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terça-feira, 18 de julho de 2017

João Del Nero - Que pintura bonita! Redescoberta da obra e do artista.


Há umas semanas encontrei em um leilão de internet a natureza morta acima, descrita como autor não identificado. Mesmo sem ter visto a obra pessoalmente, fiquei impressionado com a aparente qualidade da mesma: um desenho muito bom, paleta de extremo bom gosto e equilíbrio e um conjunto harmônico da composição. A assinatura era impossível de ler. De qualquer forma havia sido cativado pelo quadro. Mesmo consciente de que atravessamos um crise econômica e financeira sem precedentes, raspei o cofrinho e arrisquei o lance mínimo, que já não era tão baixo assim. Por sorte, arrematei sem disputa.

Assim que chegou em casa, como criança que recebe um bom doce ou brinquedo, desfiz o pacote com cuidado mas certa pressa e ao ter acesso ao quadro o queixo caiu: era melhor do que eu imaginava. Ao analisar a obra com o ultra-violeta descobri que a assinatura era de Del Nero, mais especificamente de João Del Nero, pintor nascido em São Paulo em 1910 e que participou de várias edições do Salão Paulista de Belas Artes entre 1934 e 1959, tendo sido membro inclusive da comissão organizadora do mesmo salão em alguns dos eventos. Consta do Dicionário de Artistas Plásticos do Pontual, do Dicionário do MEC, do Itaú Cultural, todos citando que Teodoro Braga reuniu dados biográficos sobre o pintor em sua obra de referência Artistas Pintores no Brasil. Ruth Sprung Tarasantchi o cita também como pintor paisagista paulista em sua obra Pintores Paisagistas: 1890 - 1920. É sabido de obra do artista pertencente ao Museu Nacional de Belas Artes e que está presente em inúmeras coleções particulares, agora inclusive na minha. Espero que apreciem.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Ottone Zorlini redescoberto



Foi com grande emoção que encontrei a obra reproduzida acima, uma técnica mista sobre papel, já algo oxidado, tido na ocasião como de autoria desconhecida. Na verdade, o trabalho veio das mãos de Ottone Zorlini, artista de origem italiana que chegou ao Brasil no começo do século XX. Está inclusive assinado e datado de 4-11-60. Pintor, escultor, desenhista e ceramista, Zorlini é considerado por muitos, inclusive pelo saudoso Pietro Maria Bardi, como pertencente ao grupo Santa Helena, uma vez que pintou durante muito tempo nas décadas de 30 e 40 ao lado de Volpi, Zanini e Rebolo, membros máximos do referido grupo. O fato de sua obra também estar fundada nas paisagens, marinhas e figuras, endossa ainda mais a afirmação.

Ottone Zorlini nasceu em Gorgo al Monticano - Treviso, na Itália em 1891 e faleceu em São Paulo em 1967. Estudou na Academia de Belas Artes de Veneza e ainda na Itália, trabalhou como ceramista e escultor. Em 1927, quando chega ao Brasil, tem íntimo contato com a colônia italiana da cidade e já no ano seguinte realiza o famoso Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico. Por sua atividade intensa na área do desenho, pintura e escultura, participa inclusive da formação do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo. É sem sombra de dúvida um dos nomes mais importantes da pintura figurativa paulista, tendo participado de inúmeras exposições individuais e coletivas.

O Instituto Volpi (www.institutovolpi.com.br) divulga em seu site o Projeto Ottone Zorlini, que catalogará a importante obra do artista. Vale a pena acompanhar.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Ernesto De Fiori - Um belo desenho


                 Há uns anos achei o desenho a carvão reproduzido acima, de autoria de Ernesto De Fiori, em um leilão em São Paulo. Impressionante, mas ninguém deu atenção ao trabalho, talvez por se tratar de um retrato. Posteriormente vim a saber que a obra estava certificada pela sobrinha-neta do artista e reproduzida num belo catálogo da Companhia da Artes, daqueles leilões muito bem produzidos pelos Cohn.
                 Quem gosta de arte moderna paulista e se interessa principalmente pelos artistas do Grupo Santa Helena e da Família Artística Paulista sabe muito bem quem foi Ernesto De Fiori. Nascido em Roma em 1884 e naturalizado alemão, foi escultor, pintor e desenhista. Estudou e trabalhou na Itália e na Alemanha, vindo em 1936 para o Brasil. Se estabeleceu em São Paulo, onde travou conhecimento com Volpi, Zanini e Rossi Osir, artistas estes que sofreram grande influência de seu desenho e pintura vigorosos e soltos. Existem algumas paisagens de Volpi da década de 40 por exemplo, onde a influência de De Fiori é latente nos traços pretos das figuras e nos contornos da vegetação e relevos, marca característica das pinturas do pintor ítalo-alemão. Importante também ressaltar que o artista passou pelas oficinas da Osirarte, deixando sua marca em alguns azulejos, trabalho apenas interrompido por sua morte prematura em 1945.

                  Existem várias referências bibliográficas sobre De Fiori mas citaria apenas o livro escrito por Mayra Laudanna quando da exposição retrospectiva do artista na Pinacoteca do Estado de São Paulo, no qual vemos reproduzidos, entre muitos outros trabalhos, alguns retratos desenhados a carvão pelo artista de grande semelhança ao desenho do nosso acervo, o qual será, sem sombra de dúvida, uma das estrelas das futuras exposições do MISP.

sábado, 21 de maio de 2016

Um pequeno desenho de Aldo Bonadei


Acima vemos mais uma obra interessante que foi incorporada ao acervo há alguns anos, e que também pretendemos expor no MISP. Trata-se de um desenho à tinta de Aldo Bonadei, a quem já há tempos estamos devendo uma justa homenagem.

A obra em questão foi feita em Dois Irmãos, município no caminho de Uruguaiana, para onde Bonadei viajou juntamente com o amigo Fúlvio Pennacchi em 1945, para auxiliá-lo na execução das pinturas da Igreja Matriz daquela cidade.
O que impressiona no desenho é a leveza e precisão da execução direta à tinta, sem qualquer traço prévio a lápis. Nessa viagem Bonadei pintou várias paisagens e fez alguns esboços "sur le motif, parte deles inclusive em cadernos como mostrado no livro de Lisbeth Rebollo Gonçalves sobre o artista, para serem transformados posteriormente em telas ou simplesmente guardados.

A obra é simples e despretenciosa mas valerá muito a pena ser contemplada.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Atilio Baldocchi - Um mestre-pintor paulista

Atilio Baldocchi - Margens do Rio Tietê - 1933

                 A obra acima, de autoria de Atilio Baldocchi, foi um desses achados que nos deixam gratificados. Pintura de paleta madura e bom desenho, consegue ser harmônica mesmo com um motivo difícil de pintar, onde a maior parte da execução são reflexos. Participante da mostra "Marinhas e Ribeirinhas" no Museu Lasar Segall em 1982, a obra mostra barcos no Rio Tietê e os reflexos do céu, margens, casas e dos próprios barcos nas águas puras do rio em 1933.
                Atilio Baldocchi foi desenhista, pintor e professor. Discípulo de Beniamino Parlagreco, nasceu em São Paulo em 1901, vindo a falecer na mesma cidade em 1984, dois anos após a mostra citada. Pintava principalmente paisagens e naturezas mortas, sendo que uma destas integra o acervo do Museu Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro. Morou durante muitos anos em São João da Boa Vista, no interior do estado de São Paulo, onde produziu boa parte de suas obras, infelizmente não muito conhecidas do público em geral, apesar da grande qualidade das mesmas. Artista premiadíssimo, participou de inúmeras exposições, algumas delas com outros nomes fortes da pintura brasileira como Alfredo Volpi e José Perissinoto. Vale a pena um olhar atento por quem gosta de boa pintura.
             

É Zanini. Mas será que também pode ser Volpi?

Mario Zanini -  Pescadores -Máscara para pintura de azulejo - tmp - 15cm x 15cm

                     No ano passado, 2015, adquirimos num leilão uma peça interessante: Uma máscara para marcação do biscoito, nome dado ao azulejo antes da queima, de autoria de Mario Zanini(vide reprodução acima). Um desenho refinado  feito em sanguínea, cujas linhas foram perfuradas para "passar" a marcação do desenho sobre a base a ser pintada. Com certeza é da década de 40, período em que Zanini, assim como outros artistas do grupo Santa Helena, participaram da produção de azulejos na Osirarte de Paulo Claudio Rossi Osir, capitaneados por Volpi e o próprio Zanini, auxiliados por Hilde Weber e outros mais que tiveram passagem rápida pelo ateliê como Franz Krajcberg e Ernesto De Fiori.
                      Existem no mercado várias versões do azulejo, todas elas vindas dessa máscara, onde há entre elas variações das cores, detalhes das figuras e do fundo, mas sendo que as figuras são basicamente as mesmas. Abaixo temos a reprodução de uma dessas versões.

Mario Zanini - Pescadores - Azulejo Osirarte - 15cm x 15cm
                       O curioso da história desta aquisição é que localizei num catálogo de outubro de 2005 da Soraia Cals do Rio de Janeiro a imagem abaixo, de um desenho a carvão atribuído a Alfredo Volpi, procedente de uma coleção de peso, cujo motivo é exatamente, ou quase, o desenho da máscara que temos hoje no acervo. Sabe-se que Volpi e Zanini andavam sempre juntos à época e que muitos trabalhos na própria Osirarte foram feitos a quatro mãos, mesmo que a assinatura fosse apenas de um deles. Minha dúvida é se os desenhos tinham a mesma consideração e tratamento.

Alfredo Volpi - carvão sobre papel - 15cm x 15cm

É fácil perceber que as mínimas curvas estão presentes no carvão atribuído a Volpi. Será que foram daquelas obras feitas a quatro mãos? No mínimo, como já disse, é curioso e interessante.

sábado, 7 de maio de 2016

Pequeno Antonio Bandeira redescoberto



A obra reproduzida acima, foi encontrada em um leilão do interior de São Paulo, e, a princípio, tinha autoria desconhecida. Trata-se de uma técnica mista sobre cartão, com aproximadamente 6cm x 8cm, com uma assinatura e aparentemente datado de 1948. Uma análise mais minuciosa revelou se tratar de uma pequena peça de autoria de Antonio Bandeira de 1948, ano em que o artista estava na França. O contato com a escola francesa da época, em constante ebulição de idéias e estilos, gerou em Bandeira uma necessidade de expressão com refinada liberdade de formas do ser humano e seus objetos mais próximos. A estilização das figuras tornou-se uma característica marcante das obras do primeiro período francês do artista, entre 1946 e 1950,  apesar de que poucos conhecem as não muitas obras dessa fase.

Perambulando por catálogos antigos vemos alguns exemplares "irmãos" maiores da pequena peça reproduzida no introito:



 

As imagens acima foram retiradas dos catálogos de Soraia Cals/ Evandro Carneiro e da Exposição Desconfigurações, e são bom exemplo da temática e técnica utilizadas por Bandeira à época citada. Temos em mãos sem dúvida, uma pequena pérola da obra deste magnífico artista que foi Antonio Bandeira.

terça-feira, 12 de abril de 2016

Que tal achar um Caravaggio no sótão?


Caravaggio - Judith decapitando Holofernes

O quadro acima, que mostra a cena bíblica de Judith decapitando Holofernes, general de Nabucodonosor, foi recentemente confirmado por alguns especialistas como vindo das mãos do artista lombardo Caravaggio. Apesar de não ser uma unanimidade entre os especialistas, o quadro foi considerado autêntico pelos experts em Caravaggio Eric Turquin e Nicola Spinoza, este último ex-diretor do Museu de Nápoles e considerado um dos maiores especialistas na obra do artista. O mais interessante é que o quadro foi encontrado no sótão de uma casa no sudoeste da França, e a princípio foi atribuído a Louis Finson, um contemporâneo de Caravaggio. Talvez se este quadro tivesse sido encontrado aqui no Brasil ou em algum outro país das Américas, ele teria sido considerado uma cópia, falsificação ou outra coisa semelhante. Quando a redescoberta é na Europa, sempre a visão é diferente e falo isso com certa experiência. De qualquer forma, quem tem sótão com coisas antigas seria bom dar uma olhada...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Simon Segal - Artista da Escola de Paris que passou por São Paulo


A obra reproduzida acima, de autoria de Simon Segal, foi mais um dos achados gratificantes no mercado de arte de São Paulo.

Simon Segal, artista de origem judaica da Escola de Paris, nasceu no ano de 1898 em Bialystok - hoje Polônia, mas que na época pertencia ao Império Russo. Emigrou para a França em 1925, vindo a se naturalizar em 1949. Começou a expor em 1935 em Paris, onde era amigo do marchand Bruno Bassano. Foi pintor, ilustrador e muralista, tendo inclusive trabalhado com o brasileiro Antonio Carelli nos murais da Catedral da Sé em São Paulo, após ter sido apresentado ao muralista brasileiro em Paris. Foi em São Paulo também onde Segal realizou uma exposição individual de seus mosaicos no MAM - Museu de Arte Moderna em 1960. Na pintura, executou retratos, paisagens, marinhas e quadros com motivos de animais, como o pertencente ao nosso acervo.

O artista veio a falecer em 1969 em Arcachon, onde está enterrado, e deixou uma obra de certa forma escassa. Do site da Sociedade dos Amigos de Simon Segal, entidade parisiense criada para difundir, estudar e catalogar a obra de Simon Segal, extraímos as exposições abaixo :

Em vida
  • 1935 — Paris – Billiet-Worms Gallery
  • 1950 — Paris – Drouant-David Gallery
  • 1951 — Toulon
  • 1953-55 — Paris – Bruno Bassano Gallery
  • 1956 — Albi – Musée Toulouse-Lautrec (retrospectiva)
  • 1957 — Paris – Bruno Bassano Gallery
  • 1959 — Paris – Musée Bourdelle (mosaicos)
  • 1960 — São Paulo – MAM - Museu de Arte Moderna (mosaicos)
  • 1961 — London – Grosvenor Gallery
  • 1963 — Milan – Stendhal Gallery
  • 1964 — Paris – Bruno Bassano Gallery
  • 1968 — Paris – Drouant Gallery
Póstumas

  • 1971 — Brest – Palais des Arts et de la Culture (retrospectiva)
  • 1972 — Valréas – Château de Simiane (retrospectiva)
  • 1982 — Paris – Salon de la Rose-Croix (retrospectiva)
  • 1989 — Paris – Musée du Luxembourg (retrospectiva, 160 obras)
  • 1990 — Paris – Salon du Dessin & de la Peinture à l'eau (30 obras)
  • 1997 — Arcachon (retrospectiva, 50 obras)
  • 1999 — Cherbourg – Musée Thomas Henry, Segal à La Hague (70 obras)
  • 2010 — Białystok – Muzeum PodlaskieThe secret child of Białystok (90 obras)

O artista e sua obra têm como especialista a senhora Nadine Nieszawer, expert nos artistas judeus da Escola de Paris, que gentilmente confirmou a autenticidade do quadro de Simon Segal exposto acima e que será exibido no MISP - Museu do Interior Sul Paulista. 

Resgatando Alfredo Ugarte Del Castillo - Contemporâneo Espanhol que viveu no Brasil



Recentemente, achei em um leilão de São Paulo, uma obra abstrata de execução carregada de "impasto", do artista espanhol Alfredo Ugarte del Castillo (vide acima), que faleceu em São Paulo em 1986. Originário da cidade de Pamplona - Navarra, Espanha, o artista está descrito na Grande Enciclopédia de Navarra como um dos representantes da pintura contemporânea espanhola, que juntamente com Gerardo Lizzárraga (que foi marido de Remedios Varo), Adela Bazo e outros, deixaram o país ainda jovens com destino à América. O pesquisador Francisco Javier Zubiaur Carreño, em seu trabalho "Pintura contemporánea en Navarra. Historiografía 1995-2005" fala do total desconhecimento do trabalho desses artistas emigrados, à exceção de Lizzárraga e Bazo, cuja produção pictórica foi em parte resgatada pelo Museu de Navarra.




Indo um pouco mais além na pesquisa, descobrimos que Alfredo Ugarte del Castillo trabalhou como ilustrador. A capa do livro de Therese A. Tellegen reproduzida acima é um exemplo e um registro de mais uma obra desta desconhecida produção. Quanto às exposições, encontramos o registro da participação de Ugarte del Castillo no VII Salão de Arte Contemporânea de São Caetano do Sul em 1974, juntamente com artistas como Ermelindo Nardim, Luiz Carlos Ferracioli, Manfredo Souza Neto, Pedro Fogaça Filho e Romildo Paiva.

O crítico de arte Joseph Luyten, na apresentação do livro de Oscar D'Ambrosio " Os pincéis de Deus - vida e obra do pintor naif Waldomiro de Deus" de 1999, faz uma citação a Ugarte de Castillo como pertencente a um grupo de artistas que nos anos 60, juntamente com Waldomiro, perambulava por galerias e exposições de São Paulo, tendo sido descrito pelo crítico como um artista espanhol contra tudo e contra todos. A pintura forte e marcante destes dois únicos exemplos que temos reproduzidos acima realmente mostra um pouco disso.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Andre Derain - Desenhos ( Drawings )

English Abstract
This post in portuguese is related to two drawings of our family collection from the artist Andre Derain co-founder of the Fauve movement or Fauvism, with Matisse and Vlaminck. This drawings are probably preliminary studies for the illustrations of the book Pantagruel from Rabelais, edited by Albert Skira in 1943. Both came from the collection of Raymonde Knaublich, Derain's model and lover.
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De personalidade forte mas conturbada, Derain morreu praticamente esquecido em Garches em Setembro de 1954, após viver os últimos anos em Chambourcy. Nascido em Chatou em 1880, Derain começou a vida artística relativamente cedo, aproximadamente aos 15 anos. Estudou na Academia Carrière em Paris, onde conheceu Henri Matisse, com quem juntamente a Maurice de Vlaminck co-fundaria o movimento Fauve ( feras), caracterizado por pinturas em cores puras e vibrantes. Foi também amigo de Picasso, com quem trabalhou na Catalunha em 1910, apesar de Picasso considerá-lo muito tradicionalista. Isto se deve ao fato de que Derain a partir daquela época, começou a se sentir atraído pelas obras dos mestres primitivos italianos e franceses, além dos primeiros renascentistas. Com isso, o desenho ganhou mais importância em sua obra, tendo o artista produzido figurinos e cenários de ballet e inúmeras ilustrações para livros famosos. Os desenhos abaixo são um bom exemplo dessa fase.


O desenho acima, "Pagem" , executado em lápis sobre papel, procedente do atelier do artista e da coleção de Raymonde Knaublich, modelo e amante de Derain, é um provável estudo preliminar para as ilustrações de Pantagruel, livro de François Rabelais, editado por Albert Skira em 1943.



No desenho acima, a figura de características medievais, com traços faciais extremamente característicos da obra de Derain, é outro lápis sobre papel que provavelmente inspirou alguma das ilustrações de Pantagruel. Originária da mesma coleção, esta obra compõe com o "Pagem" um "pendant" interessante deste grande artista que foi Andre Derain, que o mundo da arte aprendeu a muito valorizar.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Um Clóvis Graciano dos bons


A obra acima, de autoria de Clóvis Graciano, foi mais uma dessas descobertas que posso qualificar como emocionante. Estava por assim dizer "perdida" em um leilão no Rio de Janeiro, sendo o lote no. 1 do pregão. Não tive dúvida quanto à excelente oportunidade de adicionar ao acervo uma peça da melhor fase do artista, pertencente à série dos retirantes, de conteúdo social intenso e retratado com um expressionismo forte onde os gemidos de dor e sofrimento das figuras como que emanam e ressoam do plano da pintura. É desta fase um óleo sobre tela que, em tempos recentes, ultrapassou os R$ 150.000 no leilão da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro.
Contribuiu para a menor concorrência no leilão o estado precário de conservação e a descrição como "Acrílico sobre cartão", técnica que Graciano talvez nunca tenha utilizado. Mas valeu o risco e o lance de certa forma ousado, que gerou o arremate, muito comemorado, do Graciano de certa forma outrora desprezado.
Recebida a obra, vimos que na verdade trata-se de uma técnica mista sobre cartão colado em chapa de madeira industrializada, assinado e datado de 1945. O cartão deve ter sido guardado dobrado por anos e depois colado em chapa na tentativa de compensar os vincos. Apenas uma pequena parte do pigmento, que aparenta ser a óleo, se desprendeu, permitindo a contemplação da pintura em sua plenitude.

Existem pinturas famosas de Graciano desta mesma fase em alguns museus brasileiros, como a reproduzida abaixo, "Mulher ajoelhada" que pertence ao acervo do MAB FAAP, datada de 1944. A semelhança de técnica e execução é impressionante e só referencia o achado.


Clóvis Graciano nasceu no ano de 1907 em Araras, cidade do interior do estado de São Paulo, e começou sua vida artística pintando placas e tabuletas para a Estrada de Ferro Sorocabana. Em 1934 transferiu-se para São Paulo onde realiza estudos com Waldemar da Costa. Fez parte do Grupo Santa Helena e da Família Artística Paulista. Foi pintor, desenhista, gravador, ilustrador, figurinista, cenografista e principalmente muralista. Só na cidade de São Paulo se contam 120 murais de sua autoria. Foi adido cultural em Paris e diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Sempre fiel ao figurativismo, deixou uma obra na qual as questões sociais são sempre abordadas de forma incisiva (talvez influência do amigo e mestre Portinari), com uma técnica impecável e um estilo cuja evolução deixou um fio condutor em cada uma de suas pinturas ou desenhos, onde os retirantes, flautistas e dançarinos, alguns de seus temas prediletos, transmitem ao observador uma visão madura mas algo lúdica das realidades cotidianas brasileiras, vividas intensamente por este que foi, sem sombra de dúvida, um dos maiores artistas do modernismo brasileiro.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Desenho de Henri Lebasque - A drawing from Henri Lebasque

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This post written in portuguese is about a drawing from Henri Lebasque, a study for the important painting " Mon fils", that was joined to the collection of works on paper and that is going to be exhibited at MISP - Museu do Interior Sul Paulista
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Outro artista que está presente na coleção de papéis é Henri Lebasque. Pintor pós-impressionista francês, amigo de Segonzac e de Pierre Bonnard e que expôs juntamente com Maximilien Luce e Paul Signac, constituindo-se dessa forma em um dos mais importantes artistas franceses da primeira metade do sec. XX.

Dono de uma paleta equilibrada e de um desenho despojado mas muito preciso, Lebasque trouxe para suas obras muito da paisagem e da vida alegre francesa. Suas meninas com chapéus de laços de fita, os nus de mulheres que parecem flutuar e as paisagens com pontes e lugares quietos e agradáveis chegam a trazer à lembrança algumas obras de mestres impressionistas como Pierre-Auguste Renoir e Camille Pissarro, este último tendo-o influenciado bastante, principalmente em algumas pinturas em técnica pontilhista.


A desenho que chegou para o acervo, como pode ser visto acima, retrata o filho do pintor executando uma escultura sobre um cavalete. Este desenho serviu de estudo para uma das obras mais importantes de Lebasque, de título "Mon Fils", reproduzida abaixo, que retrata o escultor trabalhando num canto de um jardim. 


Claro que passa a ser praticamente indiscutível a procedência e autenticidade da obra mas mesmo assim ela está certificada por Mme. Denise Bazetoux, expert e maior autoridade em Henri Lebasque, que incluirá a mesma na próxima edição do catálogo raisonné da obra do artista. Mais uma peça que valerá muito ser exposta e admirada pelos amantes das artes.

Um autêntico desenho de Jean Louis Forain - An Authentic drawing from Jean Louis Forain

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This post, written in portuguese, is related to a drawing from Jean-Louis Forain , joined recently to our collection, which has in its provenance track the sale of june/ 2002 at Christie's London and that is going to be exhibited at the "Museu do Interior Sul Paulista".
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O núcleo de papéis do acervo recebeu recentemente mais uma importante contribuição. Trata-se de um desenho de Jean-Louis Forain, pintor, desenhista e ilustrador pós-impressionista francês, que faleceu em julho de 1931. Famoso por suas caricaturas, era disputado pelos jornais da época para que ilustrasse suas publicações. De humor agudo, gostava de mostrar o lado cômico da vida, ora ridicularizando o que o mundo enaltecia, ora louvando o que o mundo desprezava. São famosas suas representações de tribunais, concertos e prostíbulos, nas quais desnudava nas expressões de seus personagens as verdadeiras intenções dos protagonistas, muitas vezes com paralelos a importantes membros da sociedade da época.

Jean-Louis Forain  "Cavalier" desenho a nanquin 

O desenho é executado em pinceladas rápidas e apesar de sua simplicidade é nítido o perfeito sentido de conjunto e de perspectiva.
No verso  há um esboço de uma cena da sociedade da época executado em grafite, representando um personagem masculino com a toga, o que nos faz crer que seja uma cena de tribunal, talvez presente em algum de seus quadros, hoje muito disputados nos leilões internacionais.

Jean-Louis Forain  "Personagens" desenho a lápis (verso)

Esta obra já esteve em leilão da Christie's de Londres, em junho de 2002, reproduzida sob o no. 20 do catálogo de da venda de Arte Contemporânea e Pós-Guerra, sendo que a autenticidade da mesma foi certificada na sala do pregão pela neta do pintor. Mais um belo exemplar que merece ser contemplado e quem sabe em breve, exibido numa mostra para o público. Estamos nos esforçando para isso.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Desenho de Albert Marquet - Drawing of Albert Marquet

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This post, written in portuguese, is about a drawing from Albert Marquet, which probably shows Pierre Auguste Renoir in his late years, and that is going to be exhibited at our future museum.
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Albert Marquet - Portrait de Renoir?

Em abril de 2009, publiquei neste blog uma pequena biografia de Albert Marquet, pintor pós-impressionista francês, amigo de Henri Matisse, e que foi, em minha opinião, um dos maiores coloristas do movimento "Fauve". Aliás, a postagem gira em torno da maestria com a qual o pintor tratava a cor. Sempre fui apaixonado pela obra de Marquet e no final do ano passado, consegui trazer para o acervo um pequeno exemplar, um desenho, do famoso mestre de Bordeaux. É uma peça simples, como mostra a reprodução acima, mas também permite perceber como Marquet desenhava de maneira solta e rápida. Poucos traços e a figura está definida. Arriscaria até a dizer que o artista tenha feito um esboço de Renoir em seus últimos anos. A mão contorcida da figura como ponto central, denuncia talvez a intenção de realçar a deformação gerada pela artrite que tanto fez sofrer o grande mestre impressionista. A foto logo abaixo de Renoir com Marquet e Matisse talvez possa embasar a suspeita. Mas é só um palpite. Percebam o detalhe da mão fechada de Renoir, como mostra o desenho.

Renoir na cadeira de rodas, Marquet à esquerda e Matisse em pé no centro em 1918



No verso da obra, reproduzido abaixo, temos um esboço rapidíssimo de um nu feminino, muito característico quando comparado com outros desenhos de Marquet.


Uma assinatura com a iniciais "a.m" alinhava a obra, que é de uma leveza impressionante. Realmente simples mas sem dúvida um Marquet.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Uma pequena pintura atribuída a Renoir IV - A small painting attributed to Renoir (part IV)

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English abstract
This is the last post of four, describing the the research and study of a painting attributed to Pierre Auguste Renoir, "Le Pont Alexandre III". The text below written in portuguese, contains some comments about medium, accuracy of execution and precision of some paintings based on historical information from books about the artist, including "Mon Pére", the book from Jean Renoir, son of the artist. The reader will find also, at the end of the post, some comments about the supposed signature of "Le Pont Alexandre III" and a final paragraph where it's asked about how many technical, stylistic and historical evidences and coincidences are necessary for the "experts" in Renoir to authenticate the painting and include it at the forthcoming landscapes volume of the Catalogue Raisonné. Anyway the painting is for sale. Price upon request.
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Nesta que será a última postagem sobre o nosso pequeno quadro, faremos apenas algumas considerações com relação a informações extraídas da enorme bibliografia por nós consultada ao longo do processo de autenticação e pesquisa.
Existem alguns especialistas que se assustam com a precisão de nossa obra, com o argumento de que Renoir não teria essa destreza em função da doença, ou que não tinha a busca do detalhe como princípio em sua pintura. Para contrapor estes argumentos, diríamos apenas que a artrite começou a realmente incomodar Renoir a partir do Natal de 1898, quando ele sentiu a grande crise da doença. Antes disso, ele sentia alguns incômodos mas não deixou, segundo suas próprias palavras, de pintar ou desenhar um dia sequer. Ainda como argumento pela riqueza de detalhes, não podemos esquecer que o pintor começou sua carreira artística pintando porcelanas de Sévres, as quais são minúsculas e cheias de detalhes. Renoir, mesmo mais velho, chegou a fazer esboços de porcelanas e tamanhos bem pequenos, quando ele já não dispunha de movimentos das mãos, isso após 1912. A figura abaixo é um exemplo de um esboço de faiança feito em tela, catalogado e leiloado recentemente na Alemanha.
Cabe também citar algumas pequenas pinturas, pertencentes à National Gallery de Washington, executadas quando da doença já em estado avançado, cujas dimensões são alguns poucos centímetros. Segundo palavras do filho do pintor, Jean Renoir, em seu livro Renoir Meu Pai, na página 435 da versão em português editada pela editora Paz e Terra, lê-se "...Jamais escorou o braço num apoio, jamais utilizou régua para estabelecer as proporções. Eu o vi pintando uma miniatura, um retrato de meu irmão Côco. Ele hesitou um instante sobre a fineza do pincel; depois pôs-se a pintar como se pintasse um outro quadro. Para enxergar os pormenores da semelhança perfeita, tivemos de empregar uma lupa...."
O fato descrito acima deve ter se dado por 1904, quando a doença já havia avançado bastante. Será que Renoir teria condições de pintar pequenos detalhes em pequenas obras? Ou a descrição acima é mera coincidência?
Com relação a pequenas obras, seria bom salientar a opinião do artista por duas obras de dois dos mais importantes artistas franceses, Corot e Delacroix, coletadas por um dos principais biógrafos de Renoir, François Fosca, em seu livro "Renoir". Conta o autor que quando da última visita de Renoir ao Louvre, em 1919, ano de sua morte, os acompanhantes do pintor, transportado pelo museu em cadeira de rodas, retiraram da parede "O interior de Catedral de Chartres" de Corot e " Interior de M. de Mornay" de Delacroix, para que pudesse vê-los com mais detalhes, quando exclamou: " Que maravilhas! Não há telas grandes com o valor destes dois pequenos quadros."

Acredito que Renoir também produziu suas obras primas em tamanhos reduzidos e talvez a Ponte Alexandre III seja uma delas. Quanto ao acabamento esmerado e preciso, o catálogo de venda da coleção Maurice Gangnat, que possuia nada menos que 160 Renoir, tinha uma introdução escrita por E.Faure, onde comentava que algumas paisagens presentes na venda, podiam ser datadas em torno de 1897, por sua fatura "muito precisa". A época, coincide com o da execução da Ponte Alexandre III o que já mostra que não há nada de estranho em sua execução. O leitor pode ver abaixo uma das obras pertencentes ao período citado, em dimensões maiores, mas que mostram a preocupação com o acabamento do artista. As pinceladas são retas e dão aos motivos limites bem definidos.
Apesar de simples, a obra acima "Vue de Villages- Essoyes", mostra os cantos das edificações bem definidos, bem como os contornos dos telhados. Interessante se perceber também a cor "castanho" das sombras no branco. É a mesma cor existente nas sombras dos pilares da ponte no nosso quadrinho. Será que são ...........coincidências?
Assinatura

Vamos tratar por fim daquilo que é considerado o maior tabu, e que muitos dos analistas subjetivos não querem nem pensar: a suposta assinatura, aquela que foi nossa provocação inicial na primeira postagem.

A figura acima mostra o que consideramos ser a assinatura da obra. Foi executada no quadrinho amarelo e possui aproximadamente 1cm de comprimento. O que nos leva a crer que seja a assinatura é o fato de ter sido feita propositalmente no canto inferior direito da placa amarela, a qual, por sua vez, possui o mesmo tamanho da placa azul no primeiro plano. Considerando que são embarcações semelhantes(vide foto abaixo tirada em 1900) as placas deveriam ter o mesmo tamanho, o que na perspectiva, faria com que a representação da placa amarela fosse menor.

Ora, se o artista manteve o tamanho da placa num ponto mais afastado do observador, numa cor que provoca inclusive um maior equilibrio da composição, com letras de formato induzido no canto inferior direito, não estaria ele dando uma outra importância à representação?

Apenas para uma comparação simples e estimular a reflexão do leitor, colocamos a imagem da suposta assinatura em preto e branco com algumas assinaturas extraídas do livro de Caplan. Os contornos ficam mais nítidos e é possível uma melhor visualização.







Fizemos inclusive um estudo matemático, relacionando as dimensões da pequena assinatura entre si e comparando os resultados gráficos com os resultados obtidos em assinaturas existentes nos livros de Caplan e Michel Drucker. Apesar das dificuldades de medição, as semelhanças são enormes e poderemos fornecer o estudo a quem solicitar.


O que acha o leitor? Estamos tão longe assim da verdade? Quantas coincidências mais deveríamos apresentar para que os senhores donos da verdade em Renoir aceitem nosso quadro como autêntico? Poderíamos ainda mostrar muitas outras imagens e dados que foram acumulados ao longo de anos de pesquisa e dedicação à causa da autenticidade, que só nos deixaram a certeza de que temos um autêntico Renoir. Temos a certeza e a confiança de que um dia, talvez em breve, conseguiremos a documentação de procedência, tão reclamada pelo Wildenstein Institute de Paris. A pesquisa prossegue e vamos chegar lá. Até a próxima!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Uma pequena pintura atribuída a Renoir III - A small painting attributed to Renoir (part III)

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English abstract
This post in portuguese contains some aditional information about the stylistic and technical analysis of the painting attributed to Pierre-Auguste Renoir "Le Pont Alexandre III" , as the comparison to other famous landscapes from the artist, the technical results from the pigment analysis at Mc Crone Associates in Chicago, the X-ray analysis and the brushstrokes analysis. All the many coincidences with the way Renoir used to work are pointed. Includes also some comments about the materials, like pigments and wood as a support on Renoir's ouvre, based on a statement from Paul Renoir, grandson of the artist. Any way the painting is for sale. Price upon request.
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Gostaria antes de continuar com os estudos sobre nossa pequena pintura, de pedir desculpas e um pouco de paciência ao leitor, pois nem todos estão afeitos a análises de estilo e execução. A bem da verdade, o estudo deste quadro durante décadas, foi a semente que originou este blog além de toda uma série de anotações, arquivos e imagens sobre pintura impressionista e principalmente, é claro, sobre Renoir.

Para dar sequência à demonstração da autenticidade, é interessante compararmos a pequena pintura com outras paisagens de Renoir que não tenham pontes nem margens de rio, para que seja possível verificar a estrutura e forma de execução semelhante, de modo a confirmar que o estilo pessoal, ou seja, a mão do pintor, está presente na Ponte Alexandre III.

Na figura abaixo, é possível a comparação com a " Paisagem do Midi", um óleo sobre tela de aproximadamente 19cm x 32cm, reproduzido em livro de Ambroise Vollard sobre Renoir de 1919. Percebam a estrutura, o ponto de fuga e a fatura. Apesar de que as imagens não permitam grande nitidez, é fácil de se perceber as mesmas pinceladas nervosas, rápidas e curtas no caminho da paisagem e na margem do nosso quadrinho.
É perceptível que a diagonal ascendente tem praticamente o mesmo ângulo com relação a horizontal que na Ponte Alexandre III e que o ponto de fuga é também obtido à direita, através de uma diagonal descendente do canto superior esquerdo ao centro direito da figura. Interessante também é perceber que na paisagem do Midi as edificações de fundo estão também centradas na composição.
Agora, vejamos rapidamente a comparação com a paisagem "Route a Louveciennes", que pertence ao Museu de Lilles na França, já de dimensões maiores, 32 x 43 aproximadamente.
Neste caso percebemos não só a estrutura e tipo de pincelada mas também a paleta, que é praticamente a mesma que a utilizada no nosso quadrinho. Se percebermos bem, os amarelos, os laranjas e o cinza das árvores do fundo são idênticos. Na paisagem, os verdes do fundo, que teoricamente estariam à mesma distância do observador que os existentes na Ponte Alexandre III, possuem a mesma forma de execução em forma esfumada, com toques de azul e amarelo para o efeito claro-escuro. Coincidências interessantes!


Análise Técnica
Entrando agora mais a fundo na parte técnica, claro que de forma breve como nas outras demonstrações, pois se fôssemos entrar em mais detalhes e comparações seriam necessárias muitas outras postagens, sem que de qualquer forma esgotássemos o assunto e seríamos por demais enfadonhos.
Suporte
Falemos primeiro do suporte, madeira. São muitos os estudiosos de Renoir que afirmam que Renoir não pintou em madeira. Cheguei a ouvir isso do próprio pessoal do Wildenstein Institute de Paris, que autenticam as obras de Renoir, pasmem-se. Ao longo da pesquisa, encontramos vários exemplares de obras de Renoir pintadas sobre madeira, sendo que algumas delas são painéis semelhantes ao do nosso quadrinho. Na figura abaixo segue uma natureza morta, muito bem acabada, que pertence ao Fitzwillian Museum, executada em painel de madeira e quase que com as mesmas dimensões do nosso, 13cm x 20cm.
Interessante perceber que o impasto representando a toalha da natureza morta é muito parecido com o do céu da Ponte Alexandre III. Outro fato a se ressaltar é que Paul Renoir, neto do pintor, durante uma palestra em Amsterdã, Holanda, na década de 90, afirmou que Renoir, após começar a ser atingido pela artrite reumatóide, quando acordava à noite com dores, pedia aos da casa as tintas e pincéis, e executava pinturas em " pequenos pedaços de madeira", como o mostrado abaixo. Percebam que a execução é atípica e cheia de detalhes. É provável que Renoir buscava pintar detalhes menores , que exigiam mais dos movimentos, justamente para não perder a destreza com a artrite que o atingia.



Para os conhecedores da obra de Renoir, é difícil dizer que a pintura acima tenha vindo das mãos do pintor, mas veio e pertencia ao acervo do neto do artista, o já falecido Paul Renoir. Mera coincidência.

Pigmentos e datação

A obra Ponte Alexandre III foi levada no ano de 2000 até a McCrone Associates, empresa americana sediada em Chicago, especializada em análise forense, que desenvolveu um método sofisticado de análise de pigmentos, tendo inclusive participado das perícias no Santo Sudário de Turin e no Mapa de Vinland. Polêmicas à parte, eles são extremamente rigorosos. Foram extraídas 14 pequenas amostras de pigmento do quadrinho, com a utilização de uma agulha de tungstênio especial, em vários setores da pintura. A análise por espectroscopia de Raios-X e por Raios Ramam confirmou a paleta de Renoir, e em função dos pigmentos utilizados determinou a data aproximada da execução como sendo do final do sec.XIX e início do sec. XX, e mais que isso, mostrou ainda uma série de procedimentos que eram quase que exclusivos da forma de Renoir trabalhar.
A tabela abaixo mostra os resultados obtidos para as cores analisadas.
Apesar de não estar muito legível( poderemos enviar uma cópia do relatório a quem se interessar), os resultados fornecem informações interessantíssimas: 1) O pigmento vermelho, seja ele vermelhão ou mesmo laca de garança, está disseminado pela obra inteira. Em alguns locais, o vemelho é visto pincelado, o que indica que o provável esboço tenha sido feito com ele;2) O pigmento branco à base de chumbo ( branco prata) está presente mesclado em todas as cores;3) A cor preta está composta pelo preto de marfim, branco prata, azul de cobalto e amarelo cádmio.


As três formas de execução acima, combinadas em um mesma obra, formam um dos maiores argumentos em favor da autenticidade, pois são muito peculiares ao artista e estão descritas pelos maiores biógrafos do pintor. Albert André, pintor e amigo de Renoir, descreveu no livro das obras do atelier, que Renoir empregava o esboço em vermelho e depois ia adicionando os pigmentos e dando os volumes, sempre iniciando pelo branco prata. Jean Renoir, filho do pintor, por sua vez descreveu em seu livro, Renoir Meu Pai, que Renoir utilizava o preto marfim misturado a outras cores, com base numa experiência que o pintor havia tido na juventude, ao observar bem próximo as manchas pretas dos cavalos baios, que possuiam pêlos de outras cores além do preto. Não bastando isso, Jean Renoir diz que Renoir, mesmo no final de sua vida, sempre esteve aberto a experiências com outros pigmentos, tendo utilizado pigmentos que não constavam em sua paleta básica, cuja descrição está presente em muitas biografias. Coincidência?
Pincelada
Mesmo não tendo imagens muito nítidas, é possível se comparar algumas características de pinceladas do nosso quadrinho com as encontradas em quadros reconhecidamente catalogados como Renoir, como a paisagem de Cagnes. Nas figuras abaixo, o leitor pode fazer algumas observações importantes como por exemplo, a velocidade de execução, a quantidade de impasto, o ângulo de entrada do pincel na superfície, o comprimento e etc. As semelhanças são incríveis. Deve-se levar em consideração que a paisagem utilizada como base tem dimensões de 7cm x 14cm, ou seja, bem menor que nosso quadrinho.



As imagens dentro dos retângulos, possuem grande semelhança. Se considerarmos as escalas, veremos que os comprimentos, larguras e ângulos são totalmente proporcionais. A execução esfumada dos verdes é mais um ponto em comum, aliás aparecendo constantemente nas obras de Renoir de pequeno formato. São apenas mais algumas coincidências.


Análise do Raio-X

Observando atentamente a imagem digitalizada do raio-x da Ponte Alexandre III que segue abaixo, poderemos ver coisas interessantes, que longe estão de serem como "nuvens no céu", como alguns poderiam pensar. As diferentes nuances na imagem são devidas aos elementos componentes dos pigmentos, que permitem em maior ou menor grau a passagem da radiação, imprimindo consequentemente no filme fotográfico o resultado desta "permeabilidade".


Percebe-se sem muito esforço, principalmente no campo de imagem relativo ao céu, uma série de "sombras" e riscos, indicando que o pedaço de madeira foi extensivamente usado, talvez como paleta de testes, muito comum no processo criativo de Renoir segundo alguns biógrafos. No centro do barco em primeiro plano, percebemos uma pequena figura humana que foi coberta pelo artista e por fim, no setor marcado com um retângulo, é possível ver um monograma em tonalidade escura. Esses são apenas alguns pontos. Na verdade, o raio-x também serve para mostrar que foi uma obra executada a um toque, de forma rápida e sem titubeios. Não houve qualquer hesitação. Coisas de um mestre ou coincidências?



Em apenas mais uma futura postagem, concluiremos o estudo resumido da obra atribuída a Renoir, Ponte Alexandre III, com mais algumas coincidências a serem apontadas, que somadas às que já mostramos, restringem em muito a gama de artistas por quem esta obra pode ter sido executada. O mais interessante é que não se encontram argumentos contra a atribuição. Tudo, como já dissemos, contribui para a autenticidade. Até a próxima!