partir do alarde realizado pela imprensa, se arrependam e devolvam as pinturas, que no caso em questão, mais que bens de valores estimáveis, são patrimônio da humanidade que correm o sério risco de se perderem por maus tratos e falta de cuidados. Rezemos para que sejam recuperadas em bom estado.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Christie's New York - Resultados do leilão de arte moderna e impressionista

Ontem ocorreu o leilão de Arte Moderna e Impressionista de Christie's de Nova York. Desta vez quem brilhou foi Picasso, onde cinco telas do pintor foram vendidas, sendo a mais cara delas a obra "Mousquetaire à la pipe" de 1968, reproduzida abaixo, que foi arrematada por nada menos que US$ 14,6 milhões, quando a estimativa inicial era de US$ 12 - 18 milhões.


As vendas totais alcançaram a nada desprezível soma de US$ 102,7 milhões, quando 39 dos 50 lotes colocados à venda foram vendidos(78%). Várias obras alcançaram preços extraordinários como o pastel de Edgard Degas "Aprés le bain, femme s'essuyant", que foi arrematado por US$ 5,9 milhões e a obra "Portrait de Madame M." de Tamara de Lempicka, que foi vendida pelo valor de US$ 6,13 milhões.

Interessante notar que algumas obras de mestres impressionistas, da mesma forma como já ocorrera na Sotheby's no dia anterior, foram vendidas por preços bem acima de suas estimativas iniciais, indicando uma boa disputa e que talvez estejamos certos, quando dos comentários feitos sobre o leilão ocorrido na Sotheby's. Podemos citar como exemplo a obra de Camille Pissarro reproduzida abaixo, "La cuillette de pommes", que de uma estimativa inicial de US$ 1,4 a 1,8 milhões, foi vendida por US$ 3,33 milhões.


O que reforça nosso argumento da procura de qualidade por preço conveniente é que obras de artistas como Matisse, Gauguin, Gros e até pré-impressionistas como Corot, encontraram compradores, sendo que alguns deles até com boa disputa. Será interessante esperar e ver também como serão os leilões de arte latinoamericana das duas maiores casas, Sotheby's e Christie's, previstos para o final deste mês de maio. Temos a esperança de que os colecionadores internacionais voltem suas atenções para a arte latinoamericana, ainda, em minha opinião, pouco reconhecida dentro do contexto internacional do mercado de arte. A alta qualidade e importância histórica das obras latinoamericanas falar por si. Vamos aguardar.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Resultados do Leilão da Sotheby's New York

Ontem ocorreu em Nova York, o leilão de arte impressionista e moderna da Sotheby's, a tão esperada "evening sale", com as obras consideradas de maior importância e preço. Infelizmente, a estrela da noite e capa do catálogo, a pintura de Pablo Picasso "La fille de l'artiste à deux ans et demis avec un bateau" não foi arrematada. Outra peça cara da noite, uma escultura de Alberto Giacometti, "Le Chat", que possuía a mesma estimativa do Picasso, ou seja, US$ 16 a US$ 24 milhões, também não encontrou comprador, na noite em que as vendas totais chegaram a US$ 61,37 milhões e 29 dos 36 lotes oferecidos foram vendidos(80%). Não foi nada mau, mas poderia ter sido muito melhor se as duas obras mais caras da noite, descritas acima, tivessem sido vendidas. Em compensação, as obras do quarteto base do Impressionismo, Monet, Pissarro, Renoir e Sisley, encontraram compradores e com disputa, pois seus valores ultrapassaram, e bem, as estimativas iniciais. A obra reproduzida abaixo por exemplo, "Claude Monet e Mme Henriot", de autoria de Pierre-Auguste Renoir, cuja estimativa estava entre US$ 1,5 e US$ 2 milhões, foi arrematada por mais de US$ 3,2 milhões.



Outra obra que superou em muito as expectativas, foi "Composition in black and white with double lines", de autoria de Piet Mondrian, que de uma estimativa inicial de US$ 3 - 5 milhões, saltou para US$ 9,266 milhões. O que se pode concluir é que o mercado de arte fina mundial está realmente priorizando a qualidade, mas exigindo, no mínimo, estimativas mais adequadas à situação financeira mundial. Claro que sempre existe nessa exigência um "quê" de especulação, pois que tem dinheiro para investir em arte, vai tentar fazê-lo render ao máximo, colocando um pouco as paixões de lado. Em minha opinião, o mercado está começando a apresentar uma racionalidade salutar. Como consequência, vejo que obras de pintores impressionistas estão sendo consideradas "baratas" em função de sua importância dentro do contexto da arte mundial. Outro fator que indica esta tendência, está sendo a queda apresentada nas vendas de arte contemporânea, cuja solidez ainda está por ser testada. Vamos aguardar e ver o que no que vai dar mas se o leitor quiser arriscar, acredito que se comprar uma obra impressionista ou mesmo pós-impressionista ( Marquet, Matisse e etc), dificilmente deixará de ganhar um bom dinheiro no futuro, claro, se a intenção for investimento. Se o retorno esperado da compra for a contemplação, aí o retorno é incalculável.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Camille Pissarro - Um dos pilares do Impessionismo

Camille Pissarro foi também um dos fundadores do movimento impressionista francês, e segundo alguns críticos e estudiosos, um dos mais importantes. Sua pesquisa no campo pictórico talvez tenha sido a mais intensa de todas. Não tivesse ele migrado por um certo tempo para o pontilhismo, quem sabe não fosse ele considerado o pai do movimento, juntamente com Monet. Alguns pesquisadores mesmo assim, o consideram o primeiro impressionista.

Camille Pissarro nasceu no dia 10 de julho de 1830, na ilha de Saint-Thomas no Caribe, filho de pais judeus que possuiam um estabelecimento comercial no porto de Charlotte-Amalia. Desde muito cedo o menino Camille demonstrou talento para o desenho. Passava horas, quando podia, a desenhar árvores, coqueiros e homens de chapéu "Bolivar". Em 1841, seus pais decidem mandá-lo para a França para estudar, mas ele gastava o tempo desenhando, não se importando muito com os estudos, o que lhe custou severa admoestação de seu pai. Passando seis anos na Europa, Pissarro volta para Saint-Thomas e acaba assumindo a função de controlador do negócio da família. Mesmo com tanta ocupação, os cinco anos que permaneceu na função não impediram que ele continuasse a desenhar a natureza da ilha, sempre sonhando em se tornar um pintor. Com a maioridade de Camille Pissarro, seu pai se convence de que não conseguirá fazê-lo desistir da idéia de se tornar um artista e acaba o apoiando. Após participar de uma expedição à Venezuela para documentação da paisagem, flora e fauna local, junto ao pintor Fritz Melbye, Pissarro ruma para Paris com a ajuda financeira do pai, lá chegando em 1855, poucos dias antes do encerramento da Exposição Universal. Lá, tem contato com as obras de Delacroix, Ingres, Millet, Courbet e Corot, com as quais fica deslumbrado pelas cores, o desenho e a graça das paisagens, principalmente as de Corot, que foi quem mais o influenciou. Em 1857, na Académie Suisse, conhece o jovem Monet, pintor dez anos mais jovem que ele, com o qual trava sólida amizade e verdadeira cumplicidade pictórica. Muitos historiadores da arte dizem que Monet deve muito a Pissarro e Pissarro muito a Monet. Com Monet, se juntam ao grupo Sisley e Renoir, e o quarteto é considerado pela história como sendo a base do impressionismo. Dentro da questão pictórica, talvez tenha sido Pissarro quem mais contribuiu.


Camille Pissarro - " Café au Lait" - acervo do Art Institute of Chicago

Pissarro pintou na Inglaterra, onde se estabelecera fugindo da guerra de 1870, lá reencontra Monet e vem a conhecer o marchand Paul Durand-Ruel, que logo lhe compra duas telas, aliviando as dificuldades do artista. Não é à toa que Durand-Ruel seria chamado mais tarde de o "São Vicente de Paulo dos Impressionistas".
Participa em 1874 com seus companheiros impressionistas da exposição no estudio do fotógrafo Nadar, e também recebe duras críticas, que muito o magoaram. Afinal, era um dos que mais pesquisava, experimentava e tentava captar a realidade das paisagens que pintava e não se conformava com a incompreensão do público e de boa parte da crítica. Mesmo assim, nunca parou de pintar e experimentar. Tinha um coração grande e sensível o que também fazia com que se preocupasse com os amigos, mesmo passando por sérias dificuldades materiais, como por exemplo com o pintor Guillaumin, que o tinha como um protegido. No campo pictórico, deu muitos conselhos a Cézanne, que o tinha como o maior conhecedor da técnica pictórica e a quem deve também o desenvolvimento de uma paleta espetacular.
Na década de 1880, da mesma forma como aconteceu como Monet e Renoir, Pissarro busca um novo estilo que o satisfaça, algo diferente que tranquilize seu espírito inquieto de contínua busca, experiência e aprendizado. Com isso atravessa um período pintando em estilo pontilista, com justaposição das pinceladas em forma de vírgula, decompondo os tons, algo baseado nas teorias de Chevreul, Maxwell e Road, onde as cores justapostas de um tom decomposto poderiam se fundir na retina do observador, obtendo assim o efeito visual desejado de unidade de tom. A experiência nesse estilo é relativamente curta, o que não o impediu de realizar belas obras.
Camille Pissarro "A Vista do meu jardim em Eragny"
Na década de 1890, Pissarro retorna ao estilo impressionista, com algumas obras apresentando uma execução mais suave mas com uma precisão de desenho extraordinária. As pinceladas ficam mais largas e a paleta tende à gama dos ocres. A obra reproduzida abaixo, " Horta em Eragny" é um bom exemplo desta última fase de Pissarro.

Nos últimos anos, até sua morte em 1903, Pissarro pintou em Eragny, em Dieppe e principalmente Paris, onde registrou em suas telas magnificas paisagens do Sena e algumas de suas pontes, em tons ocres a azuis suaves, de um encanto formidável.
Pissarro deixou também uma extensa obra gravada, onde em águas-fortes muito bem executadas e acabadas, registrou paisagens, cenas do cotidiano, principalmente dos camponeses, os quais fez questão de reproduzir em toda a sua rudez e naturalidade.
Hoje em dia, as obras de Camille Pissarro são destaque nos leilões internacionais e sempre disputadíssimas, o que faz com que seus preços cheguem a vários milhões de dólares. A obra reproduzida abaixo "LA VALLÉE DE LA SEINE AUX DAMPS, JARDIN D'OCTAVE MIRBEAU" é um exemplo. Foi arrematada ontem, 5 de maio de 2009, na Sotheby's de Nova York, por um pouco mais de US$ 2,5 milhões.

A certificação e catalogação da obra de Pissarro está também sob os auspícios do Wildenstein Institute de Paris, com isso já dá para imaginar a dificuldade que é para conseguir a certificação de uma obra desconhecida.

Em próximas postagens, voltarei a comentar sobre outros importantes artistas pertencentes ao movimento impressionista. Até breve!

sábado, 2 de maio de 2009

Claude Monet - O grande mestre impressionista

De todos os pintores pertencentes ao movimento impressionista, Claude Monet é sem dúvida o mais importante. Não só por ter sido um dos fundadores do movimento mas também pela fidelidade aos princípios impressionistas até o dia de sua morte, mesmo tendendo seus últimos trabalhos a uma abstração das formas.




Claude Oscar Monet nasceu em 14 de novembro do ano de 1840, na Rue Lafitte em Paris. Para tentar melhorar de vida sua família muda-se para Le Havre, onde já em 1855, aos quinze anos, Monet começa a fazer suas primeiras caricaturas, justamente das pessoas que frequentavam o porto. A habilidade do jovem artista logo foi reconhecida pela população local, que no lugar de se sentirem contrariados pelas caricaturas e a eventual zombaria que poderiam gerar, divertiam-se com elas e o incentivava comprando-as por até 20 francos cada uma. Esse pequeno sucesso permitiu ao jovem Monet juntar um pequeno "pé de meia" e mudar para Paris para estudar desenho e pintura, inclusive com incentivo dos pais, pouco tempo depois de já ter sido iniciado na pintura de paisagem pelo mestre Eugène Boudin, quando inclusive expôs em Rouen junto com seu professor o quadro "Vista de Rouelles".

Em Paris, frequentando inicialmente um ateliê livre, Monet conhece Pissarro, outro dos que viriam a se tornar um dos grandes mestres impressionistas. Sempre mais afeito às paisagens do que a outros motivos, a pintura " a plein air" o cativava e o estimulava cada vez mais. Em 1862, entra no ateliê do pintor suiço Charles Gleyre, onde conhece Renoir, Bazille e Sisley. Pronto, a base do grupo impressionista estava formada. Pintou com seus amigos pelos arredores de Paris e nas cidades vizinhas. Alguns quadros pintados por ele e Renoir são inclusive muito parecidos, principalmente os executados em Argenteuil. Expõe no Salão de Paris e arranca de Zola grandes elogios. Seu reconhecimento aumenta gradativamente, assim como suas dificuldades financeiras. Em 1870 casa-se com Camille Leónie Doncieux. Em 1874, juntamente com seus companheiros impressionistas, realiza a primeira exposição do grupo, no estudio do fotógrafo Nadar, no Boulevard des Capucines, onde expõe o quadro reproduzido abaixo, " Impression - Soleil Levant", que valeu a Monet e todo o grupo severas críticas de Louis Leroy no jornal Charivari, quando inclusive o termo "impressionista" aparece, em referência ao nome do quadro exposto.

Hoje em dia, "Impression - Soleil Levant" é um dos maiores ícones da história da arte mundial e considerada uma das obras de arte cujo valor é muito difícil de se estimar. Digamos que tem um valor incalculável.
A pintura impressionista de Monet é clara e vigorosa. Seus toques de pincel são rápidos, nervosos e precisos, captando as cenas com uma exatidão fabulosa, capaz de até ser possível de se estabelecer o horário em que a pintura foi feita. Algumas telas de séries realizadas pelo artista vinham inclusive com o momento do dia em que foram pintadas agregado ao nome. Algo importante a se salientar também, é que a qualidade de algumas obras pintadas melhorou com o tempo. Existem algumas cenas de regatas de Argenteuil que parecem ainda frescas, recém pintadas, mesmo já tendo mais de cento e trinta anos.
Em 1879, morre sua esposa Camille. Passa um período difícil mas graças a amigos colecionadores e principalmente ao marchand Durand Ruel consegue superar as dificuldades. Em 1890, adquiri a propriedade em Giverny, onde seriam pintadas as séries das famosas Ninféias, como a obra reproduzida abaixo.
Em 1891, uniu-se formalmente a Alice Hoschedé, com quem já se relacionava. Entre 1892 e 1893 pinta a famosa série da Catedral de Rouen e desde esse período até 1903, sofre muito com a perda de entes queridos como a enteada Suzanne e os pintores e amigos de juventude Sisley em 1899 e Pissarro em 1903.
De qualquer forma, continua pintando. Pintou pela França, na Inglaterra e na Itália, enquanto sua visão permitia. Perde sua companheira Alice em 1911 e acometido de catarata, em torno de 1915, começa a perder a vista gradativamente. Pinta os grandes painéis das ninféias, tendo inclusive construído um novo ateliê muito mais amplo, encorajado pelo amigo Clemenceu, para poder abrigá-los.
Com o mal da visão piorando, volta a pintar a "plein air", para que fosse possível enxergar a paisagem, e executa grandes telas, como já que num prenúncio de abstração. Nos últimos anos de vida, continua pintando quase que num isolamento total e vem a falecer em decorrência de um câncer em 1926.

Por ironia do destino, as telas de Claude Monet, que passava grandes dificuldades financeiras quando pintava encorajado pelo ideal impressionista, hoje valem milhões de dólares. Exemplo, é a obra acima "Dans le praierie", executada no mais característico estilo impressionista, que foi recentemente arrematada na Sotheby's de Londres por uma soma equivalente a US$ 16 milhões. Difícil imaginar o que Monet deve estar pensando lá em cima, mas uma gargalhada deve ser inevitável.
A obra de Claude Monet foi catalogada por Daniel Wildenstein, que editou o catálogo raisonné em 1996, em quatro volumes e o Wildenstein Institute de Paris é quem certifica e dá pareceres sobre as obras de Monet. O MASP - Museu de Arte de São Paulo, possui em seu acervo as obras "Canoa sobre o Epte" e a " Ponte Japonesa em Giverny", e também sediou a grande exposição de Monet no Brasil em 1997. Seria necessário escrever muito mais sobre este grande artista que foi Claude Monet, mas vou reservar um pouco de energia para outros importantes nomes do impressionismo francês que pretendo publicar em breve. Até lá!