sábado, 25 de julho de 2009

Alfredo Volpi e as bandeirinhas

Recentemente tive a oportunidade de visitar a filha do grande pintor Alfredo Volpi, D. Eugenia. Tive uma emoção muito grande por poder pisar num "solo sagrado" da pintura brasileira, que é a casa do pintor no bairro do Cambuci em São Paulo. Lá foi possível também ter contato com algumas obras do artista, daquelas que só vemos em livros, de vez em quando em exposições e raramente no mercado.

Quadros ainda figurativos, como o reproduzido abaixo, Retrato de Hilde Weber, uma vez vistos pessoalmente, e mais, quando estudados nos detalhes, nos ensinam muito sobre o trabalho e a obra de Alfredo Volpi.

Volpi era, além de um grande artista, um grande artesão e trabalhador. Fazia o que gostava e gostava do que fazia. Isso é perceptível em cada detalhe de seus quadros. A evolução de sua obra ao longo de sua carreira, mostra como a visão que o artista tem do mundo se transforma com o tempo, e o que das impressões que o meio lhe causam são transportadas para as telas. No caso de Volpi, o seu compromisso maior acabou sendo com a cor. A geometria obtida com as chamadas "bandeirinhas", foi o estágio final de uma linguagem que buscava transmitir sensações cromáticas equilibradas ao observador. A bem da verdade, só o próprio artista sabia no seu íntimo o que realmente via e buscava nas suas telas. As bandeirinhas eram na verdade, quadrados ou retângulos dos quais se tiravam um triângulo. Seus arcos talvez fossem estágios finais de uma visão dos arcos das portas de suas fachadas, que por sua vez foram paisagens e casarios que aos poucos perderam a perpectiva e ganharam representação em apenas duas dimensões. Uma vez questionado sobre as bandeirinhas que pintava, exclamou:"Mas eu não pinto bandeirinhas. Quem pinta bandeirinhas é o Pennacchi". Desta expressão podemos obter muitas respostas para entender quem foi Alfredo Volpi.
Muitas das pessoas que hoje conhecem ao menos o nome Volpi, o relacionam diretamente com as tais bandeirinhas, e não tem conhecimento do longo caminho trilhado pelo artista, que começou pintando figuras e paisagens em pedaços de papelão e tampas de caixas de charuto, como a reproduzida abaixo, possivelmente pintada em Itanhaém, na qual se percebe a maestria de execução. Pinceladas rápidas, precisas e com impasto generoso, extraindo da paisagem todas as impressões que lhe agradavam, com uma qualidade alcançada por poucos. Realmente coisa de mestre.
Na verdade, para os mais desavisados, é difícil estabelecer uma relação entre as paisagens e por exemplo a obra abaixo reproduzida, Menino Jesus com o globo na mão, onde a figura e a geometria se misturam.


Se na comparação acima é difícil perceber uma relação, na fachada abaixo, a simplificação comentada é patente, e também mostra uma etapa na evolução da obra de Alfredo Volpi, onde a cor ganha maior importância e se sobrepõe à forma.


Nos elementos circulares abaixo, podemos perceber, talvez como já comentado, uma forma simplificada de ver os arcos das portas de suas fachadas, onde novamente o que importa é a cor e o equilibrio cromático da composição. Apesar da assimetria das formas, a obra é perfeitamente equilibrada e não "pende" para nenhum dos lados.




E por fim, uma de suas composições com bandeirinhas, o seu estágio final, pelo qual Volpi se tornou mundialmente conhecido. Nesta obra, chamada de "Ogiva" vê-se o coroamento de uma carreira de mais de 70 anos de pintura, de um artista que amou intensamente o que fez e deixou um legado de trabalho expresso em telas, hoje muito disputadas por colecionadores do Brasil e do exterior.
Volpi é sem sombra de dúvida, um dos maiores artistas que este Brasil já viu, e sua obra, mesmo já tendo sido tão estudada, ainda com certeza merecerá novas análises, pois o conteúdo pictórico e o repertório de criação que carrega é quase que inesgotável.

domingo, 19 de julho de 2009

Leilão Renot de Agosto 2009

Quero pedir desculpas aos meus leitores habituais pela ausência de novas postagens nos últimos dias. Tivemos problemas técnicos de conexão em função de um temporal há quase um mês, que só foram possíveis de se solucionar esta semana. Felizmente estamos de volta com informações na área das artes plásticas em geral.

Recomeçamos com alguns detalhes sobre o próximo leilão do Renot, que ocorrerá no próximo dia 3 de Agosto em São Paulo. Destaque para o Aldemir Martins reproduzido abaixo, "Vaso de Flores", um óleo de 1949, que participou da exposição no Masp, está reproduzido no livro "Aldemir Martins por Aldemir Martins" e tem estimativa entre R$ 80 e R$ 90 mil.



Outro destaque é o enorme óleo(1,87x2,10m) de Mario Gruber reproduzido abaixo, "Três músicos", de 1972, cuja estimativa é de R$ 60 a R$ 80mil, e que fala por si.


O leilão está ainda rechedo de boas peças de artistas como Cícero Dias, Arcângelo Ianelli, Ismael Nery e Manabu Mabe entre muitos outros. Vale a pena conferir. O leilão será nas dependências da galeria, que fica na Alameda Ministro Rocha Azevedo, 1327, nos Jardins em São Paulo. Mais informações no site www.renot.com.br e boas compras.