sábado, 1 de fevereiro de 2014

Resgatando um pouco de Maty Vitart


Maty Vitart foi uma das artistas que expôs na galeria de meu falecido sogro, José Luiz Pereira de Almeida, a Galeria Projecta. A exposição ocorreu em 1977 e dela só consegui resgatar um convite que estava perdido em meio a papéis antigos na casa de minha sogra. Como sempre gostei do trabalho dela, busquei no mercado alguns desenhos e técnicas mistas, como a reproduzida abaixo, que apareceram "perdidos" em leilões. O termo "perdidos" é devido ao fato de que Maty Vitart é muito pouco conhecida atualmente pelo meio artístico e são raros os agentes que possuem alguma informação sobre ela. Após um período de muita atividade até os anos 80, a artista se retirou do eixo Rio-São Paulo. Pelo que descobri, foi morar no Centro-Oeste brasileiro com o esposo, permanecendo lá em torno de 15 anos. Posteriormente o casal mudou-se para São Manuel, município do interior do estado de São Paulo, onde montaram a Oficina Vitart, que produz móveis artesanais. Não consegui ainda descobrir se Maty ainda desenha e pinta. O mais interessante é que a sua ausência no mercado fez com que alguns pensassem até que ela havia morrido. Cheguei a ver obras em leilões onde se colocava uma data de falecimento com um ponto de interrogação ao lado. O fato é que a procura por obras da artista cresceu recentemente, principalmente pela excelente qualidade, o que fez os preços invariavelmente subirem. E o trabalho que a artista realizou vale o preço. 


Suas cenas de conteúdo surrealista são impactantes. Algumas, como a paisagem surrealista reproduzida acima, chegam até a lembrar alguma coisa de Cícero Dias. Seus animais e figuras humanas desformes, executados com desenho refinado e colorido ora suave, ora até quase inexistente, nos remetem a reflexões de nossa própria existência, de nossos sonhos, medos e desejos mais íntimos, aqueles que talvez não queiramos que ninguém saiba mas que a artista, com maestria, os confina na superfície de uma tela ou papel, e nos faz defrontar-nos com os mesmos, como que diante de um espelho, um espelho mágico que reflete nossas almas.
Maty Vitart nasceu em 1955 na cidade de Marrakesch, no Marrocos, vindo ainda criança para o Brasil. Residindo inicialmente em Recife, Pernambuco, lá travou conhecimento com os artistas locais, como João Câmara Filho, em cujo ateliê aprende a técnica da litografia. Vindo para São Paulo em 1974, começou a colaborar como ilustradora em jornais e revistas. Seu trabalho de desenhista logo chamou a atenção e com isso iniciou uma série de exposições individuais e coletivas, no Brasil e no exterior, das quais podemos destacar a exposição individual no Museu de Arte de São Paulo e a Bienal Internacional de São Paulo de 1976. No exterior ressaltamos a exposição na Galeria Debret em Paris, o que nos faz pensar que não será impossível encontrar alguma obra sua perdida por lá. É bom ficar de olhos bem abertos.