quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Uma obra de Camille Pissarro Redescoberta



A obra de arte cuja imagem está acima, é um desenho a pastel de autoria de Camille Pissarro, um dos principais pintores impressionistas franceses, que junto com Monet, Sisley, Renoir, Cézanne e mais alguns, foi um dos responsáveis pelo movimento Impressionista, que revolucionou a arte mundial no século XIX.

Há uns meses, um conhecido meu de Israel, me enviou a imagem, já meio a título de desabafo, pois não conseguia dos certificadores na França, mais especificamente o Wildenstein Institute, o reconhecimento da autenticidade e a certificação da mesma.

Ao receber a imagem, uma espécie de " sininho" soou na minha mente, pois algo me dizia que eu já havia visto aquela imagem antes. Como pesquiso impressionismo há muitos e muitos anos, não seria difícil que talvez algo parecido tivesse passado diante dos meus olhos em algum dos milhares de livros e catálogos que consultei. O problema seria saber onde. Comecei uma pesquisa obviamente em minha pequena biblioteca pessoal, em todos os livros e catálogos antigos que possuissem o verbete Pissarro. Para minha surpresa, em algumas horas, encontrei um livro editado no Brasil há mais de trinta anos pela Editora Três, da série Biblioteca de Arte - Os Impressionistas, escrito por Charles Kunstler, membro do Institut de France, que possuia na página 34 a imagem abaixo:



Incrível e emocionante!! Era realmente a obra em questão. O que mais surpreende é que este livro possui uma edição francesa e que pasmem-se, foi patrocinada pela Fundação Wildenstein, os mesmos que têm o catálogo raisonné sob sua responsabilidade. Enviei a imagem para o meu conhecido em Israel e obviamente o "queixo caiu". Eu acabara de transformar o pastel dele em algumas dezenas de milhares de dólares. Mas o mais importante, é que uma obra autêntica de um dos maiores pintores da humanidade foi resgatada, redescoberta. Se trata de um patrimônio da humanidade e por mais que esteja em uma coleção particular, tem que ser reconhecida e preservada. A essa altura já deve ter sido vendida e com certeza está pendurada em uma parede de colecionador de porte em algum lugar do mundo onde haja dinheiro e bom gosto. Hoje em dia, poder ter uma obra dessas em casa é para poucos.

Roubo no MASP

Agora, que a poeira já abaixou, e as obras foram recuperadas, pensei que caberia fazer algumas considerações sobre o episódio. A facilidade do roubo realmente salta aos olhos de qualquer um, mais do que o " profissionalismo" de quem executou. Realmente, quem roubou os quadros do MASP, roubou obras de arte pela primeira vez, apesar de que pelo tempo em que fizeram a operação, parecia até que tinha sido ensaiado. O que mais estranho é que, em qualquer lugar do mundo onde casos semelhantes acontecem, dificilmente a obra fica na mesma cidade por tanto tempo. Geralmente, esse tipo de serviço é feito por encomenda, afinal, colecionador sem escrúpulos é o que não falta, ou então a título de sequestro, onde posteriormente se pede um resgate. Vingança ou mesmo tentativa de molestar o museu ou alguém que a ele pertença é uma alternativa que prefiro nem pensar pois seria tão baixo que , se fosse verdade, seu mentor deveria ser localizado e preso, mesmo que fosse um " figurão". Em nenhum dos dois primeiros casos entretanto, para um profissional, se correria o risco de ficar tão próximo às tentativas de busca e recuperação. Já na última hipótese aventada, tudo seria possível...........
Por mais que algumas pessoas não concordem com o modelo da atual administração do museu, achei de muito mau gosto o "apedrejamento" executado, pois atingiu de certa forma outras pessoas, que participam há anos da administração do MASP, com dedicação, carinho e competência. Pessoas como Luis Hossaka, Eugênia, Ivani e muitos outros, não podem ser esquecidos ou transformados em vilões ou mesmo profissionais incompetentes em função de um fato isolado, provocado sabe-se lá por que reais motivos.
Ouvi gente inclusive me questionando se as obras que retornaram são realmente as autênticas ( fato que me estimulou a escrever este texto), pondo em dúvida a competência e a qualidade profissional dos funcionários do quadro técnico do museu. Depois que se explica para os interessados a qualidade de quem está lá e os procedimentos que se levam a cabo nessas situações, as pessoas entendem que seria impossível, ou no mínimo uma possibilidade remotíssima.
Crucificaram a atual presidência do MASP, e aqui não vou entrar no mérito da agressão, mas não me lembro de ter lido nenhuma matéria nos jornais ou na Internet falando das qualidades da equipe técnica do museu. É uma pena que nessas horas, a mídia só vê a parte vazia do copo, e esquece, ou propositalmente não quer ver, a boa quantidade de vinho de primeira qualidade que ainda está lá. Temos que rezar e torcer para não transformarem o MASP em mais um trampolim político ou um buraco negro de nepotismo e clientelismo político. Toda essa estória só transpira vaidade, de um lado e do outro. Que as reais boas intenções para se manter ou melhorar este que é o melhor museu da América Latina apareçam. Mas as reais boas intenções. As outras que sumam. Visitem o MASP, ele merece.