segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Uma pequena pintura atribuída a Renoir V - Algumas opiniões - A small painting attributed to Renoir (part V) - Some Opinions

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Abstract
This post in portuguese refers to some opinions about the quality of the painting coming from some important curators, restorers and from people of Andre Chenue, one of the most important companies on art transport and conservation in France.
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Le Pont Alexandre III - atribuído a Renoir

Após alguns anos das primeiras postagens sobre nosso pequeno Renoir, Le Pont Alexandre III, resolvi publicar algumas opiniões, informais é claro, de gente do meio da arte do Brasil e do exterior. Servirão apenas como endosso para o árduo trabalho de pesquisa que fizemos ao longo dos últimos 20 anos.

A primeira delas foi dada no começo do processo por Domingo Tellechea, restaurador argentino renomado estabelecido em São Paulo. Uma das atribuições de Tellechea foi como restaurador/conservador do Masp, cujo acervo dispensa comentários. Quando em 1996, levado por Claudia Cseri, artista plástica e restauradora, ao ateliê de Tellechea, que foi seu professor, apresentei a pintura de forma despretensiosa, sem moldura ou qualquer outra forma de apresentação formal, inclusive sequer dizendo qual seria a atribuição. Domingo Tellechea tomou a obra nas mãos, arregalou os olhos e com voz embargada nos disse: "Que maravilha, que obra espetacular, que execução de mestre. Não posso afirmar de quem é mas é com certeza de um grande mestre". Peguei a pintura e viemos embora. De Tellechea não necessitava ouvir mais nada.

Uma segunda opinião nos veio por parte de Eugenia Gorini Esmeraldo, curadora/conservadora do Masp. Um dia em 2000, eu já tendo passado pelo Masp várias vezes em conversas e pesquisas com Ivani Di Grazia e Eugenia Gorini, recebo um telefonema da última com um tom um tanto esbaforido no qual disse:"Rui, achei seu quadro!". Na verdade Eugenia havia visto uma imagem da obra de Renoir  "Pont des Arts et l'Institute" do Norton Simon Foundation, cujo esquema de execução é muito semelhante ao do nosso pequeno quadro. Com o bom olho que Eugenia tem, pela qualidade da pintura, associou imediatamente ao nosso quadro. Aparentemente aos olhos dela, quem fez um, fez o outro. No mínimo interessante.

A terceira opinião que vou descrever agora, foi talvez a mais contundente de todas. É necessário contudo um preâmbulo. Em setembro 1999, rumei a Paris com o intuito de apresentar nosso quadrinho ao Wildenstein Institute, responsável pela catalogação e consequentemente autenticação das obras de Renoir, desde a morte de François Daulte, como já descrito nas postagens anteriores. Minha viagem a Paris foi coalhada de "surpresas". A maior delas foi quando me apreenderam a obra no aeroporto Charles De Gaulle, ao tentar declará-la para a entrada na França. Eu não sabia, e ninguém mesmo da Receita Federal do Brasil do aeroporto de Cumbica pois perguntei a eles, que era necessário a realização de um processo de exportação e importação temporária, para que a obra pudesse entrar e posteriormente sair do território francês para o expertise. A preocupação do governo francês é simplesmente com o imposto eventualmente devido, caso a obra fosse comercializada em território francês. Graças a Deus, me correspondia à época com um rapaz francês, de nome Mark Sokolovitch, que atuava no mercado de arte fina, e me conseguiu a realização do processo pelo pessoal da Andre Chenue, a maior empresa de transporte, movimentação, embalagem e desembaraço aduaneiro de obras de arte da França. Ao custo de 2.000 euros, fui "salvo" pelo pessoal da Chenue, que ficou como fiel depositária da obra no território francês, enquanto durasse minha permanência lá. Tanto que a obra permaneceu guardada nos seus cofres, entre as idas e vindas do Wildenstein Institute, até o dia da minha partida. Interessante salientar que o pessoal da Andre Chenue, realiza também os trabalhos de conservação de algumas coleções públicas e privadas francesas. Ou seja, conhecem muito da arte da melhor qualidade que existe. E foi justamente no dia da minha partida, quando fui retirar a obra para me dirigir ao aeroporto, que Mme. Marceaux, uma senhora francesa morena de olhos algo puxados, com estatura pouco superior a 1,50m mas que mandava em boa parte das operações da Andre Chenue no escritório de Porte de la Chapelle, me entregou a obra vinda dos cofres no andar inferior e me disse : "Monsieur Rui, o pessoal lá de baixo - falou apontando para os andares inferiores onde ficavam os cofres e o setor de expertise e conservação - pediu para avisá-lo de que esta obra é muito boa! Aqui está ela, tome cuidado" e me entregou o envelope onde estava depositada. Confesso que o meu caminho de volta para o hotel e depois para o aeroporto foi dos momentos mais tensos que já passei na minha vida. É só pesquisar sobre a André Chenue e vão descobrir sobre o peso de uma opinião como essa.

São por essas e ainda outras, que continuo otimista que vamos conseguir a autenticação. Quem sabe em breve.