sábado, 6 de dezembro de 2008

Leilão da Bolsa de Arte em São Paulo

No próximo dia 9 de Dezembro, terça-feira, teremos o leilão da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro, que desta feita será realizado na Rua Oscar Freire em São Paulo, no lugar do Hotel Copacabana Palace no Rio, onde ele geralmente ocorre. O catálogo do evento, executado na ótima qualidade de sempre, mostra 130 lotes, onde predominam as obras modernas e contemporâneas, com destaque para artistas como Di Cavalcanti, Guignard, Dacosta, Ismael Nery, Antonio Bandeira, Gerchman e o "fenômeno" Beatriz Milhazes, cuja obra " Os Filhos de Graham" tem cotação estimada entre R$ 550/750.000!!

Para os admiradores do "Grupo Santa Helena", o leilão apresenta boas obras de Zanini e Bonadei, além de duas têmperas de Volpi. Há ainda obras de Oiticica, Lygia Clark, Barsotti e geométricos de autores mais recentes como Judith Lauand e Eduardo Sued, entre muitos outros.

Para os amantes da pintura acadêmica, incluindo-se aqui até os de tendência impressionista, iremos encontrar no catálogo obras de Firmino Monteiro, Catagneto, Rodolfo Amoêdo e um Garcia Bento com trabalho de espátula magistral. Abaixo, um dos destaques do leilão, o Di Cavalcanti "Moça na Janela", de 1957, com estimativa de R$ 650/750.000, cujo futuro comprador não estará jogando dinheiro fora.



Vale a pena conferir e participar. A exposição em São Paulo vai até segunda-feira, dia 8 de Dezembro, na Rua Osacar Freire, 379. Bom leilão!!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Raimundo Cela - Outro grande artista cearense

Já que estou percorrendo minhas memórias de viagem ao Ceará, alguns leitores do blog solicitaram a inclusão de alguma informação adicional sobre artistas cearenses. Como eles são muitos, aliás, o que não falta no Ceará é artista, vou então falar um pouco de cada um, em postagens diferentes, daqueles considerados principais ou maiores expressões. Desta feita, vou escrever algumas linhas sobre Raimundo Cela, artista dos mais conceituados, mas que ainda possui pouco reconhecimento( ou mesmo conhecimento) no circuito das artes plásticas nacional.

Engenheiro de profissão( falar dos meus colegas sempre me dá muito prazer, não sei porque...), Raimundo Cela nasceu em Sobral no Ceará em 1890, onde se iniciou na arte do desenho e pintura. Em 1910 veio para o Rio de Janeiro e ingressou na Escola Nacional de Belas Artes, onde foi aluno de Eliseu Visconti, João Zeferino da Costa e João Batista da Costa. Em 1917, com o quadro Último Diálogo de Sócrates, ganhou o Prêmio Viagem o que lhe permitiu partir para a Europa, onde morou por 5 anos, principalmente vivendo em Paris. Lá se aperfeiçoou e participou inclusive do Salão dos Artistas Franceses de 1922( Antonio Bandeira nascia) com uma paisagem. Este fato lhe valeu inclusive a inserção de um verbete no Benezit, o mais importante dicionário de artistas do mundo.

A obra acima, de autoria de Raimundo Cela, foi recentemente redescoberta e é uma das poucas naturezas-mortas realizadas pelo pintor. A outra que se tem notícia, está no acervo do MAUC em Fortaleza, que aliás possui uma excelente coleção, com inúmeros óleos e principalmente desenhos de Cela. O artista também foi um exímio gravador, tendo inclusive sido professor da cadeira de gravura na mesma ENBA a partir de 1930. Raimundo Cela faleceu em Niterói - RJ, em 1954, deixando uma obra caracterizada pelo retrato do povo e da paisagem cearense com seus barcos, pescadores, marinhas, jangadeiros e suas rendeiras de mãos fortes mas delicadas onde a luz amena e as cores relativamente pálidas de sua execução conferem todo um tom regional e nostálgico, mas de um realismo cativante, a cada peça realizada. Em tempos recentes, a Pinakotheque Cultural editou um catálogo, relativo à exposição por eles relizada sobre Raimundo Cela, com reproduções de obras e textos críticos e biográficos. Existem referências sobre o artista no Dicionário das Artes Plásticas no Brasil de Roberto Pontual e no Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos do MEC. É um artista cearense que vale a pena ser estudado e admirado.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Exposição Antonio Bandeira na UNIFOR

Continuando nosso roteiro cultural em Fortaleza, tivemos o prazer de ver uma exposição magnífica sobre a vida e a obra de Antonio Bandeira, no Centro Cultural UNIFOR. Com coordenação do competente Max Perlingeiro, a mostra que já havia sido apresentada na Pinakotheke de São Paulo, ganha outro charme quando vista na terra natal do artista. Afinal, algumas das paisagens, praias, jangadas e principalmente a gente cearense, que muito inspiraram Bandeira em suas obras e poesias, estavam a poucos metros dali. Com uma perfeita divisão cronológica, onde a obra do artista pode ser analisada fase a fase e o fio condutor que liga cada uma delas perfeitamente determinado, o visitante se deleita com uma riqueza de informação que inclui textos, cadernos de apontamentos, utensílios e obras, sim, muitas obras que fazem cada qual um papel ímpar no corte transversal que a exposição realiza sobre a vida do artista. Com alguns desenhos raros e desconhecidos, várias aquarelas e técnicas mistas além de óleos magníficos, selecionados para a mostra de forma criteriosa, a exposição tem tudo para transportar o visitante ao mundo mágico no qual Bandeira vivia. Curiosidade é a apresentação de um filme documentário sobre o artista, infelizmente incompleto devido à sua morte prematura, sendo talvez as únicas imagens em movimento do artista, e que foram recuperadas recentemente pela cineasta Margarita Hernandez. Há também um espaço lúdico, para que as crianças visitantes, inspiradas pela mostra, soltem um pouco do Antonio Bandeira que há dentro delas.








Ao percorrermos a exposição, juntamente com estudantes e outros visitantes de todos os níveis da cidade de Fortaleza, descobrimos em cada obra, um detalhe adicional do lirismo abstrato de Bandeira. Mesmo em suas primeiras paisagens, realizadas na terra natal, a inquietação que pulsava dentro do artista é nítida, tanto quanto sua forma até certo ponto lúdica e festiva de ver o mundo que o cercava, desde a Praia de Mucuripe e seus pescadores em Fortaleza, passando pelo porto de Capri na Itália, o ateliê de Copacabana e até a névoa e o frio deitados sobre a sua Paris que tanto amou, que lhe fez inclusive uma vez ouvir, de um parisiense qualquer, ao ver de passagem uma tela sua em plena execução numa praça na capital francesa, a expressão:"Vous n'avez pas besoin de beau temps pour faire beau temps"( você não precisa de bom tempo para que se faça bom tempo).

Acima, a bela obra Cercle de Feu, de 1965, que na mostra da UNIFOR o visitante se depara logo na sua chegada ao ambiente da mostra, é um excelente exemplo de que a expressão espontânea descrita acima, dita pelo parisiense surpreso, é pura verdade. Acredito ser essa uma das mais belas e completas exposições sobre Antonio Bandeira, este ilustre artista cearense, nascido com o modernismo brasileiro em 1922, que cresceu com o sol sempre na frente dos olhos, olhos que se cerraram de forma abrupta na sua plena maturidade, em 6 de outubro de 1967, num acidente cirúrgico durante uma operação de garganta para retirada de um pólipo. Aquele pequeno bilhete, encontrado em meio a seus papéis, sem identificação ou assinatura, onde se lia "et ta gorge?" ( e sua garganta?) continuará eternamente esperando uma resposta.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Fortaleza - Ceará - Polo Cultural do Nordeste

Acabo de voltar de uma viagem a Fortaleza, capital do Ceará, onde fui a trabalho mas claro, sem descuidar de visitar e conhecer o que há de melhor por lá. Falar das belas praias e da culinária rica e exótica é desenecessário e, pela essência do blog, vou comentar apenas alguns passeios culturais que fizemos(minha esposa obviamente foi junto), todos, sem exceção, de encher os olhos e elevar o espírito.

Começo pelas exposições que estão em cartaz no Centro Cultural Dragão do Mar, uma de brinquedos e outra sobre o Vaqueiro, este lendário herói do agreste. Uma exposição sobre arte pop havia terminado há pouco e o ambiente já se encontrava em obras para receber uma nova mostra. A de Sérvulo Esmeraldo também havia terminado por aqueles dias. A coisa lá não para.


Logo na entrada do Centro Cultural, voltado para a praça, se é recepcionado por um enorme e belo painel de Aldemir Martins(veja acima). Só por ele já vale o passeio. Sobe-se a rampa e por passarelas treliçadas se chega ao espaço de exibições, composto por várias salas e ambientes. Nos deparamos a princípio, no hall da livraria, com uma exposição de acesso gratuito da fotógrafa Fernanda Oliveira sobre mulheres líderes, com algumas imagens maravilhosas. Pequena mas muito interessante.
Seguindo pelo corredor, chegamos a duas salas onde por R$ 2,00 de ingresso, visitamos a exposição "Brinquedo - A Arte do Movimento", com peças procedentes da coleção Macao Goes e curadoria de Raul Lody. Uma delícia, pois tudo ali era arte. Brinquedos em madeira, metal, barro, pano, pet e outros materiais, utilizados e transformados pelas geniais e criativas mãos nordestinas, daqueles artesãos que colocam tudo de si no que executam. Um mundo todo recriado de bonecas, casas, aviões e outros objetos, nos quais se percebe o ser humano que há por trás da execução, em contraposição ao eletrônico, luzente e esquizofrênico mote inspirador dos "games" e parafernálias digitais da atualidade. O resgate do homem como ser que cria em função da sensibilidade, amor e emoção, é patente nesta bela exposição.



Acima e abaixo, algumas imagens da exposição onde casais de bonecos, casinhas, utensílios domésticos e até aviões, passando por carros, carrinhos e caminhões, convivem harmonicamente numa mostra de muito bom gosto, onde de certa forma, todo mundo vira criança e toda criança viaja o mundo.







Resgate também é o que se faz na exposição "Vaqueiros", cuja qualidade pode ser comparada às melhores do Brasil, daquelas que infelizmente só ocorrem no eixo Rio-São Paulo. Didática, simples mas rica em detalhes, traz em imagens, objetos e textos um apanhado geral da história e da tradição do vaqueiro cearense, que muito contribuiu no processo de desenvolvimento e integração do estado.



Com uma série de objetos expostos, desde vestimentas até a própria recriação de uma casa de vaqueiro, a exposição faz uma radiografia detalhada da vida e dos hábitos do vaqueiro, da sua comida à sua fé, da sua coragem às suas emoções, mostrando que por baixo daquela roupa de couro existe ainda um homem, que chora quando o gado morre, que tem fama de conquistador para muitos e de "cabra safado" e perigoso para outros. Todo o folclore que envolve o vaqueiro é comentado e suas festas e crenças cheias de sincretismo são especialmente mostradas( A Reisada, o Boi e etc). De qualquer forma esta excelente exposição, em minha opinião, exalta o humano e mostra o ser por trás do couro que hoje sucumbe ao ter pelo ter, do ouro.

Vale a pena conferir. Para alguns é só um "pulinho" até o Dragão do Mar, para outros vai custar um pouquinho mais, mas a recompensa pelo esforço é certa. Na próxima postagem vou comentar sobre a exposição "Antonio Bandeira", que se realiza no espaço da UNIFOR em Fortaleza. Até lá.