quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Uma pequena pintura atribuída a Renoir IV - A small painting attributed to Renoir (part IV)

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English abstract
This is the last post of four, describing the the research and study of a painting attributed to Pierre Auguste Renoir, "Le Pont Alexandre III". The text below written in portuguese, contains some comments about medium, accuracy of execution and precision of some paintings based on historical information from books about the artist, including "Mon Pére", the book from Jean Renoir, son of the artist. The reader will find also, at the end of the post, some comments about the supposed signature of "Le Pont Alexandre III" and a final paragraph where it's asked about how many technical, stylistic and historical evidences and coincidences are necessary for the "experts" in Renoir to authenticate the painting and include it at the forthcoming landscapes volume of the Catalogue Raisonné. Anyway the painting is for sale. Price upon request.
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Nesta que será a última postagem sobre o nosso pequeno quadro, faremos apenas algumas considerações com relação a informações extraídas da enorme bibliografia por nós consultada ao longo do processo de autenticação e pesquisa.
Existem alguns especialistas que se assustam com a precisão de nossa obra, com o argumento de que Renoir não teria essa destreza em função da doença, ou que não tinha a busca do detalhe como princípio em sua pintura. Para contrapor estes argumentos, diríamos apenas que a artrite começou a realmente incomodar Renoir a partir do Natal de 1898, quando ele sentiu a grande crise da doença. Antes disso, ele sentia alguns incômodos mas não deixou, segundo suas próprias palavras, de pintar ou desenhar um dia sequer. Ainda como argumento pela riqueza de detalhes, não podemos esquecer que o pintor começou sua carreira artística pintando porcelanas de Sévres, as quais são minúsculas e cheias de detalhes. Renoir, mesmo mais velho, chegou a fazer esboços de porcelanas e tamanhos bem pequenos, quando ele já não dispunha de movimentos das mãos, isso após 1912. A figura abaixo é um exemplo de um esboço de faiança feito em tela, catalogado e leiloado recentemente na Alemanha.
Cabe também citar algumas pequenas pinturas, pertencentes à National Gallery de Washington, executadas quando da doença já em estado avançado, cujas dimensões são alguns poucos centímetros. Segundo palavras do filho do pintor, Jean Renoir, em seu livro Renoir Meu Pai, na página 435 da versão em português editada pela editora Paz e Terra, lê-se "...Jamais escorou o braço num apoio, jamais utilizou régua para estabelecer as proporções. Eu o vi pintando uma miniatura, um retrato de meu irmão Côco. Ele hesitou um instante sobre a fineza do pincel; depois pôs-se a pintar como se pintasse um outro quadro. Para enxergar os pormenores da semelhança perfeita, tivemos de empregar uma lupa...."
O fato descrito acima deve ter se dado por 1904, quando a doença já havia avançado bastante. Será que Renoir teria condições de pintar pequenos detalhes em pequenas obras? Ou a descrição acima é mera coincidência?
Com relação a pequenas obras, seria bom salientar a opinião do artista por duas obras de dois dos mais importantes artistas franceses, Corot e Delacroix, coletadas por um dos principais biógrafos de Renoir, François Fosca, em seu livro "Renoir". Conta o autor que quando da última visita de Renoir ao Louvre, em 1919, ano de sua morte, os acompanhantes do pintor, transportado pelo museu em cadeira de rodas, retiraram da parede "O interior de Catedral de Chartres" de Corot e " Interior de M. de Mornay" de Delacroix, para que pudesse vê-los com mais detalhes, quando exclamou: " Que maravilhas! Não há telas grandes com o valor destes dois pequenos quadros."

Acredito que Renoir também produziu suas obras primas em tamanhos reduzidos e talvez a Ponte Alexandre III seja uma delas. Quanto ao acabamento esmerado e preciso, o catálogo de venda da coleção Maurice Gangnat, que possuia nada menos que 160 Renoir, tinha uma introdução escrita por E.Faure, onde comentava que algumas paisagens presentes na venda, podiam ser datadas em torno de 1897, por sua fatura "muito precisa". A época, coincide com o da execução da Ponte Alexandre III o que já mostra que não há nada de estranho em sua execução. O leitor pode ver abaixo uma das obras pertencentes ao período citado, em dimensões maiores, mas que mostram a preocupação com o acabamento do artista. As pinceladas são retas e dão aos motivos limites bem definidos.
Apesar de simples, a obra acima "Vue de Villages- Essoyes", mostra os cantos das edificações bem definidos, bem como os contornos dos telhados. Interessante se perceber também a cor "castanho" das sombras no branco. É a mesma cor existente nas sombras dos pilares da ponte no nosso quadrinho. Será que são ...........coincidências?
Assinatura

Vamos tratar por fim daquilo que é considerado o maior tabu, e que muitos dos analistas subjetivos não querem nem pensar: a suposta assinatura, aquela que foi nossa provocação inicial na primeira postagem.

A figura acima mostra o que consideramos ser a assinatura da obra. Foi executada no quadrinho amarelo e possui aproximadamente 1cm de comprimento. O que nos leva a crer que seja a assinatura é o fato de ter sido feita propositalmente no canto inferior direito da placa amarela, a qual, por sua vez, possui o mesmo tamanho da placa azul no primeiro plano. Considerando que são embarcações semelhantes(vide foto abaixo tirada em 1900) as placas deveriam ter o mesmo tamanho, o que na perspectiva, faria com que a representação da placa amarela fosse menor.

Ora, se o artista manteve o tamanho da placa num ponto mais afastado do observador, numa cor que provoca inclusive um maior equilibrio da composição, com letras de formato induzido no canto inferior direito, não estaria ele dando uma outra importância à representação?

Apenas para uma comparação simples e estimular a reflexão do leitor, colocamos a imagem da suposta assinatura em preto e branco com algumas assinaturas extraídas do livro de Caplan. Os contornos ficam mais nítidos e é possível uma melhor visualização.







Fizemos inclusive um estudo matemático, relacionando as dimensões da pequena assinatura entre si e comparando os resultados gráficos com os resultados obtidos em assinaturas existentes nos livros de Caplan e Michel Drucker. Apesar das dificuldades de medição, as semelhanças são enormes e poderemos fornecer o estudo a quem solicitar.


O que acha o leitor? Estamos tão longe assim da verdade? Quantas coincidências mais deveríamos apresentar para que os senhores donos da verdade em Renoir aceitem nosso quadro como autêntico? Poderíamos ainda mostrar muitas outras imagens e dados que foram acumulados ao longo de anos de pesquisa e dedicação à causa da autenticidade, que só nos deixaram a certeza de que temos um autêntico Renoir. Temos a certeza e a confiança de que um dia, talvez em breve, conseguiremos a documentação de procedência, tão reclamada pelo Wildenstein Institute de Paris. A pesquisa prossegue e vamos chegar lá. Até a próxima!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Uma pequena pintura atribuída a Renoir III - A small painting attributed to Renoir (part III)

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English abstract
This post in portuguese contains some aditional information about the stylistic and technical analysis of the painting attributed to Pierre-Auguste Renoir "Le Pont Alexandre III" , as the comparison to other famous landscapes from the artist, the technical results from the pigment analysis at Mc Crone Associates in Chicago, the X-ray analysis and the brushstrokes analysis. All the many coincidences with the way Renoir used to work are pointed. Includes also some comments about the materials, like pigments and wood as a support on Renoir's ouvre, based on a statement from Paul Renoir, grandson of the artist. Any way the painting is for sale. Price upon request.
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Gostaria antes de continuar com os estudos sobre nossa pequena pintura, de pedir desculpas e um pouco de paciência ao leitor, pois nem todos estão afeitos a análises de estilo e execução. A bem da verdade, o estudo deste quadro durante décadas, foi a semente que originou este blog além de toda uma série de anotações, arquivos e imagens sobre pintura impressionista e principalmente, é claro, sobre Renoir.

Para dar sequência à demonstração da autenticidade, é interessante compararmos a pequena pintura com outras paisagens de Renoir que não tenham pontes nem margens de rio, para que seja possível verificar a estrutura e forma de execução semelhante, de modo a confirmar que o estilo pessoal, ou seja, a mão do pintor, está presente na Ponte Alexandre III.

Na figura abaixo, é possível a comparação com a " Paisagem do Midi", um óleo sobre tela de aproximadamente 19cm x 32cm, reproduzido em livro de Ambroise Vollard sobre Renoir de 1919. Percebam a estrutura, o ponto de fuga e a fatura. Apesar de que as imagens não permitam grande nitidez, é fácil de se perceber as mesmas pinceladas nervosas, rápidas e curtas no caminho da paisagem e na margem do nosso quadrinho.
É perceptível que a diagonal ascendente tem praticamente o mesmo ângulo com relação a horizontal que na Ponte Alexandre III e que o ponto de fuga é também obtido à direita, através de uma diagonal descendente do canto superior esquerdo ao centro direito da figura. Interessante também é perceber que na paisagem do Midi as edificações de fundo estão também centradas na composição.
Agora, vejamos rapidamente a comparação com a paisagem "Route a Louveciennes", que pertence ao Museu de Lilles na França, já de dimensões maiores, 32 x 43 aproximadamente.
Neste caso percebemos não só a estrutura e tipo de pincelada mas também a paleta, que é praticamente a mesma que a utilizada no nosso quadrinho. Se percebermos bem, os amarelos, os laranjas e o cinza das árvores do fundo são idênticos. Na paisagem, os verdes do fundo, que teoricamente estariam à mesma distância do observador que os existentes na Ponte Alexandre III, possuem a mesma forma de execução em forma esfumada, com toques de azul e amarelo para o efeito claro-escuro. Coincidências interessantes!


Análise Técnica
Entrando agora mais a fundo na parte técnica, claro que de forma breve como nas outras demonstrações, pois se fôssemos entrar em mais detalhes e comparações seriam necessárias muitas outras postagens, sem que de qualquer forma esgotássemos o assunto e seríamos por demais enfadonhos.
Suporte
Falemos primeiro do suporte, madeira. São muitos os estudiosos de Renoir que afirmam que Renoir não pintou em madeira. Cheguei a ouvir isso do próprio pessoal do Wildenstein Institute de Paris, que autenticam as obras de Renoir, pasmem-se. Ao longo da pesquisa, encontramos vários exemplares de obras de Renoir pintadas sobre madeira, sendo que algumas delas são painéis semelhantes ao do nosso quadrinho. Na figura abaixo segue uma natureza morta, muito bem acabada, que pertence ao Fitzwillian Museum, executada em painel de madeira e quase que com as mesmas dimensões do nosso, 13cm x 20cm.
Interessante perceber que o impasto representando a toalha da natureza morta é muito parecido com o do céu da Ponte Alexandre III. Outro fato a se ressaltar é que Paul Renoir, neto do pintor, durante uma palestra em Amsterdã, Holanda, na década de 90, afirmou que Renoir, após começar a ser atingido pela artrite reumatóide, quando acordava à noite com dores, pedia aos da casa as tintas e pincéis, e executava pinturas em " pequenos pedaços de madeira", como o mostrado abaixo. Percebam que a execução é atípica e cheia de detalhes. É provável que Renoir buscava pintar detalhes menores , que exigiam mais dos movimentos, justamente para não perder a destreza com a artrite que o atingia.



Para os conhecedores da obra de Renoir, é difícil dizer que a pintura acima tenha vindo das mãos do pintor, mas veio e pertencia ao acervo do neto do artista, o já falecido Paul Renoir. Mera coincidência.

Pigmentos e datação

A obra Ponte Alexandre III foi levada no ano de 2000 até a McCrone Associates, empresa americana sediada em Chicago, especializada em análise forense, que desenvolveu um método sofisticado de análise de pigmentos, tendo inclusive participado das perícias no Santo Sudário de Turin e no Mapa de Vinland. Polêmicas à parte, eles são extremamente rigorosos. Foram extraídas 14 pequenas amostras de pigmento do quadrinho, com a utilização de uma agulha de tungstênio especial, em vários setores da pintura. A análise por espectroscopia de Raios-X e por Raios Ramam confirmou a paleta de Renoir, e em função dos pigmentos utilizados determinou a data aproximada da execução como sendo do final do sec.XIX e início do sec. XX, e mais que isso, mostrou ainda uma série de procedimentos que eram quase que exclusivos da forma de Renoir trabalhar.
A tabela abaixo mostra os resultados obtidos para as cores analisadas.
Apesar de não estar muito legível( poderemos enviar uma cópia do relatório a quem se interessar), os resultados fornecem informações interessantíssimas: 1) O pigmento vermelho, seja ele vermelhão ou mesmo laca de garança, está disseminado pela obra inteira. Em alguns locais, o vemelho é visto pincelado, o que indica que o provável esboço tenha sido feito com ele;2) O pigmento branco à base de chumbo ( branco prata) está presente mesclado em todas as cores;3) A cor preta está composta pelo preto de marfim, branco prata, azul de cobalto e amarelo cádmio.


As três formas de execução acima, combinadas em um mesma obra, formam um dos maiores argumentos em favor da autenticidade, pois são muito peculiares ao artista e estão descritas pelos maiores biógrafos do pintor. Albert André, pintor e amigo de Renoir, descreveu no livro das obras do atelier, que Renoir empregava o esboço em vermelho e depois ia adicionando os pigmentos e dando os volumes, sempre iniciando pelo branco prata. Jean Renoir, filho do pintor, por sua vez descreveu em seu livro, Renoir Meu Pai, que Renoir utilizava o preto marfim misturado a outras cores, com base numa experiência que o pintor havia tido na juventude, ao observar bem próximo as manchas pretas dos cavalos baios, que possuiam pêlos de outras cores além do preto. Não bastando isso, Jean Renoir diz que Renoir, mesmo no final de sua vida, sempre esteve aberto a experiências com outros pigmentos, tendo utilizado pigmentos que não constavam em sua paleta básica, cuja descrição está presente em muitas biografias. Coincidência?
Pincelada
Mesmo não tendo imagens muito nítidas, é possível se comparar algumas características de pinceladas do nosso quadrinho com as encontradas em quadros reconhecidamente catalogados como Renoir, como a paisagem de Cagnes. Nas figuras abaixo, o leitor pode fazer algumas observações importantes como por exemplo, a velocidade de execução, a quantidade de impasto, o ângulo de entrada do pincel na superfície, o comprimento e etc. As semelhanças são incríveis. Deve-se levar em consideração que a paisagem utilizada como base tem dimensões de 7cm x 14cm, ou seja, bem menor que nosso quadrinho.



As imagens dentro dos retângulos, possuem grande semelhança. Se considerarmos as escalas, veremos que os comprimentos, larguras e ângulos são totalmente proporcionais. A execução esfumada dos verdes é mais um ponto em comum, aliás aparecendo constantemente nas obras de Renoir de pequeno formato. São apenas mais algumas coincidências.


Análise do Raio-X

Observando atentamente a imagem digitalizada do raio-x da Ponte Alexandre III que segue abaixo, poderemos ver coisas interessantes, que longe estão de serem como "nuvens no céu", como alguns poderiam pensar. As diferentes nuances na imagem são devidas aos elementos componentes dos pigmentos, que permitem em maior ou menor grau a passagem da radiação, imprimindo consequentemente no filme fotográfico o resultado desta "permeabilidade".


Percebe-se sem muito esforço, principalmente no campo de imagem relativo ao céu, uma série de "sombras" e riscos, indicando que o pedaço de madeira foi extensivamente usado, talvez como paleta de testes, muito comum no processo criativo de Renoir segundo alguns biógrafos. No centro do barco em primeiro plano, percebemos uma pequena figura humana que foi coberta pelo artista e por fim, no setor marcado com um retângulo, é possível ver um monograma em tonalidade escura. Esses são apenas alguns pontos. Na verdade, o raio-x também serve para mostrar que foi uma obra executada a um toque, de forma rápida e sem titubeios. Não houve qualquer hesitação. Coisas de um mestre ou coincidências?



Em apenas mais uma futura postagem, concluiremos o estudo resumido da obra atribuída a Renoir, Ponte Alexandre III, com mais algumas coincidências a serem apontadas, que somadas às que já mostramos, restringem em muito a gama de artistas por quem esta obra pode ter sido executada. O mais interessante é que não se encontram argumentos contra a atribuição. Tudo, como já dissemos, contribui para a autenticidade. Até a próxima!

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Uma pequena pintura atribuída a Renoir II - A small painting attributed to Renoir (part II)

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English abstract
This post in portuguese, describes the stylistic studies and researches about the small painting attributed to Pierre-Auguste Renoir "Le Pont Alexandre III", mainly comparing it to important and well known landscapes from the painter, as "Le Pont des Arts e l' Institute", "Le Pont de chemin de fer a Chatou" and "Le Petit Pont". The study includes the analysis of the point of view, the structure of the composition and brushstrokes. Anyway the painting is for sale. Price upon request.
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Deixando a questão da assinatura para depois, vamos nos concentrar num estudo do estilo e forma de execução da pintura, em comparação com outras obras de Renoir bem conhecidas, para que o leitor possa, em função da enorme gama de coincidências existentes, formar seu juízo se a atribuição a Renoir procede ou não.
Começando pelo motivo, Renoir ao longo de sua vida, pintou várias pontes, e algumas delas em Paris. Com isso, pintar pontes não lhe era estranho. Claro que as pontes da França foram motivos pintados por inúmeros artistas, com isso, Renoir poderia ser apenas um dos possíveis executores da obra. Mas vamos um pouco mais a frente. Comparando as duas imagens abaixo, uma do nosso quadro e a outra da Pont des Arts e l'Institute, pintado em 1868, poderemos começar a determinar alguns pontos em comum com relação a como Renoir via a paisagem e a reproduzia na tela.

Levando em consideração a diferença de dimensões entre as obras, pois nosso quadro tem apenas 13x23cm, percebemos que a estrutura do motivo pintado é semelhante nas duas obras, ou seja, a margem do rio executada numa diagonal ascendente do canto inferior esquerdo para o canto superior direito, a ponte colocada em posição paralela à base do quadro e as figuras, ou maior parte delas, em posição quase central. Ambas execuções são bem feitas e acabadas, a paleta é praticamente a mesma e o tratamento dos objetos e figuras semelhante. A diferença das épocas de realização entre ambas é que aparece como aparente problema: praticamente 30 anos. A pintura de Renoir mudou muito e várias vezes ao longo de sua extensa carreira e segundo alguns, à época da execução do nosso quadro, em torno de 1900, o estilo de Renoir seria diferente. Mas será verdade? Vamos continuar. Olhando para a figura abaixo, faremos comparação com uma obra mais próxima daquela a qual pertenceria a nossa.



Esta pintura, Le Pont de Chemin de Fer a Chatou, que pertence ao Museu d'Orsay, foi pintada em 1881, portanto doze anos após a Pont des Arts, mas a estrutura de execução é praticamente a mesma. O que muda sensilvelmente é a pincelada, que passou a ser um pouco mais "pontilhada", não que a obra tivesse algo a ver com o pontilhismo mas sim com o impressionismo propriamente dito. Na Pont de Chemin de Fer a Chatou o verde, em seus vários matizes, foi a cor predominante mas a paleta é praticamente a mesma do quadro pintado em Paris e também do nosso. Neste quadro, perceberemos uma característica muito peculiar de Renoir: Ele aproxima a ponte do observador, ou seja, dentro da composição, Renoir amplia a imagem da ponte fazendo com que ela pareça próxima dos demais itens da composição. Coincidentemente, no nosso quadro, o pintor trouxe a Ponte Alexandre III para perto dos outros itens da composição também. A imagem abaixo mostra isso claramente, quando comparamos ambos os quadros com as respectivas fotografias de época dos locais pintados, vejam


Não é difícil perceber como em ambos os casos as pontes, na realidade, estão muito mais afastadas do observador do que o representado nos quadros. Coincidência ou não, a artimanha ou recurso foi utilizada nas duas pinturas. Vamos considerá-la apenas mais uma coincidência.

Continuando o estudo comparativo, vamos agora utilizar uma imagem de um quadro pintado por Renoir após 1900, a Petit Pont, que data circa 1904, e pertence à Reunião dos Museus Franceses.

Como podemos perceber, a estrutura da composição continua a mesma mas fiquem atentos à execução. A cor predominante também é o verde em vários matizes embora desta vez aplicado de forma mais suave, sem pinceladas muito definidas, muito próximo da execução da Ponte Alexandre III. As pinceladas do primeiro plano são rápidas e nervosas enquanto os verdes do fundo parecem algo "esfumados". Ambas as pontes possuem a mesma forma de tratamento e as sombras da parte escura de cada uma tem exatamente a mesma cor. Coincidência? De qualquer forma vamos somando as coincidências e na próxima postagem continuaremos o estudo e com certeza ampliar o painel delas. Ah! A assinatura!! Alguém comparou com as assinaturas de Renoir conhecidas? Até a próxima.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Uma pequena pintura atribuída a Renoir I - A small painting attributed to Renoir (part I)

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English Abstract
The text below and the three next posts are about a small painting attributed to Pierre-Auguste Renoir, one of the most important painters of the french impressionism. All the technical, stylistic and historical researches are briefly described, including some comments about the relationship with the Wildenstein Institute and other players of the international art market. It's about a painting that amazes for its perfection and beauty. Anyway the painting is for sale. Price upon request.
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Desde que publiquei minha singela contribuição ao Ano da França no Brasil, tenho recebido mensagens de pessoas curiosas sobre justamente a obra reproduzida acima, atribuída a Pierre Auguste Renoir, um dos mais importantes pintores impressionistas franceses, aliás, um dos fundadores do movimento. Alguns elogiam, outros estranham tamanha perfeição, mas o mais importante é a unanimidade com relação à beleza e execução magistral da pequena pintura, digna de mestres nada menores que Renoir. Esta pequena obra já nos consumiu duas décadas de estudos e pesquisas, cujos resultados sempre apontaram para a sua autenticidade. Ela foi levada inclusive para os EUA, onde foi tecnicamente analisada na McCrone Associates de Chicago, que ficou famosa quando da análise do Santo Sudário e do Mapa de Vinland. Os resultados foram perfeitos: paleta do pintor e época confirmadas, além de mostrar outros detalhes de execução que são quase que exclusivamente particulares de Renoir.


Esta pintura, veio da coleção de José Maria Lisboa Júnior, antigo proprietário do Diário Popular de São Paulo, que possuia um excelente acervo, composto por obras de artistas nacionais e estrangeiros de alto nível. No verso da pintura( vide abaixo), existe um endereçamento a Lisboa Junior - Diario Popular, com uma assinatura que nos parece Paul ou Paulo.

Pesquisas mais recentes, mostram que a assinatura no verso pode pertencer ao escritor, poeta e jornalista Paulo Setúbal, o qual também escreveu para o Diário Popular nas décadas de 20 e 30. É de conhecimento que Paulo Setúbal teve de ir várias vezes à Europa para tratamento de saúde, o que não o impediria de ter adquirido a obra para si ou mesmo para o próprio Lisboa a pedido. Infelizmente ainda não localizamos qualquer documento que possa comprová-lo. Fato interessante para mostrar os laços entre as famílias Lisboa e Setúbal, é que o retrato de Paulo Setúbal no acervo da Academia Brasileira de Letras, da qual ocupou a cadeira de número 31, foi pintado por Rodrigo Soares, que era cunhado de Lisboa Júnior. Saliente-se também que a família Setúbal foi vizinha da casa de Lisboa Júnior, na Rua Sergipe em Higienópolis, São Paulo. Acreditamos até, que proximidade era o que não faltava.

Nota acrescentada em 03/08/2015: Em pesquisa recente nos arquivos da Casa Paulo Setúbal, em Tatuí - SP, com a consulta a vários manuscritos do escritor, comprovou-se ser no texto do verso da obra a caligrafia e uma das assinaturas utilizadas por Paulo Setúbal. O mais interessante é que Tatuí, cidade natal de Paulo Setúbal, é vizinha a Itapetininga, onde moramos.

Voltando à análise da pintura, levamos a pequena obra a Paris, para que fosse analisada pelo Wildenstein Institute, cujos especialistas estão preparando o catálogo crítico de Renoir. A obra ficou lá alguns dias para depois disso eles emitirem uma nota dizendo que não encontraram documentos que pudessem permitir a autenticação. Com relação à pintura, nenhuma observação.
Realmente, o que assusta qualquer especialista, é a perfeição da obra. Executada em toques rápidos e precisos, é sem sombra de dúvida uma obra de mestre, de alguém que buscava a perfeição. Em futuras postagens, vou continuar com a história e dar mais detalhes dos estudos, pois são muito interessantes. E apenas para colocar um pouco de "pimenta" no assunto, deixo abaixo registrada a imagem do que consideramos ser a assinatura da obra.

E afinal, alguém vê semelhança com as assinaturas de Renoir? Até a próxima.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Exposição Guignard - Um Mundo a perder de Vista


Vai até o dia 8 de Março, na Fundação Iberê Camargo em Porto Alegre, a exposição "Um Mundo a perder de vista", com cerca de 40 obras do pintor Alberto da Veiga Guignard, considerado um dos mais importantes artistas do modernismo brasileiro. Com curadoria de José Augusto Ribeiro e obras provenientes de coleções públicas e privadas do Brasil e do exterior, a mostra procura provocar um estudo da evolução do processo de criação e da própria execução pictórica de Guignard, desde 1920 até 1961, véspera da morte do pintor. Com predominância das paisagens com festas de São João, a seleção de pinturas mostra uma diluição gradativa do material pictórico, com a obtenção de um efeito mesclado de lirismo e ingenuidade, que confere à obra de Guignard característica única dentro do modernismo brasileiro, capaz de transportar o observador a uma viagem fantástica dentro de suas paisagens imaginárias. Vale a pena visitar. Na imagem acima, a obra Sabará, de 1961.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Leilão da Christie's Londres - Resultados


Os agentes do mercado de arte internacional devem estar um pouco mais animados, afinal os resultados dos leilões de arte impressionista e moderna estão superando as expectativas. Ontem ocorreu o leilão da Christie's Londres, denominado Evening Sale de arte impressionista e moderna, e os resultados, em nossa opinião, foram surpreendentes. Com mais de 80% dos lotes vendidos, as chamadas obras de ponta do Impressionismo e do Modernismo internacional alacançaram na casa londrina a cifra de 63,428 libras esterlinas, algo em torno de US$ 90 milhões. O destaque acabou sendo mesmo a obra de Claude Monet reproduzida acima, " Dans le praierie", que alcançou a soma equivalente a US$ 16 milhões, abaixo portanto da estimativa que haviamos feito, mas longe de ser um valor desprezível. Outras obras alcançaram altos preços, acima inclusive de suas estimativas iniciais, como a obra "Les Couturiéres" de Edouard Vuillard, que foi vendida pela magnífica cifra de US$ 8,8 milhões, e "Les Deux Filles" de Amedeo Modigliani, que foi arrematada por nada menos que US$ 9,315 milhões. Em suma, os colecionadores de porte voltaram a comprar mas nitidamente de forma seletiva. Querem boas obras pois sabem que estas resistem a qualquer crise, por mais longa e aguda que seja. Acredito que sentiremos os reflexos destes bons resultados aqui no Brasil também. Nosso debilitado mercado agradece.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Leilão Sotheby´s Londres Evening Sale - Resultados

Até que o ano de 2009 começou relativamente bem para a arte impressionista e moderna internacional. O Leilão da Sotheby's Londres, a chamada Evening Sale, onde se ofereceram as obras de maior qualidade e preço, apresentou um resultado muito bom, se considerarmos a atual crise mundial, mostrando que agora os compradores estão realmente muito mais seletivos. A grande vedete da noite, a escultura de Edgar Degas( vide imagem acima) "Danseuse de quatorze ans" foi arrematada por nada menos que o equivalente a US$ 18,8 milhões. Que tal agora imaginar quanto vale a coleção completa de esculturas de Degas que pertence ao MASP? Outro destaque do leilão foi a obra do expressionista alemão Ernst Ludwig Kirchner, "STRASSENSZENE" ( Cena de rua), arrematada pela nada desprezível quantia de 5,417 milhões de libras esterlinas, equivalentes a US$ 7,70 milhões. Aproximadamente 70% dos lotes oferecidos foram vendidos, e a se notar mesmo, que apenas uma das estrelas da noite, a obra "Cariátide" de Modigliani, cuja estimativa beirava os US$ 8,50 milhões, não encontrou comprador. Que os bons ventos continuem soprando. Vamos conferir ainda esta semana, a Evening Sale da Christie's, que também promete. Talvez o mercado de arte fina vá passar ao largo desta crise, mas entendam, arte fina............