segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

O Brecheret de Itapê



Há tempos que desejo postar algo sobre a escultura de Victor Brecheret que se encontra no Centro Cultural de Itapetininga(vide foto acima), no meio do burburinho dos bancos e estabelecimentos comerciais. A peça já está na exposta na cidade há vários anos, fruto de um comodato entre a família de Julio Prestes e a prefeitura do município. Pena que, em minha opinião, foi muito pouco divulgada a sua existência.

D. Maria Prestes, artista plástica que faleceu recentemente, pintora de grande qualidade e professora, com quem tive aulas de pintura, me dizia que essa escultura, presente de Brecheret ao seu tio Júlio Prestes, foi um dos primeiros estudos escultóricos para a realização do Monumento às Bandeiras, que está no Parque do Ibirapuera em São Paulo.

Executada em gesso com aproximadamente um metro de comprimento, a escultura traz em suas linhas sinuosas o mais intenso modernismo de Brecheret que o consagrou mundialmente. Hoje, está exibida com uma proteção de vidro, para evitar que as pessoas passem as mãos sobre a peça, como já o fizeram anteriormente, testemunhado pelo "encardido" sobre as crinas dos cavalos. Com o título de "O Esforço", está exposta num canto da sala onde se encontram alguns pertences, documentos e outras obras em bronze oriundas do acervo do eminente político itapetiningano, orgulho da terra, que Getúlio Vargas impediu que assumisse a presidência do Brasil. Aliás a palavra "esforço" foi realmente a base para o imaginário do escultor desenvolver a escultura final, projeto de intelectuais paulistas de 1920 que levou 33 anos para ficar pronta e ser inaugurada em 1954, no ano do Quarto Centenário. E toda essa demora por meras questões políticas...Vale a pena uma visita.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Virgílio Lopes Rodrigues- Pintor de marinhas

Virgílio Lopes Rodrigues - Canoa em Copacabana osm  27x41cm

Virgílio Lopes Rodrigues foi um pintor de paisagens e marinhas nascido em Recife em 1863, que, por suas próprias palavras, se considerava amador. Transferindo-se para o Rio de Janeiro no final do sec. XIX, foi comerciante de arte e de artigos para pintura e com isso travou conhecimento e amizade com muitos pintores do final do sec.XIX e da primeira metade do sec.XX como por exemplo Santa-Olalla, de quem recebeu orientações e o incentivo para que ingressasse como aluno no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Mesmo mantendo a pintura em segundo plano em suas atividades, começa a expor em 1897, tendo participado de inúmeras exposições vindo inclusive a receber a Grande Medalha de Prata na Exposição Geral de 1930. Sem dúvida um reconhecimento pela sua tenacidade e perseverança. Faleceu no Rio de Janeiro em 1944, deixando uma produção razoável de pinturas, geralmente executadas em suportes alternativos como pedaços de madeira e tampas de caixa de charutos.

Atualmente, as obras de Lopes Rodrigues são relativamente bem disputadas no mercado, principalmente as marinhas, pois contém em sua maioria a reprodução da iconografia dos recantos cariocas, numa paleta agradável e madura, onde os contornos das canoas se dissolvem em jogos de luz e sombra que refletem o calor e beleza das praias da cidade maravilhosa. Acima, reproduzo uma das obras de Lopes Rodrigues do acervo, reproduzindo uma canoa na praia, iconografia predileta do pintor. É sempre bom ficar de olho quando uma dessas aparecer nos leilões por aí.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Uma pequena pintura atribuída a Renoir V - Algumas opiniões - A small painting attributed to Renoir (part V) - Some Opinions

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Abstract
This post in portuguese refers to some opinions about the quality of the painting coming from some important curators, restorers and from people of Andre Chenue, one of the most important companies on art transport and conservation in France.
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Le Pont Alexandre III - atribuído a Renoir

Após alguns anos das primeiras postagens sobre nosso pequeno Renoir, Le Pont Alexandre III, resolvi publicar algumas opiniões, informais é claro, de gente do meio da arte do Brasil e do exterior. Servirão apenas como endosso para o árduo trabalho de pesquisa que fizemos ao longo dos últimos 20 anos.

A primeira delas foi dada no começo do processo por Domingo Tellechea, restaurador argentino renomado estabelecido em São Paulo. Uma das atribuições de Tellechea foi como restaurador/conservador do Masp, cujo acervo dispensa comentários. Quando em 1996, levado por Claudia Cseri, artista plástica e restauradora, ao ateliê de Tellechea, que foi seu professor, apresentei a pintura de forma despretensiosa, sem moldura ou qualquer outra forma de apresentação formal, inclusive sequer dizendo qual seria a atribuição. Domingo Tellechea tomou a obra nas mãos, arregalou os olhos e com voz embargada nos disse: "Que maravilha, que obra espetacular, que execução de mestre. Não posso afirmar de quem é mas é com certeza de um grande mestre". Peguei a pintura e viemos embora. De Tellechea não necessitava ouvir mais nada.

Uma segunda opinião nos veio por parte de Eugenia Gorini Esmeraldo, curadora/conservadora do Masp. Um dia em 2000, eu já tendo passado pelo Masp várias vezes em conversas e pesquisas com Ivani Di Grazia e Eugenia Gorini, recebo um telefonema da última com um tom um tanto esbaforido no qual disse:"Rui, achei seu quadro!". Na verdade Eugenia havia visto uma imagem da obra de Renoir  "Pont des Arts et l'Institute" do Norton Simon Foundation, cujo esquema de execução é muito semelhante ao do nosso pequeno quadro. Com o bom olho que Eugenia tem, pela qualidade da pintura, associou imediatamente ao nosso quadro. Aparentemente aos olhos dela, quem fez um, fez o outro. No mínimo interessante.

A terceira opinião que vou descrever agora, foi talvez a mais contundente de todas. É necessário contudo um preâmbulo. Em setembro 1999, rumei a Paris com o intuito de apresentar nosso quadrinho ao Wildenstein Institute, responsável pela catalogação e consequentemente autenticação das obras de Renoir, desde a morte de François Daulte, como já descrito nas postagens anteriores. Minha viagem a Paris foi coalhada de "surpresas". A maior delas foi quando me apreenderam a obra no aeroporto Charles De Gaulle, ao tentar declará-la para a entrada na França. Eu não sabia, e ninguém mesmo da Receita Federal do Brasil do aeroporto de Cumbica pois perguntei a eles, que era necessário a realização de um processo de exportação e importação temporária, para que a obra pudesse entrar e posteriormente sair do território francês para o expertise. A preocupação do governo francês é simplesmente com o imposto eventualmente devido, caso a obra fosse comercializada em território francês. Graças a Deus, me correspondia à época com um rapaz francês, de nome Mark Sokolovitch, que atuava no mercado de arte fina, e me conseguiu a realização do processo pelo pessoal da Andre Chenue, a maior empresa de transporte, movimentação, embalagem e desembaraço aduaneiro de obras de arte da França. Ao custo de 2.000 euros, fui "salvo" pelo pessoal da Chenue, que ficou como fiel depositária da obra no território francês, enquanto durasse minha permanência lá. Tanto que a obra permaneceu guardada nos seus cofres, entre as idas e vindas do Wildenstein Institute, até o dia da minha partida. Interessante salientar que o pessoal da Andre Chenue, realiza também os trabalhos de conservação de algumas coleções públicas e privadas francesas. Ou seja, conhecem muito da arte da melhor qualidade que existe. E foi justamente no dia da minha partida, quando fui retirar a obra para me dirigir ao aeroporto, que Mme. Marceaux, uma senhora francesa morena de olhos algo puxados, com estatura pouco superior a 1,50m mas que mandava em boa parte das operações da Andre Chenue no escritório de Porte de la Chapelle, me entregou a obra vinda dos cofres no andar inferior e me disse : "Monsieur Rui, o pessoal lá de baixo - falou apontando para os andares inferiores onde ficavam os cofres e o setor de expertise e conservação - pediu para avisá-lo de que esta obra é muito boa! Aqui está ela, tome cuidado" e me entregou o envelope onde estava depositada. Confesso que o meu caminho de volta para o hotel e depois para o aeroporto foi dos momentos mais tensos que já passei na minha vida. É só pesquisar sobre a André Chenue e vão descobrir sobre o peso de uma opinião como essa.

São por essas e ainda outras, que continuo otimista que vamos conseguir a autenticação. Quem sabe em breve.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

The Brooklyn Museum - Uma grata visita



Há poucos dias, minha esposa e eu retornamos do casamento de meu filho mais velho, que se deu no Brooklyn, sub-distrito de Nova York. Além das ruas com casarões altos que recheiam os filmes de Hollywood, o Brooklyn possui uma intensa vida cultural, com diversos espetáculos e exposições, capitaneados principalmente pelo Brooklyn Museum, cuja fachada se vê acima.

O museu possui um excelente acervo com obras surpreendentes. Na coleção achamos Picasso, Monet, Rodin, Courbet, Feininger entre muitos outros, principalmente de artistas da escola norte-americana. Inaugurado em 1895, o imponente prédio possui cinco andares de exposições, entre temporárias e do acervo permanente, cuja visitação é tranquila pois não está no burburinho de Manhatan como o MET e o MoMa, os principais museus de Nova York.


Para dar exemplo da qualidade do acervo, reproduzo acima um dos Monet da coleção, uma vista do parlamento de Londres, uma das principais e mais valorizadas fases do artista. Simplesmente espetacular.


O museu possui também obras do período medieval e do renascimento, além de uma coleção de peças arqueológicas da Mesopotâmia e Egito como a placa Assíria reproduzida acima. Acervo de primeira e lazer garantido para quem for a Nova York e quer evitar a correria de Manhatan. Próximo também do museu há a biblioteca do Brooklyn. Um suntuoso edifício cujo acervo também merece uma visita. Um grande país se faz com educação e cultura. Deveríamos aprender a fazer o mesmo aqui no Brasil...

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Ottone Zorlini redescoberto



Foi com grande emoção que encontrei a obra reproduzida acima, uma técnica mista sobre papel, já algo oxidado, tido na ocasião como de autoria desconhecida. Na verdade, o trabalho veio das mãos de Ottone Zorlini, artista de origem italiana que chegou ao Brasil no começo do século XX. Está inclusive assinado e datado de 4-11-60. Pintor, escultor, desenhista e ceramista, Zorlini é considerado por muitos, inclusive pelo saudoso Pietro Maria Bardi, como pertencente ao grupo Santa Helena, uma vez que pintou durante muito tempo nas décadas de 30 e 40 ao lado de Volpi, Zanini e Rebolo, membros máximos do referido grupo. O fato de sua obra também estar fundada nas paisagens, marinhas e figuras, endossa ainda mais a afirmação.

Ottone Zorlini nasceu em Gorgo al Monticano - Treviso, na Itália em 1891 e faleceu em São Paulo em 1967. Estudou na Academia de Belas Artes de Veneza e ainda na Itália, trabalhou como ceramista e escultor. Em 1927, quando chega ao Brasil, tem íntimo contato com a colônia italiana da cidade e já no ano seguinte realiza o famoso Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico. Por sua atividade intensa na área do desenho, pintura e escultura, participa inclusive da formação do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo. É sem sombra de dúvida um dos nomes mais importantes da pintura figurativa paulista, tendo participado de inúmeras exposições individuais e coletivas.

O Instituto Volpi (www.institutovolpi.com.br) divulga em seu site o Projeto Ottone Zorlini, que catalogará a importante obra do artista. Vale a pena acompanhar.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Exposição Catadores

Neste último sábado, fomos ao SESI Itapetininga para um concerto da Banda Sinfônica do Estado de São Paulo, aliás muito bom por sinal, e nos deparamos no espaço de exibições no hall de entrada do teatro, a chamada Galeria SESI, com uma exposição de título "Catadores". Com curadoria de Sérgio Vaz, a mostra itinerante patrocinada pelo SESI São Paulo expõe fotografias, vídeos e uma escultura, cujo tema principal são os catadores de rua, esses anônimos seres humanos que ganham a vida com os rejeitos e sobras da sociedade. Com base no trabalho de dois artistas mineiros, Daniel Moreira (fotógrafo)  e Leandro Gabriel ( escultor), a mostra traz à tona a marginalidade social de homens e mulheres que sobrevivem do caminhar infatigável pelas ruas das cidades e grandes metrópoles a recolher papelão, vidros, latas e outro qualquer item que possa ser trocado pela ração do seu sustento.





O registro fotográfico de homens e animais, estes últimos utilizados para puxar as carroças, além de extrema qualidade plástica é impactante. Nos deparamos com seres humanos como nós, mas que muitas vezes desprezamos pelo simples fato de que o objeto do seu trabalho, o lixo, nos causa repugnância.


O escultor Leandro Gabriel, realizou para a mostra uma escultura executada com retalhos de chapa coletadas por um desses catadores representados, a exemplo do que já faz há muitos anos em seu ateliê, transformando sucata e material reciclável em obras de arte, sendo que várias já ocupam até espaços em coleções de museus e praças públicas. Algumas peças chegam inclusive a lembrar o bom Caciporé Torres, apesar de que acredito não ter havido qualquer interação entre Leandro e o escultor de Araçatuba.

Reputo como uma mostra a ser vista e degustada. Além da beleza estética fará o observador refletir sobre os possíveis anônimos, almas e seres de carne e osso, que temos todos os dias sob nossos olhares e que não percebemos. Vai valer a pena. Para mais informações segue o link da mostra  http://www.sesisp.org.br/cultura/exposicao/catadores.html .

terça-feira, 24 de maio de 2016

Ernesto De Fiori - Um belo desenho


                 Há uns anos achei o desenho a carvão reproduzido acima, de autoria de Ernesto De Fiori, em um leilão em São Paulo. Impressionante, mas ninguém deu atenção ao trabalho, talvez por se tratar de um retrato. Posteriormente vim a saber que a obra estava certificada pela sobrinha-neta do artista e reproduzida num belo catálogo da Companhia da Artes, daqueles leilões muito bem produzidos pelos Cohn.
                 Quem gosta de arte moderna paulista e se interessa principalmente pelos artistas do Grupo Santa Helena e da Família Artística Paulista sabe muito bem quem foi Ernesto De Fiori. Nascido em Roma em 1884 e naturalizado alemão, foi escultor, pintor e desenhista. Estudou e trabalhou na Itália e na Alemanha, vindo em 1936 para o Brasil. Se estabeleceu em São Paulo, onde travou conhecimento com Volpi, Zanini e Rossi Osir, artistas estes que sofreram grande influência de seu desenho e pintura vigorosos e soltos. Existem algumas paisagens de Volpi da década de 40 por exemplo, onde a influência de De Fiori é latente nos traços pretos das figuras e nos contornos da vegetação e relevos, marca característica das pinturas do pintor ítalo-alemão. Importante também ressaltar que o artista passou pelas oficinas da Osirarte, deixando sua marca em alguns azulejos, trabalho apenas interrompido por sua morte prematura em 1945.

                  Existem várias referências bibliográficas sobre De Fiori mas citaria apenas o livro escrito por Mayra Laudanna quando da exposição retrospectiva do artista na Pinacoteca do Estado de São Paulo, no qual vemos reproduzidos, entre muitos outros trabalhos, alguns retratos desenhados a carvão pelo artista de grande semelhança ao desenho do nosso acervo, o qual será, sem sombra de dúvida, uma das estrelas das futuras exposições do MISP.

sábado, 21 de maio de 2016

Um pequeno desenho de Aldo Bonadei


Acima vemos mais uma obra interessante que foi incorporada ao acervo há alguns anos, e que também pretendemos expor no MISP. Trata-se de um desenho à tinta de Aldo Bonadei, a quem já há tempos estamos devendo uma justa homenagem.

A obra em questão foi feita em Dois Irmãos, município no caminho de Uruguaiana, para onde Bonadei viajou juntamente com o amigo Fúlvio Pennacchi em 1945, para auxiliá-lo na execução das pinturas da Igreja Matriz daquela cidade.
O que impressiona no desenho é a leveza e precisão da execução direta à tinta, sem qualquer traço prévio a lápis. Nessa viagem Bonadei pintou várias paisagens e fez alguns esboços "sur le motif, parte deles inclusive em cadernos como mostrado no livro de Lisbeth Rebollo Gonçalves sobre o artista, para serem transformados posteriormente em telas ou simplesmente guardados.

A obra é simples e despretenciosa mas valerá muito a pena ser contemplada.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Atilio Baldocchi - Um mestre-pintor paulista

Atilio Baldocchi - Margens do Rio Tietê - 1933

                 A obra acima, de autoria de Atilio Baldocchi, foi um desses achados que nos deixam gratificados. Pintura de paleta madura e bom desenho, consegue ser harmônica mesmo com um motivo difícil de pintar, onde a maior parte da execução são reflexos. Participante da mostra "Marinhas e Ribeirinhas" no Museu Lasar Segall em 1982, a obra mostra barcos no Rio Tietê e os reflexos do céu, margens, casas e dos próprios barcos nas águas puras do rio em 1933.
                Atilio Baldocchi foi desenhista, pintor e professor. Discípulo de Beniamino Parlagreco, nasceu em São Paulo em 1901, vindo a falecer na mesma cidade em 1984, dois anos após a mostra citada. Pintava principalmente paisagens e naturezas mortas, sendo que uma destas integra o acervo do Museu Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro. Morou durante muitos anos em São João da Boa Vista, no interior do estado de São Paulo, onde produziu boa parte de suas obras, infelizmente não muito conhecidas do público em geral, apesar da grande qualidade das mesmas. Artista premiadíssimo, participou de inúmeras exposições, algumas delas com outros nomes fortes da pintura brasileira como Alfredo Volpi e José Perissinoto. Vale a pena um olhar atento por quem gosta de boa pintura.
             

É Zanini. Mas será que também pode ser Volpi?

Mario Zanini -  Pescadores -Máscara para pintura de azulejo - tmp - 15cm x 15cm

                     No ano passado, 2015, adquirimos num leilão uma peça interessante: Uma máscara para marcação do biscoito, nome dado ao azulejo antes da queima, de autoria de Mario Zanini(vide reprodução acima). Um desenho refinado  feito em sanguínea, cujas linhas foram perfuradas para "passar" a marcação do desenho sobre a base a ser pintada. Com certeza é da década de 40, período em que Zanini, assim como outros artistas do grupo Santa Helena, participaram da produção de azulejos na Osirarte de Paulo Claudio Rossi Osir, capitaneados por Volpi e o próprio Zanini, auxiliados por Hilde Weber e outros mais que tiveram passagem rápida pelo ateliê como Franz Krajcberg e Ernesto De Fiori.
                      Existem no mercado várias versões do azulejo, todas elas vindas dessa máscara, onde há entre elas variações das cores, detalhes das figuras e do fundo, mas sendo que as figuras são basicamente as mesmas. Abaixo temos a reprodução de uma dessas versões.

Mario Zanini - Pescadores - Azulejo Osirarte - 15cm x 15cm
                       O curioso da história desta aquisição é que localizei num catálogo de outubro de 2005 da Soraia Cals do Rio de Janeiro a imagem abaixo, de um desenho a carvão atribuído a Alfredo Volpi, procedente de uma coleção de peso, cujo motivo é exatamente, ou quase, o desenho da máscara que temos hoje no acervo. Sabe-se que Volpi e Zanini andavam sempre juntos à época e que muitos trabalhos na própria Osirarte foram feitos a quatro mãos, mesmo que a assinatura fosse apenas de um deles. Minha dúvida é se os desenhos tinham a mesma consideração e tratamento.

Alfredo Volpi - carvão sobre papel - 15cm x 15cm

É fácil perceber que as mínimas curvas estão presentes no carvão atribuído a Volpi. Será que foram daquelas obras feitas a quatro mãos? No mínimo, como já disse, é curioso e interessante.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Excepcionais obras para coleção

Gilberto Salvador
Prezados leitores, não é bem a finalidade deste espaço mas vou aproveitá-lo para oferecer ao público em geral algumas obras do acervo, em sua maioria óleos e acrílicos. Havendo interesse, façam contato por email e fornecerei os detalhes.

Logo acima vemos Gilberto Salvador e abaixo temos Jorge Casteran, Giancarlo Zorlini, José Paulo Moreira da Fonseca, Carlos Bastos, Escola Européia com selo da Sotheby's Inglaterra, Scliar, Jorge Vidgili, Paulo do Valle Jr, Maria Prestes, Sorensen, Saint Clair Cemin, Francisco Aurélio de Figueiredo, Fogaça, Luiz Zilveti, Colete Pujol, Virgílio Lopes Rodrigues, Virgílio Della Monica, Sophia Tassinari e Zanini.


Jorge Casteran
Jorge Casteran
Giancarlo Zorlini
Josè Paulo Moreira da Fonseca
Carlos Bastos
Escola Européia (Sotheby's)
          
         Carlos Scliar
Jorge Vidgili



     
     Paulo do Valle Jr.
                                                                     
Maria Prestes                                                                                               
Carlos Sorensen

Saint Clair Cemin
Francisco Aurélio de Figueiredo
Fogaça
Jorge Vidgili

Paulo do Valle Jr.

Luis Zilveti

Virgílio Lopes Rodrigues
Colete Pujol
Virgílio Lopes Rodrigues
                                                                                                 
Virgílio Della Monica
Sophia Tassinari
      
Mario Zanini

sábado, 7 de maio de 2016

Pequeno Antonio Bandeira redescoberto



A obra reproduzida acima, foi encontrada em um leilão do interior de São Paulo, e, a princípio, tinha autoria desconhecida. Trata-se de uma técnica mista sobre cartão, com aproximadamente 6cm x 8cm, com uma assinatura e aparentemente datado de 1948. Uma análise mais minuciosa revelou se tratar de uma pequena peça de autoria de Antonio Bandeira de 1948, ano em que o artista estava na França. O contato com a escola francesa da época, em constante ebulição de idéias e estilos, gerou em Bandeira uma necessidade de expressão com refinada liberdade de formas do ser humano e seus objetos mais próximos. A estilização das figuras tornou-se uma característica marcante das obras do primeiro período francês do artista, entre 1946 e 1950,  apesar de que poucos conhecem as não muitas obras dessa fase.

Perambulando por catálogos antigos vemos alguns exemplares "irmãos" maiores da pequena peça reproduzida no introito:



 

As imagens acima foram retiradas dos catálogos de Soraia Cals/ Evandro Carneiro e da Exposição Desconfigurações, e são bom exemplo da temática e técnica utilizadas por Bandeira à época citada. Temos em mãos sem dúvida, uma pequena pérola da obra deste magnífico artista que foi Antonio Bandeira.

terça-feira, 12 de abril de 2016

Que tal achar um Caravaggio no sótão?


Caravaggio - Judith decapitando Holofernes

O quadro acima, que mostra a cena bíblica de Judith decapitando Holofernes, general de Nabucodonosor, foi recentemente confirmado por alguns especialistas como vindo das mãos do artista lombardo Caravaggio. Apesar de não ser uma unanimidade entre os especialistas, o quadro foi considerado autêntico pelos experts em Caravaggio Eric Turquin e Nicola Spinoza, este último ex-diretor do Museu de Nápoles e considerado um dos maiores especialistas na obra do artista. O mais interessante é que o quadro foi encontrado no sótão de uma casa no sudoeste da França, e a princípio foi atribuído a Louis Finson, um contemporâneo de Caravaggio. Talvez se este quadro tivesse sido encontrado aqui no Brasil ou em algum outro país das Américas, ele teria sido considerado uma cópia, falsificação ou outra coisa semelhante. Quando a redescoberta é na Europa, sempre a visão é diferente e falo isso com certa experiência. De qualquer forma, quem tem sótão com coisas antigas seria bom dar uma olhada...

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Modigliani, Panama Papers e o mercado de arte internacional



O Modigliani acima, Homem com Bengala, tem sido motivo de uma luta judicial entre Philippe Maestracci, neto do falecido marchand parisiense Oscar Stettiner e a família Nahmad, dona da Nahmad Gallery de Nova York, comandada por Helly Mahmad, um homem relativamente jovem de feição fechada, que aparentemente nunca sorri e que vive sempre em apuros com a polícia e a justiça, cujo pai David Nahmad, controla o IAC - International Art Center, uma offshore que recentemente apareceu na divulgação dos Panama Papers, como sendo parte de um esquema internacional de sonegação fiscal e ocultação de patrimônio. Fontes do mercado, estimam que o acervo do IAC, estocado no freeport de Genebra - Suiça, beira os US$ 4 bi. Detalhes dessa história mostram inclusive um lado sombrio do mercado internacional de arte fina, onde não faltam manipulações de preços, simulação de leilões e outras práticas ilegais, aparentemente em acordos escusos com marchands e as grandes casas de leilões internacionais. A partir de agora, vamos ter que analisar muito bem as vendas de arte internacional, para sabermos se houve mesmo o arremate ou simplesmente uma jogada onde esteja envolvida uma offshore sediada numa ilha do Atlântico ou do Pacífico, talvez em cima de um coqueiro...Resta admirar o Modigliani.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Luís Zilveti - pintor boliviano contemporâneo


Luís Zilveti - Cocina no.6 - óleo sobre tela

A obra reproduzida acima, de autoria de Luís Zilveti, é uma das pinturas do núcleo de arte latino-americana que pretendemos expor em nosso futuro museu.

Luís Zilveti nasceu em La Paz, Bolívia, em 1941 e desde a década de 1970 reside em Paris. Desenhista, pintor e muralista, possui um estilo figurativo inconfundível, com seus motivos imersos em brumas, nuvens e sombras. Estudou na Escola de Belas Artes de La Paz e depois arquitetura na Universidade San Andres. Em 1967 seguiu para Paris como bolsista na Cité Internationale des Arts em prêmio conferido pela Fundação Patiño, frequentando em seguida na mesma cidade o ateliê de gravura de Friedlander.

Possui inúmeros prêmios e suas obras e murais estão presentes em museus e coleções particulares na Europa e nas três Américas, possuindo inclusive verbete no importante dicionário de arte e artistas Benezit. É considerado um dos mais importantes artistas contemporâneos bolivianos da atualidade.

segunda-feira, 14 de março de 2016

Mercado de Arte Internacional em baixa?


Gallery assistants carry the painting 'Tete de femme' by Pablo Picasso during a media preview of Impressionist and Modern Art Evening Sale at Sotheby's in London, Britain January 28, 2016. The picture is estimated to sell for between 16 -20 million British pounds when it is auctioned on February 3 in London.REUTERS/Stefan WermuthEDITORIAL USE ONLY. NO RESALES. NO ARCHIVE ORG XMIT: SWT05
Picasso - Tête de femme - vendido por US 27 milhões  Fonte: Uol - Folha

Matéria de hoje da UOL - Folha comenta a queda dos negócios no mercado de luxo internacional, no qual se inclui o mercado de arte fina. O exemplo do quadro reproduzido acima de Picasso, Tête de Femme, que havia sido comprado por Jho Low em 2013 por US$ 40 milhões, alcançou recentemente a cifra de US$ 27 milhões, conferindo ao seu proprietário um sonoro prejuízo. Pergunto a mim mesmo: será que foi mesmo vendido? A questão é que o mercado de arte internacional também foi inflado nos últimos anos pela política de expansão monetária da União Européia, EUA e China. Grandes volumes de dinheiro a juros praticamente zerados, sem sombra de dúvida contribuíram para que um processo especulativo se estabelecesse no mercado de arte. O caso do Picasso descrito acima me parece um bom exemplo. Em minha opinião, comprador de Picasso que se preze, adquire a obra e a retém por um bom tempo, para maturação do investimento. Comprar em 2013 para vender em 2016 soa a mercado financeiro especulativo, aliás, uma das especialidades de Jho Low, ou então que ele esteja quebrado, o que não acredito.

Arte fina é e continuará sendo uma excelente opção como reserva de valor em momentos de crise como a que estamos vivendo. Claro que existem limites a serem avaliados quando da compra, principalmente se ela for com vistas a investimento. Deixar-se levar pela emoção em um leilão para adquirir uma peça de valor como um Picasso, só se justifica pela paixão pela arte e pelo prazer que a contemplação de obras primas nos transmitem, ou até mesmo pelo prazer de possuir algo único, desejado por muitos, como pura fruição. 

No Brasil, temos notícias de que o mercado está algo paralisado mas, ao contrário do noticiado lá fora, os preços das obras primas não caíram. Sentimos sim o achatamento de preços nas obras de nível intermediário, geralmente comercializados junto à classe média, esta sim extremamente atingida pela crise financeira. Outro fator foi o aparecimento de inúmeros leilões "on line", o que aumentou a oferta de obras com a consequente derrubada nos preços.

Jamais me arrependi de indicar o investimento em arte fina, principalmente em períodos de crise, quando temos excelentes oportunidades, como uma forma de multiplicação de patrimônio. É escolher bem e com bom critério, que o resultado será excepcional. Além é claro e principalmente, do deleite gerado pela contemplação de uma boa obra de arte. É experimentar para nunca mais parar de fazê-lo.

terça-feira, 8 de março de 2016

Gregory Fink, é uma honra!


Sem título, 90x150, técnica mista sobre painel - Fonte: site do artista

Hoje pela manhã, ao abrir meus emails, fui surpreendido pelo gentil convite feito pelo artista plástico Gregory Fink para adicioná-lo ao network do LinkedIn. Dentro de minha pequenez, me senti imensamente lisonjeado. Artista de renome, sua fama atravessou oceanos e suas obras já embelezam paredes de coleções particulares e museus pelo mundo, onde se ressaltam EUA, Inglaterra, França e Itália.

Sua pintura, em minha opinião, se caracteriza de maneira geral por um figurativismo lírico, cheio de gestualidade, no qual percebemos um "que" de Modigliani aliado a um desenho de expressão de Segall dos primeiros anos com um sotaque de Inos dos anos 60, realçado por um colorido ora orientalista pela diluição, ora "fauve" pela intensidade e pureza, conferindo às suas pinturas uma característica única, indelével e inconfundível, cujo fio condutor revela a sensibilidade e carinho com que o artista as executa. Sem sombra de dúvida ficará na história.

Gregory Fink, é uma honra!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Jorge Vidgili - Lembram dele?

Dos artistas que passaram pela Projecta Galeria de Arte, que pertenceu ao meu falecido sogro José Luiz Pereira de Almeida, um dos que mais impressionou pela técnica e desenho refinados aplicados às suas obras foi Jorge Vidgili. Lá ele expôs duas vezes, uma individual e outra coletivamente, ambas na década de 70, quando a galeria começava. Tendo as marinhas como tema principal, usava da transparência com a qual mesclava bambuzais, troncos e folhagens ao mar da Praia Grande, que adotou como local para viver e criar.

Jorge Vidgili - Natureza morta com cerâmica - do acervo

As naturezas mortas também faziam parte de sua temática, onde abóboras e cocos recebiam tratamento hiper-realista, sempre entremeados a cerâmicas, molduras ou fundos algo enigmáticos, despertando no observador uma necessidade de análise além da contemplação, mas que sempre ficará aquém do verdadeiro pensamento do gênio criativo.

Jorge Vidgili- Sem título - do acervo

Não são raras também as composições de cunho surrealista, onde a técnica de execução esmerada com desenho preciso, nos transportam como mágica para a cena da tela, que possui um mundo à parte de texturas e movimentos, onde figuras, animais e objetos com seus volumes, luzes e sombras, já por si provocam o olhar e deixam transparecer uma inquietação e um questionamento até quase selvagem do artista com relação à existência e aos relacionamentos que dela emanam.

Há uma referência de um texto biográfico da Ranulpho Galeria de Arte, onde Vidgili expôs, que diz que o artista faleceu em 1999. Acredito que possa ser possível, uma vez que não encontramos no mercado qualquer obra posterior a essa data, Mas como já ocorreu com outros artistas que pesquisamos, ele pode estar ainda vivo e quieto em algum canto, talvez produzindo ou quem sabe meio brigado com o mundo. Tenho uma relação de artistas que adotaram esse comportamento e com isso não estranharia. De qualquer forma as obras de Jorge Vidgili são raras atualmente e começam a chamar a atenção quando aparecem pela enorme beleza e qualidade, num mundo onde a abstração talvez esteja dando sinais de saturação e cansaço. Dificilmente uma dessas pinturas passa um leilão sem vender. Vale a pena ficar atento.