quinta-feira, 28 de maio de 2009

Arte Latinoamericana na Sotheby's New York

Acabou de ocorrer o leilão de arte Latinoamericana da Sotheby's de Nova York. Não dá para dizer que foi um sucesso, infelizmente. Algumas das obras mais importantes do evento não foram arrematadas, como a obra que foi capa do catálogo "Chiki, Ton Pays" de Leonora Carrington, cuja estimativa entre US$ 1,2 e 1,6 milhão deve ter assustado os possíveis interessados. Nota favorável a alguns dos artistas brasileiros presentes no acervo ofertado, como por exemplo Cândido Portinari, cuja obra "Cangaceiro", já apresentada em postagem anterior e que possuia estimativa entre US$ 80 e 100 mil, que foi arrematada por US$ 314.500, aliás, resultado já esperado por este blog. O desempenho das obras de Portinari em termos de preços em leilões internacionais, em nossa opinião, ainda está longe do patamar de estabilidade e , salvo tempestades imprevistas, deve aumentar muito em futuro breve. Tudo fruto do sério trabalho de catalogação realizado pelo Projeto Portinari, que permitiu ao mundo da arte uma melhor visualização e compreensão da obra do artista.

Outro artista brasileiro cuja obra não refugou diante das dificuldades e incertezas do mercado de arte internacional foi Cildo Meireles, que teve a técnica mista "Jogo da Velha Série C3B", reproduzida abaixo, vendida por US$ 98.500, diante de uma estimativa inicial de US$ 60 a 80 mil.



De maneira geral, o resultado do leilão, que faturou um total de US$ 9.442.625, com aproximadamente 60% dos lotes vendidos, deixou a desejar. Obras de artistas de peso como Wifredo Lam, Siqueiros entre outros notáveis, não encontraram comprador. O fato provoca ao menos a reflexão: consequência da crise ou baixa qualidade das obras oferecidas?

Quanto a nós brasileiros, continuamos esperando um trabalho de divulgação sério de nossa arte, que com certeza tem muito a oferecer ao mundo. Até a próxima.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Arcângelo Ianelli - O adeus ao mestre

Morreu ontem em São Paulo aos 86 anos, Arcângelo Ianelli, um dos maiores nomes história da arte brasileira recente. Nascido em São Paulo em 1922, ano da Semana de Arte Moderna que de alguma forma revolucionou as artes no Brasil, Ianelli começou a pintar na dec. de 40, quando recebeu os primeiros ensinamentos de Colette Pujol. Participou do Grupo Guanabara, do qual foi um dos fundadores, e juntamente com artistas como Sophia Tassinari e Fukushima, pintou as várzeas e arredores de São Paulo, iniciando-se num figurativismo de desenho preciso e colorido equilibrado, que ao longo de sua carreira foi se transformando numa abstração geométrica, a qual na sua última fase se reduziu a estudos cromáticos de valor das cores, onde as obras mostravam "vibrações", aliás, palavra título de algumas delas. Ao longo de sua extensa carreira, chegou a pintar com Pancetti na Bahia e com Mario Zanini em Itanhaém, mas o que mais importava era a amizade que os ligava. Ianelli era amigo de todos.


Arcângelo Ianelli em seu ateliê. Fonte: Folha de São Paulo - Cristina C. Branco

Já há muito tempo que Ianelli vinha sendo homenageado pela sua magnífica obra. Inúmeras foram as exposições retrospectivas, com destaque para as que se deram na Pinacoteca do Estado de São Paulo em 2002 e do MAB FAAP em 2004. Nesta última, com o nome "Os Caminhos da Figuração", com curadoria dos filhos do artista Kátia e Rubens, foi mostrada de forma consistente, parte da transição que a obra do artista sofreu ao longo dos anos, caminhando para a abstração. O belíssimo catálogo editado à época é, inclusive, peça indispensável na biblioteca de quem admira o artista.


Arcângelo Ianelli foi além de pintor um desenhista e gravador de primeira. Sua obra contém além de telas e obras em papel algumas colagens e técnicas mistas como a reproduzida acima da dec. de 70, que apresentam resultados surpreendentes apesar da simplicidade de execução. Foi um mestre e seu reconhecimento só tende a aumentar, pois como homem discreto e humilde, nunca fez muita questão de publicidade. A fama veio pela qualidade do trabalho realizado. Um trabalho de artesão, executado com cuidado e amor nos mínimos detalhes.
A curadoria da obra do artista está hoje a cargo de Kátia Ianelli, filha do artista, a quem também nos unimos, e aos demais familiares, neste momento de tristeza pelo passamento deste grande homem e artista que foi Arcângelo Ianelli mas, com a certeza de que lá no céu sua obra continua, pois, como ele mesmo disse: "Não há morte para os que delegam ao objeto da criação o poder da vida". Saudades de Ianelli.