segunda-feira, 16 de março de 2009

O Wildenstein Institute


Como já havia dito em uma postagem anterior, vou aos poucos informando ao leitor alguns caminhos a seguir para aqueles que querem autenticar obras de artistas estrangeiros, principalmente os franceses ou que atuaram a maior parte do tempo na França, e que foram consequentemente "adotados" como o sendo pertencentes ao país.

Para começar, vou falar um pouco sobre aquele que é o responsável por uma parte considerável das autenticações de alguns dos maiores nomes da pintura e escultura européias. Trata-se do Wildenstein Institute, sediado em Paris à rua de La Boétie, 57, no coração dos Champs Elysées. Sucessor da Fondation Wildenstein, o instituto é hoje dirigido por Guy Wildenstein, e é composto por dois braços distintos: um de pesquisa, catalogação e certificação de obras de arte, e outro de publicações, principalmente dos catálogos raisonnés pelos quais são responsáveis. No prédio da rue de La Boétie, um enorme palacete do século 18, devem trabalhar no máximo umas quarenta pessoas, nos dois segmentos mencionados. Geralmente, os especialistas em cada artista, são convidados a trabalhar sob o patrocínio do Wildenstein Institute, que de certa forma, dá as cartas no processo de autenticação de cada obra.


Só para se ter uma idéia do poder que o instituto tem, segue abaixo uma relação de alguns nomes de artistas dos quais ele é o responsável pela catalogação, certificação e edição do respectivo catálogo raisonné:

- Gustave Caillebotte, Gustave Courbet, Paul Gauguin, Théodore Géricault, Ingres, La Tour, Edouard Manet, Claude Monet, Berthe Morisot, Odilon Redon, Auguste Rodin, Seurat, Velázquez, Pierre-Auguste Renoir, Fernand Léger, Albert Marquet, Amedeo Modigliani, Camille Pissarro, Kees Van Dongen, Maurice de Vlaminck, Édouard Vuillard e Francisco de Zurbarán, entre muitos outros.


E, como é de se esperar, com todos esse poder nas mãos, os Wildenstein vão ao longo do tempo, arrumando uma boa série de inimigos. Já existem vários processos contra o Wildenstein Institute correndo nas cortes parisienses, por parte de colecionadores que se acharam injustiçados pela não inclusão de suas obras em catálogos raisonnés editados, e muitos deles já transitaram em julgado com sérias derrotas impostas aos Wildenstein.


Da minha parte, o que posso dizer é da experiência pessoal que tive com eles em 1999. São difíceis, secos, impessoais e até grosseiros sob certo aspecto. Fui do Brasil para lá, e Daniel Wildenstein sequer quis me receber. Concordo que eles possuem um certo poder de Midas e que todo cuidado é pouco para não cometer erros, mas me senti constrangido( mas se eu fosse um banqueiro.....). Consegui passar pela terceira porta do instituto e ser recebido por Mme. Decroocq, que à época era responsável pelos catálogos Redon e Modigliani. Fui tratar do Renoir, do qual já postei o processo anteriormente, e confesso que me assustei quando me apresentaram a responsável pelo comitê Renoir naquele momento: uma jovem de vinte e poucos anos de nome Ruth Legrand, que não me inspirou grande confiança e muito menos deixou transparecer que tinha bom conhecimento sobre o artista. Na verdade, do que todos se valem ao se aproximar do instituto para lá trabalhar, são dos arquivos, um dos mais extensos e completos da Europa. Com isso, já dá para perceber que a última palavra sobre quais obras entram nos catálogos é mesmo dos Wildenstein. De qualquer forma, não consigo me acostumar com a idéia de que um dos maiores comerciantes de arte do mundo( eles possuem galerias em Nova Iorque, Tóquio e Buenos Aires, com acervo na casa de bilhões de dólares) possa ser certificador de obras tão raras, importantes e caras, e o pior, com a conivência de muita gente de peso do mercado. Mas, ouvi muitas pessoas do próprio mercado parisiense, dizer que já não aguentam mais a postura déspota dos Wildenstein. Seria muito bom se os comitês fossem totalmente independentes, fora dos muros do instituto, possivelmente encabeçado por gente da reunião dos museus franceses. Não que fosse melhorar muito mas já daria um toque de indepedência que hoje não existe. Com isso, todos os que têm alguma obra de algum artista dos citados acima para autenticação, preparem o estômago e boa sorte! Eles são duros de engolir. Para quem domina o inglês e deseja entender um pouco mais do que foi dito acima, assista o documentário no link abaixo feito pela BBC de Londres. É de chorar!
http://www.youtube.com/watch?v=SBCADQL7Nio