sexta-feira, 16 de maio de 2014

Beatriz Milhazes na Christie's


Neste último dia 13 de maio, na Christie's de Nova York, o quadro reproduzido acima de autoria de Beatriz Milhazes, com o título "Palmolive", alcançou a soma de US$ 1.685.000. Até que não fez feio numa venda de arte pós-guerra e contemporânea na qual compradores de 35 países arremataram o total, pasmem-se, de US$ 975 milhões em obras da mais fina nata da arte contemporânea internacional. Foram três dias de leilões onde algumas obras chegaram a ultrapassar a cifra de US$ 80 milhões, como "Black Fire I" de Barnett Newman, que foi vendida pela "pechincha" de US$ 84,165 milhões. Obras de artistas como Jeff Koons, Andy Warhol, Basquiat e Rotko foram vendidas por cifras acima dos US$ 30 milhões.

Quem sabe os ventos de preços explosivos de Nova York batam por aqui em nossa terra tupiniquim. Enquanto isso não acontece, tome Copa do Mundo...

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Resgatando um pouco de Maty Vitart


Maty Vitart foi uma das artistas que expôs na galeria de meu falecido sogro, José Luiz Pereira de Almeida, a Galeria Projecta. A exposição ocorreu em 1977 e dela só consegui resgatar um convite que estava perdido em meio a papéis antigos na casa de minha sogra. Como sempre gostei do trabalho dela, busquei no mercado alguns desenhos e técnicas mistas, como a reproduzida abaixo, que apareceram "perdidos" em leilões. O termo "perdidos" é devido ao fato de que Maty Vitart é muito pouco conhecida atualmente pelo meio artístico e são raros os agentes que possuem alguma informação sobre ela. Após um período de muita atividade até os anos 80, a artista se retirou do eixo Rio-São Paulo. Pelo que descobri, foi morar no Centro-Oeste brasileiro com o esposo, permanecendo lá em torno de 15 anos. Posteriormente o casal mudou-se para São Manuel, município do interior do estado de São Paulo, onde montaram a Oficina Vitart, que produz móveis artesanais. Não consegui ainda descobrir se Maty ainda desenha e pinta. O mais interessante é que a sua ausência no mercado fez com que alguns pensassem até que ela havia morrido. Cheguei a ver obras em leilões onde se colocava uma data de falecimento com um ponto de interrogação ao lado. O fato é que a procura por obras da artista cresceu recentemente, principalmente pela excelente qualidade, o que fez os preços invariavelmente subirem. E o trabalho que a artista realizou vale o preço. 


Suas cenas de conteúdo surrealista são impactantes. Algumas, como a paisagem surrealista reproduzida acima, chegam até a lembrar alguma coisa de Cícero Dias. Seus animais e figuras humanas desformes, executados com desenho refinado e colorido ora suave, ora até quase inexistente, nos remetem a reflexões de nossa própria existência, de nossos sonhos, medos e desejos mais íntimos, aqueles que talvez não queiramos que ninguém saiba mas que a artista, com maestria, os confina na superfície de uma tela ou papel, e nos faz defrontar-nos com os mesmos, como que diante de um espelho, um espelho mágico que reflete nossas almas.
Maty Vitart nasceu em 1955 na cidade de Marrakesch, no Marrocos, vindo ainda criança para o Brasil. Residindo inicialmente em Recife, Pernambuco, lá travou conhecimento com os artistas locais, como João Câmara Filho, em cujo ateliê aprende a técnica da litografia. Vindo para São Paulo em 1974, começou a colaborar como ilustradora em jornais e revistas. Seu trabalho de desenhista logo chamou a atenção e com isso iniciou uma série de exposições individuais e coletivas, no Brasil e no exterior, das quais podemos destacar a exposição individual no Museu de Arte de São Paulo e a Bienal Internacional de São Paulo de 1976. No exterior ressaltamos a exposição na Galeria Debret em Paris, o que nos faz pensar que não será impossível encontrar alguma obra sua perdida por lá. É bom ficar de olhos bem abertos.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Um Clóvis Graciano dos bons


A obra acima, de autoria de Clóvis Graciano, foi mais uma dessas descobertas que posso qualificar como emocionante. Estava por assim dizer "perdida" em um leilão no Rio de Janeiro, sendo o lote no. 1 do pregão. Não tive dúvida quanto à excelente oportunidade de adicionar ao acervo uma peça da melhor fase do artista, pertencente à série dos retirantes, de conteúdo social intenso e retratado com um expressionismo forte onde os gemidos de dor e sofrimento das figuras como que emanam e ressoam do plano da pintura. É desta fase um óleo sobre tela que, em tempos recentes, ultrapassou os R$ 150.000 no leilão da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro.
Contribuiu para a menor concorrência no leilão o estado precário de conservação e a descrição como "Acrílico sobre cartão", técnica que Graciano talvez nunca tenha utilizado. Mas valeu o risco e o lance de certa forma ousado, que gerou o arremate, muito comemorado, do Graciano de certa forma outrora desprezado.
Recebida a obra, vimos que na verdade trata-se de uma técnica mista sobre cartão colado em chapa de madeira industrializada, assinado e datado de 1945. O cartão deve ter sido guardado dobrado por anos e depois colado em chapa na tentativa de compensar os vincos. Apenas uma pequena parte do pigmento, que aparenta ser a óleo, se desprendeu, permitindo a contemplação da pintura em sua plenitude.

Existem pinturas famosas de Graciano desta mesma fase em alguns museus brasileiros, como a reproduzida abaixo, "Mulher ajoelhada" que pertence ao acervo do MAB FAAP, datada de 1944. A semelhança de técnica e execução é impressionante e só referencia o achado.


Clóvis Graciano nasceu no ano de 1907 em Araras, cidade do interior do estado de São Paulo, e começou sua vida artística pintando placas e tabuletas para a Estrada de Ferro Sorocabana. Em 1934 transferiu-se para São Paulo onde realiza estudos com Waldemar da Costa. Fez parte do Grupo Santa Helena e da Família Artística Paulista. Foi pintor, desenhista, gravador, ilustrador, figurinista, cenografista e principalmente muralista. Só na cidade de São Paulo se contam 120 murais de sua autoria. Foi adido cultural em Paris e diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Sempre fiel ao figurativismo, deixou uma obra na qual as questões sociais são sempre abordadas de forma incisiva (talvez influência do amigo e mestre Portinari), com uma técnica impecável e um estilo cuja evolução deixou um fio condutor em cada uma de suas pinturas ou desenhos, onde os retirantes, flautistas e dançarinos, alguns de seus temas prediletos, transmitem ao observador uma visão madura mas algo lúdica das realidades cotidianas brasileiras, vividas intensamente por este que foi, sem sombra de dúvida, um dos maiores artistas do modernismo brasileiro.