Depois de Volpi e Arcângelo Ianelli, Aldir Mendes de Souza foi, sem dúvida, um dos maiores artistas coloristas do Brasil. Desde os primordios, quando iniciou a representação geometrizada dos campos e cafezais paulistas em contraste com a urbe, com a cidade impessoal e cinza, Aldir já mostrava uma paleta madura, em que as cores justapostas dialogavam pela geometria, estabelecendo uma arte algo dialética, onde a última palavra era do observador, que inevitavelmente acabava indo paisagem a dentro, dela usufruindo e com ela conversando. Seus campos arados e suas montanhas geometrizadas possuem aquela marca registrada do mestre, a assinatura indelevel de um autor inquieto, que ao longo de uma carreira de mais de 40 anos, interrompida pela doença em 2007, mostrou uma evolução constante no trabalho da forma e da cor, digna de comparação a Volpi e Ianelli.
Médico de profissão e artista por paixão, Aldir trouxe para as telas um sentimento de alegria constante, digno de quem sempre esteve de bem com a vida, mesmo nos últimos instantes, quando ela, a vida, se esvaía, consumida pela leucemia. Ele, médico, não curou a si mesmo, mas pintou a si de certa forma, executando as últimas telas de sua vida baseadas nos mielogramas de seus exames médicos ( exames de medula óssea).
Foi também um pioneiro na denúncia pela arte da devastação do planeta e sua degeneração pela poluição. O avanço da cidade sobre o campo e a degradação da qualidade de vida do ser humano sempre foram possíveis de serem percebidas em muitas de suas composições. Aldir foi um artista com "A" maiúsculo, um colorista de primeira e um pintor como poucos. Acredito que num futuro não muito distante, a crítica e o público colocarão Aldir no merecido lugar, aquele reservado aos grandes mestres da forma e da cor, cujas obras exalam vida e cujas vidas exaltam, pela arte, o amor.