quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Uma pequena pintura atribuída a Renoir IV - A small painting attributed to Renoir (part IV)

----------------------------------------------------
English abstract
This is the last post of four, describing the the research and study of a painting attributed to Pierre Auguste Renoir, "Le Pont Alexandre III". The text below written in portuguese, contains some comments about medium, accuracy of execution and precision of some paintings based on historical information from books about the artist, including "Mon Pére", the book from Jean Renoir, son of the artist. The reader will find also, at the end of the post, some comments about the supposed signature of "Le Pont Alexandre III" and a final paragraph where it's asked about how many technical, stylistic and historical evidences and coincidences are necessary for the "experts" in Renoir to authenticate the painting and include it at the forthcoming landscapes volume of the Catalogue Raisonné. Anyway the painting is for sale. Price upon request.
---------------------------------------------------

Nesta que será a última postagem sobre o nosso pequeno quadro, faremos apenas algumas considerações com relação a informações extraídas da enorme bibliografia por nós consultada ao longo do processo de autenticação e pesquisa.
Existem alguns especialistas que se assustam com a precisão de nossa obra, com o argumento de que Renoir não teria essa destreza em função da doença, ou que não tinha a busca do detalhe como princípio em sua pintura. Para contrapor estes argumentos, diríamos apenas que a artrite começou a realmente incomodar Renoir a partir do Natal de 1898, quando ele sentiu a grande crise da doença. Antes disso, ele sentia alguns incômodos mas não deixou, segundo suas próprias palavras, de pintar ou desenhar um dia sequer. Ainda como argumento pela riqueza de detalhes, não podemos esquecer que o pintor começou sua carreira artística pintando porcelanas de Sévres, as quais são minúsculas e cheias de detalhes. Renoir, mesmo mais velho, chegou a fazer esboços de porcelanas e tamanhos bem pequenos, quando ele já não dispunha de movimentos das mãos, isso após 1912. A figura abaixo é um exemplo de um esboço de faiança feito em tela, catalogado e leiloado recentemente na Alemanha.
Cabe também citar algumas pequenas pinturas, pertencentes à National Gallery de Washington, executadas quando da doença já em estado avançado, cujas dimensões são alguns poucos centímetros. Segundo palavras do filho do pintor, Jean Renoir, em seu livro Renoir Meu Pai, na página 435 da versão em português editada pela editora Paz e Terra, lê-se "...Jamais escorou o braço num apoio, jamais utilizou régua para estabelecer as proporções. Eu o vi pintando uma miniatura, um retrato de meu irmão Côco. Ele hesitou um instante sobre a fineza do pincel; depois pôs-se a pintar como se pintasse um outro quadro. Para enxergar os pormenores da semelhança perfeita, tivemos de empregar uma lupa...."
O fato descrito acima deve ter se dado por 1904, quando a doença já havia avançado bastante. Será que Renoir teria condições de pintar pequenos detalhes em pequenas obras? Ou a descrição acima é mera coincidência?
Com relação a pequenas obras, seria bom salientar a opinião do artista por duas obras de dois dos mais importantes artistas franceses, Corot e Delacroix, coletadas por um dos principais biógrafos de Renoir, François Fosca, em seu livro "Renoir". Conta o autor que quando da última visita de Renoir ao Louvre, em 1919, ano de sua morte, os acompanhantes do pintor, transportado pelo museu em cadeira de rodas, retiraram da parede "O interior de Catedral de Chartres" de Corot e " Interior de M. de Mornay" de Delacroix, para que pudesse vê-los com mais detalhes, quando exclamou: " Que maravilhas! Não há telas grandes com o valor destes dois pequenos quadros."

Acredito que Renoir também produziu suas obras primas em tamanhos reduzidos e talvez a Ponte Alexandre III seja uma delas. Quanto ao acabamento esmerado e preciso, o catálogo de venda da coleção Maurice Gangnat, que possuia nada menos que 160 Renoir, tinha uma introdução escrita por E.Faure, onde comentava que algumas paisagens presentes na venda, podiam ser datadas em torno de 1897, por sua fatura "muito precisa". A época, coincide com o da execução da Ponte Alexandre III o que já mostra que não há nada de estranho em sua execução. O leitor pode ver abaixo uma das obras pertencentes ao período citado, em dimensões maiores, mas que mostram a preocupação com o acabamento do artista. As pinceladas são retas e dão aos motivos limites bem definidos.
Apesar de simples, a obra acima "Vue de Villages- Essoyes", mostra os cantos das edificações bem definidos, bem como os contornos dos telhados. Interessante se perceber também a cor "castanho" das sombras no branco. É a mesma cor existente nas sombras dos pilares da ponte no nosso quadrinho. Será que são ...........coincidências?
Assinatura

Vamos tratar por fim daquilo que é considerado o maior tabu, e que muitos dos analistas subjetivos não querem nem pensar: a suposta assinatura, aquela que foi nossa provocação inicial na primeira postagem.

A figura acima mostra o que consideramos ser a assinatura da obra. Foi executada no quadrinho amarelo e possui aproximadamente 1cm de comprimento. O que nos leva a crer que seja a assinatura é o fato de ter sido feita propositalmente no canto inferior direito da placa amarela, a qual, por sua vez, possui o mesmo tamanho da placa azul no primeiro plano. Considerando que são embarcações semelhantes(vide foto abaixo tirada em 1900) as placas deveriam ter o mesmo tamanho, o que na perspectiva, faria com que a representação da placa amarela fosse menor.

Ora, se o artista manteve o tamanho da placa num ponto mais afastado do observador, numa cor que provoca inclusive um maior equilibrio da composição, com letras de formato induzido no canto inferior direito, não estaria ele dando uma outra importância à representação?

Apenas para uma comparação simples e estimular a reflexão do leitor, colocamos a imagem da suposta assinatura em preto e branco com algumas assinaturas extraídas do livro de Caplan. Os contornos ficam mais nítidos e é possível uma melhor visualização.







Fizemos inclusive um estudo matemático, relacionando as dimensões da pequena assinatura entre si e comparando os resultados gráficos com os resultados obtidos em assinaturas existentes nos livros de Caplan e Michel Drucker. Apesar das dificuldades de medição, as semelhanças são enormes e poderemos fornecer o estudo a quem solicitar.


O que acha o leitor? Estamos tão longe assim da verdade? Quantas coincidências mais deveríamos apresentar para que os senhores donos da verdade em Renoir aceitem nosso quadro como autêntico? Poderíamos ainda mostrar muitas outras imagens e dados que foram acumulados ao longo de anos de pesquisa e dedicação à causa da autenticidade, que só nos deixaram a certeza de que temos um autêntico Renoir. Temos a certeza e a confiança de que um dia, talvez em breve, conseguiremos a documentação de procedência, tão reclamada pelo Wildenstein Institute de Paris. A pesquisa prossegue e vamos chegar lá. Até a próxima!

Um comentário:

Obras Raras disse...

RUI,
Gostaria que você entrasse comigo , tenho muito interesse em contacta-lo sobre Renoir.
Segue meu email: juarez.padilha@gmail.com