quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Leilão da Sotheby's New York - Segunda Parte

Realmente, como já havia dito em postagem anterior, a crise aportou no mercado de arte internacional. Exemplo disso, em minha opinião, foi o resultado da segunda seção dos leilões de arte impressionista e moderna ocorrida ontem em Nova York. Para resumir, foram oferecidos em duas seções 321 lotes, dos quais apenas 43% foram vendidos, perfazendo um total aproximado de US$ 26,8 milhões. O maior valor da noite foi alcançado pela escultura de Picasso "Le Hibou Gris", reproduzida abaixo, que foi arrematada por pouco mais de US$ 1 milhão.



A escultura foi inclusive, capa do catálogo do leilão, o que sem dúvida facilitou a venda. Ficaram sem encontrar comprador obras importantes de artistas como Renoir, Picasso, Pissarro, Maximilien Luce e outros de mesma envergadura. Espero que o receio partilhado pelos compradores internacionais não contamine o nosso já debilitado mercado de arte brasileiro. O negócio é tomar fôlego e ir em frente. Hoje tem leilão da Christie's New York. Quem sabe seja diferente.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Mais um pouco sobre as antigas Bienais - Siqueiros

Um artista do qual gosto muito é David Alfaro Siqueiros, que junto com Orozco e Rivera, formou o importante grupo de muralistas mexicanos que de certa forma revolucionou a arte mural e gráfica latinoamericana. Siqueiros foi também um dos mais engajados politicamente e suas obras sempre possuiram um conteúdo social enorme. Ele participou da III Bienal de São Paulo de 1955 com 10 gravuras, em sua maioria litos. Acredito que um exemplar da gravura representada abaixo tenha participado da mostra com o título "Cão". As dimensões são bem próximas às descritas no catálogo e já tive a oportunidade de vê-la representada em mostras no México com o mesmo nome.

fonte: acervo Escritório de Arte Rui Dell'Avanzi Jr.
                                                                  
Na verdade esta gravura tem por título " La Hiena sobre Latinoamérica" ( a hiena que ruge em proteção aos oprimidos) e foi excutada em torno de 1953 e pertence ao período onde as obras de Siqueiros mais externavam críticas históricas, políticas e sociais. Aliás, a obra gráfica de Siqueiros mereceu belíssimo estudo de Elia Espinosa, um dos grandes pesquisadores mexicanos sobre arte latinoamericana, no qual conclui que a obra gráfica do artista não fica nem um pouco abaixo da sua obra mural e de cavalete. Siqueiros teve ainda trabalhos expostos nas Bienais de São Paulo de 1987 e 1998, sendo sem dúvida, um dos maiores nomes que já passaram pelos pavilhões do Ibirapuera.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Leilão da Sotheby's - Como foi?

Enfim, a primeira prova de fogo do mercado de arte internacional frente à crise, o leilão de Arte Impressionista e Moderna da Sotheby´s em Nova York ocorreu ontem, 3 de Novembro, e na minha opinião os resultados não foram tão desastrosos assim. Cerca de 65% dos lotes ofertados foram vendidos, perfazendo um total de US$ 223.812.500. Destaque da noite foi a Construção Suprematista de Kazimir Malevich( imagem abaixo), arrematado por um valor pouco acima de US$ 60 milhões.


fonte: Sotheby's
Outras obras importantes como o Vampiro de Edvard Munch, arrematado por aproximadamente US$ 38 milhões e Danceuse au repos de Edgard Degas, comprado por quase exatos US$ 37 milhões, geraram sem dúvida sensações fortes no pregão. Fato negativo a se notar é que algumas obras importantes de Van Gogh, Modigliani, Matisse, Monet e Picasso, que poderiam ter elevado o montante de vendas em mais de US$ 100 milhões, não encontraram compradores. Outra observação é que a grande maioria dos lotes vendidos teve o valor do arremate abaixo ou igual à estimativa mínima, o que pode representar um apetite contido dos potenciais compradores. O resultado não foi catastrófico como alguns esperavam mas sem dúvida, em minha opinião, a crise visitou a Sotheby's ontem a noite.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Um quadro de Prud'hon redescoberto

A obra reproduzida acima, com título " Esquisse du Zephyr", é uma atribuição a Pierre-Paul Prud'hon ( 1758 - 1823), pintor neoclássico francês, muito famoso por suas cenas históricas, mitológicas e retratos. É de pequenas dimensões( 25cm x 17cm) mas de uma qualidade de execução espetacular. A riqueza de detalhes, principalmente quanto a anatomia da figura, é de impressionar a qualquer um apaixonado por arte.

Este pequeno quadro, veio da coleção de José Pinto Vieira, falecido em 1924, que possuia uma coleção extensa, formada em boa parte quando de suas viagens à Europa, principalmente França( onde morou com a família de 1875 a 1890), coisa até certo ponto comum para a aristocracia e alta burguesia brasileira do final do século XIX e início do século XX.

O problema desta obra, a exemplo de muitas outras que estão pelo mercado, é a falta de documentação de origem : um recibo, certificado, catálogo ou qualquer outro documento de comprovação de procedência. São realmente raras as coleções antigas que possuem documentação em ordem.

Outro aspecto particular, era a diminuta dimensão e diferente disposição da figura, quando comparada a obras semelhantes de Prud'hon que estão em museus franceses, como a obra reproduzida abaixo, que pertence ao Museu de Dijon.



fonte: Base Joconde



A pintura do Museu de Dijon, possui dimensões de 130cm x 98cm, e como se vê, tem a figura "rebatida" e é de um acabamento finíssimo. Teria Prud'hon feito outras figuras semelhantes? Seria um estudo de um discípulo ou aluno no qual o mestre possa ter intervido?

Após uma exaustiva pesquisa na Biblioteca do Louvre, encontramos um catálogo de venda da coleção Victor Marguerite, importante escritor e colunista francês, que teria ocorrido em abril de 1914 no Drouot, em Paris. O leilão com 70 lotes, aparentemente não aconteceu por motivos ignorados, mas seu catálogo foi publicado. Vejam abaixo a reprodução do lote 61, de autoria de Prud'hon, também de pequenas dimensões(32cm x 24cm), apenas com o nome "Zephyr". Pedimos perdão pela qualidade da imagem, mas na biblioteca do Louvre só nos concederam uma cópia reprográfica.






Interessante se perceber que a posição e as proporções são as mesmas que as do nosso quadro e a imagem, apesar de ruim, permite ver inclusive alguns detalhes dos cabelos cacheados, das sombras, da margem do rio e da cachoeira ao fundo, tudo muito próximo ao do quadro em estudo. Ora, alguns podem dizer que mesmo assim seria uma cópia. Para ser uma cópia, teria que ser então contemporânea ao pintor, pois primeiro trata-se de uma obra totalmente desconhecida do meio e depois especialistas que trabalham na Europa, ao analisarem a obra, disseram que o betume utilizado é o mesmo utilizado por Prud'hon e aplicado da mesma forma que o mestre o fazia. Difícil acreditar que alguém de fora do seu atelier o teria feito.
Outro fator intrigante está no verso da obra. Trata-se de um selo de cera, possivelmente de nobreza, indicando a coleção à qual pertencia. O problema é que até agora não conseguimos identificar o brasão existente no selo, dentre os milhares existentes da Europa, principalmente na França, de onde imaginamos, a princípio, que a obra tenha vindo. Com certeza vai nos consumir um bom tempo para encontrá-lo.
Durante a pesquisa, conseguimos descobrir que em 1887( período que coincide com a residência de José Pinto Vieira em Paris), na venda do Barão Roger Portalis ( Seria dele o selo de nobreza? Não conseguimos encontrar nada até o momento), um quadro chamado apenas por "Le Zephir", foi vendido por 905 francos. É provável que tenha sido um quadro pequeno, pois logo em seguida, em 1888, uma pintura com dimensões de 44cm x 36cm, da coleção Duchatel, havia sido vendido por 1900 francos. Apesar de que isso pouco significa, pois quadros nunca foram vendidos por metro quadrado, mas, de qualquer forma, poder-se-ia ter uma pequena base. Ou não? E o leitor o que acha? Vamos conseguir provar que é um Prud'hon?
Estamos preparando uma documentação para enviar ao senhor Sylvain Lavessière, pesquisador e curador da Reunião dos Museus Franceses, considerado a maior autoridade em Prud'hon da atualidade, que eu espero que ainda esteja vivo e responda à consulta. Assim que tivermos qualquer novidade, ela vai para o ar.

domingo, 2 de novembro de 2008

E os leilões no Brasil? A crise vai afetar?

No Brasil, neste mês de Novembro, teremos também algumas provas de fogo para o mercado brasileiro de arte fina. Nos dias 18,19,20 e 21, será realizado o Leilão de Evandro Carneiro e Soraia Cals no Rio de Janeiro, que traz a pregão nada menos que a coleção Jorge Amado. A capa do convite é a obra reproduzida abaixo, o retrato de Jorge Amado feito por Flávio de Carvalho. Com certeza o acervo do falecido escritor baiano deve ser de primeira e deve atrair muitos compradores em busca de obras inéditas. Os catálogos estão a venda ao preço de R$ 125,00, com renda revertida em favor da Fundação Jorge Amado.


Na sequência, no dia 25 de Novembro, irá ocorrer o leilâo da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro, que sempre apresenta grande qualidade na seleção das peças. Só nos resta esperar para conferir. De qualquer forma, continuo otimista e acho que as boas obras de arte mudarão de mãos para deleite, investimento e garantia de segurança em tempos de crise de alguns atentos colecionadores.

Vários outros leilões menores irão ocorrer em São Paulo e Rio de Janeiro. Eles também serão um termômetro de como anda o mercado frente a crise que já nos atingiu. Comentaremos no momento oportuno. Enquanto isso, recomendo ficarem atentos pois existem ótimas oportunidades no mercado. Boas compras!