quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Exposição Antonio Bandeira na UNIFOR

Continuando nosso roteiro cultural em Fortaleza, tivemos o prazer de ver uma exposição magnífica sobre a vida e a obra de Antonio Bandeira, no Centro Cultural UNIFOR. Com coordenação do competente Max Perlingeiro, a mostra que já havia sido apresentada na Pinakotheke de São Paulo, ganha outro charme quando vista na terra natal do artista. Afinal, algumas das paisagens, praias, jangadas e principalmente a gente cearense, que muito inspiraram Bandeira em suas obras e poesias, estavam a poucos metros dali. Com uma perfeita divisão cronológica, onde a obra do artista pode ser analisada fase a fase e o fio condutor que liga cada uma delas perfeitamente determinado, o visitante se deleita com uma riqueza de informação que inclui textos, cadernos de apontamentos, utensílios e obras, sim, muitas obras que fazem cada qual um papel ímpar no corte transversal que a exposição realiza sobre a vida do artista. Com alguns desenhos raros e desconhecidos, várias aquarelas e técnicas mistas além de óleos magníficos, selecionados para a mostra de forma criteriosa, a exposição tem tudo para transportar o visitante ao mundo mágico no qual Bandeira vivia. Curiosidade é a apresentação de um filme documentário sobre o artista, infelizmente incompleto devido à sua morte prematura, sendo talvez as únicas imagens em movimento do artista, e que foram recuperadas recentemente pela cineasta Margarita Hernandez. Há também um espaço lúdico, para que as crianças visitantes, inspiradas pela mostra, soltem um pouco do Antonio Bandeira que há dentro delas.








Ao percorrermos a exposição, juntamente com estudantes e outros visitantes de todos os níveis da cidade de Fortaleza, descobrimos em cada obra, um detalhe adicional do lirismo abstrato de Bandeira. Mesmo em suas primeiras paisagens, realizadas na terra natal, a inquietação que pulsava dentro do artista é nítida, tanto quanto sua forma até certo ponto lúdica e festiva de ver o mundo que o cercava, desde a Praia de Mucuripe e seus pescadores em Fortaleza, passando pelo porto de Capri na Itália, o ateliê de Copacabana e até a névoa e o frio deitados sobre a sua Paris que tanto amou, que lhe fez inclusive uma vez ouvir, de um parisiense qualquer, ao ver de passagem uma tela sua em plena execução numa praça na capital francesa, a expressão:"Vous n'avez pas besoin de beau temps pour faire beau temps"( você não precisa de bom tempo para que se faça bom tempo).

Acima, a bela obra Cercle de Feu, de 1965, que na mostra da UNIFOR o visitante se depara logo na sua chegada ao ambiente da mostra, é um excelente exemplo de que a expressão espontânea descrita acima, dita pelo parisiense surpreso, é pura verdade. Acredito ser essa uma das mais belas e completas exposições sobre Antonio Bandeira, este ilustre artista cearense, nascido com o modernismo brasileiro em 1922, que cresceu com o sol sempre na frente dos olhos, olhos que se cerraram de forma abrupta na sua plena maturidade, em 6 de outubro de 1967, num acidente cirúrgico durante uma operação de garganta para retirada de um pólipo. Aquele pequeno bilhete, encontrado em meio a seus papéis, sem identificação ou assinatura, onde se lia "et ta gorge?" ( e sua garganta?) continuará eternamente esperando uma resposta.

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