segunda-feira, 11 de maio de 2009

Portinari e Tarsila roubados em São Paulo

Duas obras de Cândido Portinari e uma de Tarsila do Amaral foram roubadas ontem, 10 de maio de 2009, da residência da Sra. Ilke Maksoud, nos Jardins em São Paulo. Tudo leva a crer que o roubo foi por acaso. A quadrilha, aproximadamente 15 homens, entrou na casa depois que um dos assaltantes, se fazendo passar por entregador de flores, fez com que o vigia abrisse a porta da residência possibilitando assim a invasão. Aparentemente, o bando queria apenas dinheiro e jóias e pelo visto, não tendo encontrado aquilo que esperavam, para não "perder a viagem", levaram as obras de arte. Pelos relatos, uma quarta obra, de autoria de Teruz, também foi levada.

Ponto triste foi como trataram as pinturas. Com um instrumento de lâmina afiada, cortaram as telas e as arrancaram das molduras, tudo indicando que seriam enroladas. Se fizeram isso no quadro Cangaceiro de Portinari, reproduzido abaixo, os danos serão enormes pois é uma obra na qual Portinari usou de um "impasto" intenso, muito característico dos anos 50.




O outro Portinari, reproduzido também abaixo, Retrato de Maria, executado na década de 30, possui execução com menos material depositado o que pode fazer com que se conserve melhor e resita aos maus tratos.


O quadro de Tarsila que foi roubado, é Figura em Azul, de 1923, pintado quando da permanência da pintora em Paris, antes até de frequentar o ateliê de Fernand Leger. É uma peça importante pois foi pintada em uma fase imediatamente posterior à Semana de Arte Moderna, da qual Tarsila não participou diretamente mas de cujos ideais comungava plenamente.


As obras roubadas tiveram seus valores estimados em R$ 3,5 milhões, e em minha opinião, vai ser difícil os ladrões acharem algum comprador para elas, mesmo no chamado "mercado negro". Espero mesmo que esses indivíduos, a partir do alarde realizado pela imprensa, se arrependam e devolvam as pinturas, que no caso em questão, mais que bens de valores estimáveis, são patrimônio da humanidade que correm o sério risco de se perderem por maus tratos e falta de cuidados. Rezemos para que sejam recuperadas em bom estado.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Christie's New York - Resultados do leilão de arte moderna e impressionista

Ontem ocorreu o leilão de Arte Moderna e Impressionista de Christie's de Nova York. Desta vez quem brilhou foi Picasso, onde cinco telas do pintor foram vendidas, sendo a mais cara delas a obra "Mousquetaire à la pipe" de 1968, reproduzida abaixo, que foi arrematada por nada menos que US$ 14,6 milhões, quando a estimativa inicial era de US$ 12 - 18 milhões.


As vendas totais alcançaram a nada desprezível soma de US$ 102,7 milhões, quando 39 dos 50 lotes colocados à venda foram vendidos(78%). Várias obras alcançaram preços extraordinários como o pastel de Edgard Degas "Aprés le bain, femme s'essuyant", que foi arrematado por US$ 5,9 milhões e a obra "Portrait de Madame M." de Tamara de Lempicka, que foi vendida pelo valor de US$ 6,13 milhões.

Interessante notar que algumas obras de mestres impressionistas, da mesma forma como já ocorrera na Sotheby's no dia anterior, foram vendidas por preços bem acima de suas estimativas iniciais, indicando uma boa disputa e que talvez estejamos certos, quando dos comentários feitos sobre o leilão ocorrido na Sotheby's. Podemos citar como exemplo a obra de Camille Pissarro reproduzida abaixo, "La cuillette de pommes", que de uma estimativa inicial de US$ 1,4 a 1,8 milhões, foi vendida por US$ 3,33 milhões.


O que reforça nosso argumento da procura de qualidade por preço conveniente é que obras de artistas como Matisse, Gauguin, Gros e até pré-impressionistas como Corot, encontraram compradores, sendo que alguns deles até com boa disputa. Será interessante esperar e ver também como serão os leilões de arte latinoamericana das duas maiores casas, Sotheby's e Christie's, previstos para o final deste mês de maio. Temos a esperança de que os colecionadores internacionais voltem suas atenções para a arte latinoamericana, ainda, em minha opinião, pouco reconhecida dentro do contexto internacional do mercado de arte. A alta qualidade e importância histórica das obras latinoamericanas falar por si. Vamos aguardar.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Resultados do Leilão da Sotheby's New York

Ontem ocorreu em Nova York, o leilão de arte impressionista e moderna da Sotheby's, a tão esperada "evening sale", com as obras consideradas de maior importância e preço. Infelizmente, a estrela da noite e capa do catálogo, a pintura de Pablo Picasso "La fille de l'artiste à deux ans et demis avec un bateau" não foi arrematada. Outra peça cara da noite, uma escultura de Alberto Giacometti, "Le Chat", que possuía a mesma estimativa do Picasso, ou seja, US$ 16 a US$ 24 milhões, também não encontrou comprador, na noite em que as vendas totais chegaram a US$ 61,37 milhões e 29 dos 36 lotes oferecidos foram vendidos(80%). Não foi nada mau, mas poderia ter sido muito melhor se as duas obras mais caras da noite, descritas acima, tivessem sido vendidas. Em compensação, as obras do quarteto base do Impressionismo, Monet, Pissarro, Renoir e Sisley, encontraram compradores e com disputa, pois seus valores ultrapassaram, e bem, as estimativas iniciais. A obra reproduzida abaixo por exemplo, "Claude Monet e Mme Henriot", de autoria de Pierre-Auguste Renoir, cuja estimativa estava entre US$ 1,5 e US$ 2 milhões, foi arrematada por mais de US$ 3,2 milhões.



Outra obra que superou em muito as expectativas, foi "Composition in black and white with double lines", de autoria de Piet Mondrian, que de uma estimativa inicial de US$ 3 - 5 milhões, saltou para US$ 9,266 milhões. O que se pode concluir é que o mercado de arte fina mundial está realmente priorizando a qualidade, mas exigindo, no mínimo, estimativas mais adequadas à situação financeira mundial. Claro que sempre existe nessa exigência um "quê" de especulação, pois que tem dinheiro para investir em arte, vai tentar fazê-lo render ao máximo, colocando um pouco as paixões de lado. Em minha opinião, o mercado está começando a apresentar uma racionalidade salutar. Como consequência, vejo que obras de pintores impressionistas estão sendo consideradas "baratas" em função de sua importância dentro do contexto da arte mundial. Outro fator que indica esta tendência, está sendo a queda apresentada nas vendas de arte contemporânea, cuja solidez ainda está por ser testada. Vamos aguardar e ver o que no que vai dar mas se o leitor quiser arriscar, acredito que se comprar uma obra impressionista ou mesmo pós-impressionista ( Marquet, Matisse e etc), dificilmente deixará de ganhar um bom dinheiro no futuro, claro, se a intenção for investimento. Se o retorno esperado da compra for a contemplação, aí o retorno é incalculável.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Camille Pissarro - Um dos pilares do Impessionismo

Camille Pissarro foi também um dos fundadores do movimento impressionista francês, e segundo alguns críticos e estudiosos, um dos mais importantes. Sua pesquisa no campo pictórico talvez tenha sido a mais intensa de todas. Não tivesse ele migrado por um certo tempo para o pontilhismo, quem sabe não fosse ele considerado o pai do movimento, juntamente com Monet. Alguns pesquisadores mesmo assim, o consideram o primeiro impressionista.

Camille Pissarro nasceu no dia 10 de julho de 1830, na ilha de Saint-Thomas no Caribe, filho de pais judeus que possuiam um estabelecimento comercial no porto de Charlotte-Amalia. Desde muito cedo o menino Camille demonstrou talento para o desenho. Passava horas, quando podia, a desenhar árvores, coqueiros e homens de chapéu "Bolivar". Em 1841, seus pais decidem mandá-lo para a França para estudar, mas ele gastava o tempo desenhando, não se importando muito com os estudos, o que lhe custou severa admoestação de seu pai. Passando seis anos na Europa, Pissarro volta para Saint-Thomas e acaba assumindo a função de controlador do negócio da família. Mesmo com tanta ocupação, os cinco anos que permaneceu na função não impediram que ele continuasse a desenhar a natureza da ilha, sempre sonhando em se tornar um pintor. Com a maioridade de Camille Pissarro, seu pai se convence de que não conseguirá fazê-lo desistir da idéia de se tornar um artista e acaba o apoiando. Após participar de uma expedição à Venezuela para documentação da paisagem, flora e fauna local, junto ao pintor Fritz Melbye, Pissarro ruma para Paris com a ajuda financeira do pai, lá chegando em 1855, poucos dias antes do encerramento da Exposição Universal. Lá, tem contato com as obras de Delacroix, Ingres, Millet, Courbet e Corot, com as quais fica deslumbrado pelas cores, o desenho e a graça das paisagens, principalmente as de Corot, que foi quem mais o influenciou. Em 1857, na Académie Suisse, conhece o jovem Monet, pintor dez anos mais jovem que ele, com o qual trava sólida amizade e verdadeira cumplicidade pictórica. Muitos historiadores da arte dizem que Monet deve muito a Pissarro e Pissarro muito a Monet. Com Monet, se juntam ao grupo Sisley e Renoir, e o quarteto é considerado pela história como sendo a base do impressionismo. Dentro da questão pictórica, talvez tenha sido Pissarro quem mais contribuiu.


Camille Pissarro - " Café au Lait" - acervo do Art Institute of Chicago

Pissarro pintou na Inglaterra, onde se estabelecera fugindo da guerra de 1870, lá reencontra Monet e vem a conhecer o marchand Paul Durand-Ruel, que logo lhe compra duas telas, aliviando as dificuldades do artista. Não é à toa que Durand-Ruel seria chamado mais tarde de o "São Vicente de Paulo dos Impressionistas".
Participa em 1874 com seus companheiros impressionistas da exposição no estudio do fotógrafo Nadar, e também recebe duras críticas, que muito o magoaram. Afinal, era um dos que mais pesquisava, experimentava e tentava captar a realidade das paisagens que pintava e não se conformava com a incompreensão do público e de boa parte da crítica. Mesmo assim, nunca parou de pintar e experimentar. Tinha um coração grande e sensível o que também fazia com que se preocupasse com os amigos, mesmo passando por sérias dificuldades materiais, como por exemplo com o pintor Guillaumin, que o tinha como um protegido. No campo pictórico, deu muitos conselhos a Cézanne, que o tinha como o maior conhecedor da técnica pictórica e a quem deve também o desenvolvimento de uma paleta espetacular.
Na década de 1880, da mesma forma como aconteceu como Monet e Renoir, Pissarro busca um novo estilo que o satisfaça, algo diferente que tranquilize seu espírito inquieto de contínua busca, experiência e aprendizado. Com isso atravessa um período pintando em estilo pontilista, com justaposição das pinceladas em forma de vírgula, decompondo os tons, algo baseado nas teorias de Chevreul, Maxwell e Road, onde as cores justapostas de um tom decomposto poderiam se fundir na retina do observador, obtendo assim o efeito visual desejado de unidade de tom. A experiência nesse estilo é relativamente curta, o que não o impediu de realizar belas obras.
Camille Pissarro "A Vista do meu jardim em Eragny"
Na década de 1890, Pissarro retorna ao estilo impressionista, com algumas obras apresentando uma execução mais suave mas com uma precisão de desenho extraordinária. As pinceladas ficam mais largas e a paleta tende à gama dos ocres. A obra reproduzida abaixo, " Horta em Eragny" é um bom exemplo desta última fase de Pissarro.

Nos últimos anos, até sua morte em 1903, Pissarro pintou em Eragny, em Dieppe e principalmente Paris, onde registrou em suas telas magnificas paisagens do Sena e algumas de suas pontes, em tons ocres a azuis suaves, de um encanto formidável.
Pissarro deixou também uma extensa obra gravada, onde em águas-fortes muito bem executadas e acabadas, registrou paisagens, cenas do cotidiano, principalmente dos camponeses, os quais fez questão de reproduzir em toda a sua rudez e naturalidade.
Hoje em dia, as obras de Camille Pissarro são destaque nos leilões internacionais e sempre disputadíssimas, o que faz com que seus preços cheguem a vários milhões de dólares. A obra reproduzida abaixo "LA VALLÉE DE LA SEINE AUX DAMPS, JARDIN D'OCTAVE MIRBEAU" é um exemplo. Foi arrematada ontem, 5 de maio de 2009, na Sotheby's de Nova York, por um pouco mais de US$ 2,5 milhões.

A certificação e catalogação da obra de Pissarro está também sob os auspícios do Wildenstein Institute de Paris, com isso já dá para imaginar a dificuldade que é para conseguir a certificação de uma obra desconhecida.

Em próximas postagens, voltarei a comentar sobre outros importantes artistas pertencentes ao movimento impressionista. Até breve!

sábado, 2 de maio de 2009

Claude Monet - O grande mestre impressionista

De todos os pintores pertencentes ao movimento impressionista, Claude Monet é sem dúvida o mais importante. Não só por ter sido um dos fundadores do movimento mas também pela fidelidade aos princípios impressionistas até o dia de sua morte, mesmo tendendo seus últimos trabalhos a uma abstração das formas.




Claude Oscar Monet nasceu em 14 de novembro do ano de 1840, na Rue Lafitte em Paris. Para tentar melhorar de vida sua família muda-se para Le Havre, onde já em 1855, aos quinze anos, Monet começa a fazer suas primeiras caricaturas, justamente das pessoas que frequentavam o porto. A habilidade do jovem artista logo foi reconhecida pela população local, que no lugar de se sentirem contrariados pelas caricaturas e a eventual zombaria que poderiam gerar, divertiam-se com elas e o incentivava comprando-as por até 20 francos cada uma. Esse pequeno sucesso permitiu ao jovem Monet juntar um pequeno "pé de meia" e mudar para Paris para estudar desenho e pintura, inclusive com incentivo dos pais, pouco tempo depois de já ter sido iniciado na pintura de paisagem pelo mestre Eugène Boudin, quando inclusive expôs em Rouen junto com seu professor o quadro "Vista de Rouelles".

Em Paris, frequentando inicialmente um ateliê livre, Monet conhece Pissarro, outro dos que viriam a se tornar um dos grandes mestres impressionistas. Sempre mais afeito às paisagens do que a outros motivos, a pintura " a plein air" o cativava e o estimulava cada vez mais. Em 1862, entra no ateliê do pintor suiço Charles Gleyre, onde conhece Renoir, Bazille e Sisley. Pronto, a base do grupo impressionista estava formada. Pintou com seus amigos pelos arredores de Paris e nas cidades vizinhas. Alguns quadros pintados por ele e Renoir são inclusive muito parecidos, principalmente os executados em Argenteuil. Expõe no Salão de Paris e arranca de Zola grandes elogios. Seu reconhecimento aumenta gradativamente, assim como suas dificuldades financeiras. Em 1870 casa-se com Camille Leónie Doncieux. Em 1874, juntamente com seus companheiros impressionistas, realiza a primeira exposição do grupo, no estudio do fotógrafo Nadar, no Boulevard des Capucines, onde expõe o quadro reproduzido abaixo, " Impression - Soleil Levant", que valeu a Monet e todo o grupo severas críticas de Louis Leroy no jornal Charivari, quando inclusive o termo "impressionista" aparece, em referência ao nome do quadro exposto.

Hoje em dia, "Impression - Soleil Levant" é um dos maiores ícones da história da arte mundial e considerada uma das obras de arte cujo valor é muito difícil de se estimar. Digamos que tem um valor incalculável.
A pintura impressionista de Monet é clara e vigorosa. Seus toques de pincel são rápidos, nervosos e precisos, captando as cenas com uma exatidão fabulosa, capaz de até ser possível de se estabelecer o horário em que a pintura foi feita. Algumas telas de séries realizadas pelo artista vinham inclusive com o momento do dia em que foram pintadas agregado ao nome. Algo importante a se salientar também, é que a qualidade de algumas obras pintadas melhorou com o tempo. Existem algumas cenas de regatas de Argenteuil que parecem ainda frescas, recém pintadas, mesmo já tendo mais de cento e trinta anos.
Em 1879, morre sua esposa Camille. Passa um período difícil mas graças a amigos colecionadores e principalmente ao marchand Durand Ruel consegue superar as dificuldades. Em 1890, adquiri a propriedade em Giverny, onde seriam pintadas as séries das famosas Ninféias, como a obra reproduzida abaixo.
Em 1891, uniu-se formalmente a Alice Hoschedé, com quem já se relacionava. Entre 1892 e 1893 pinta a famosa série da Catedral de Rouen e desde esse período até 1903, sofre muito com a perda de entes queridos como a enteada Suzanne e os pintores e amigos de juventude Sisley em 1899 e Pissarro em 1903.
De qualquer forma, continua pintando. Pintou pela França, na Inglaterra e na Itália, enquanto sua visão permitia. Perde sua companheira Alice em 1911 e acometido de catarata, em torno de 1915, começa a perder a vista gradativamente. Pinta os grandes painéis das ninféias, tendo inclusive construído um novo ateliê muito mais amplo, encorajado pelo amigo Clemenceu, para poder abrigá-los.
Com o mal da visão piorando, volta a pintar a "plein air", para que fosse possível enxergar a paisagem, e executa grandes telas, como já que num prenúncio de abstração. Nos últimos anos de vida, continua pintando quase que num isolamento total e vem a falecer em decorrência de um câncer em 1926.

Por ironia do destino, as telas de Claude Monet, que passava grandes dificuldades financeiras quando pintava encorajado pelo ideal impressionista, hoje valem milhões de dólares. Exemplo, é a obra acima "Dans le praierie", executada no mais característico estilo impressionista, que foi recentemente arrematada na Sotheby's de Londres por uma soma equivalente a US$ 16 milhões. Difícil imaginar o que Monet deve estar pensando lá em cima, mas uma gargalhada deve ser inevitável.
A obra de Claude Monet foi catalogada por Daniel Wildenstein, que editou o catálogo raisonné em 1996, em quatro volumes e o Wildenstein Institute de Paris é quem certifica e dá pareceres sobre as obras de Monet. O MASP - Museu de Arte de São Paulo, possui em seu acervo as obras "Canoa sobre o Epte" e a " Ponte Japonesa em Giverny", e também sediou a grande exposição de Monet no Brasil em 1997. Seria necessário escrever muito mais sobre este grande artista que foi Claude Monet, mas vou reservar um pouco de energia para outros importantes nomes do impressionismo francês que pretendo publicar em breve. Até lá!

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Pierre-Auguste Renoir - 90 Anos de sua morte

Neste ano de 2009, celebramos os 90 anos de falecimento de Pierre-Auguste Renoir, um dos principais pintores franceses de todos os tempos, responsável juntamente com Monet, Sisley, Pissarro e mais alguns, pelo movimento denominado Impressionismo, que floresceu na Europa em meados do sec. XIX.


Na foto, Renoir em 1904.
Renoir nasceu em Limoges, França, em 1841, e muito cedo, quando ainda era uma criança, apresentou grande aptidão artística. Com a mudança de seu pai para Paris, pode frequentar ateliês e também a Escola de Artes Decorativas. Começou pintando porcelanas, onde executava a princípio personagens do império e da realeza e depois flores. Pintou também leques, pois eram objetos de uso obrigatório das damas da época. Com isso, como diria François Fosca, um dos principais biógrafos de Renoir "pintou festas galantes, cenas campestres e temas mitológicos, onde os tons rosas e azuis predominavam, eram os motivos em voga, para os quais Renoir foi se inspirar em Watteau e Boucher. Foi assim que começou a conhecer e depois a amar e a estudar a pintura francesa do século XVIII, e até o fim da vida teve por ela grande predileção...." . Em meados da década de 1860, entrou para a Escola de Belas Artes de Paris e frequentou o ateliê de Charles Gleyre, onde veio a conhecer Monet, Sisley e Bazile, com os quais estabeleceu uma sólida amizade.

Renoir não suportou muito tempo a convivência com o velho mestre suiço e resolveu sair do ateliê de Gleyre. Juntamente com Monet, pegaram os cavaletes e foram pintar ao ar livre, como diria outro impressionista, Paul Cezanne, "sur le motif". Foi desse modo que Renoir e seus companheiros começaram a captar a luz plena das paisagens, em quadros que representavam um determinado instante da situação pintada, onde rios, matas e o céu ganhavam um colorido diferente, mais límpido e vivo. Mas longe de ter sido fácil serem entendidos. Com isso, Renoir não vendia muitos quadros e para se sustentar fazia retratos da burguesia da época. Muitas vezes teve que dar quadros em pagamento do aluguel, de comida e também dos materiais de pintura que utilizava. O retrato reproduzido abaixo, que mostra a Condessa de Pourtalès, pertencente ao acervo do MASP, é um bom exemplo dos retratos pintados por Renoir.
Na década de 1870, podemos dizer que Renoir, mesmo nos retratos, foi de um impressionismo puro, principalmente nas paisagens, executadas em pinceladas muito rápidas, geralmente carregadas de "impasto", o qual também ajudava no efeito visual da obra. O quadro abaixo, chamado " O esquife", de 1875, é um belíssimo exemplo da pintura de paisagem impressionista de Renoir.

Na década de 1880, começam as primeiras mudanças na obra de Renoir. Após uma viagem à Itália, o pintor volta para a França em plena crise. Após ter visto as obras dos grandes mestres renascentistas e do afrescos de Pompéia, Renoir chegou a declarar a alguns amigos que não sabia nem desenhar e nem pintar. Com isso, deu uma guinada drástica na sua forma de pintar, tentando se aproximar dos grandes mestres. Começou então aquela que alguns chamam de fase ácida, ou então período "ingresco", fazendo referência ao pintor Ingres, um dos mestres que Renoir também muito admirava. As figuras eram extremamente desenhadas e bem acabadas, os rostos eram perfeitamente delineados e as obras possuiam mais detalhes do que geralmente utilizava. Mais uma vez, choveram críticas pelo abandono da velha forma por aqueles que já começavam a gostar e se acostumar com o impressionismo. O quadro reproduzido abaixo, " As Grandes Banhistas", é o melhor exemplo dessa fase.


Após alguns anos, no final da década de 1880 e início da década de 1890, Renoir retorna ao estilo antigo mas desta vez um pouco suavizado. Impressionismo em alguns detalhes e melhor acabamento em outros. Nesta fase, Renoir pintou obras maravilhosas, onde prevalecem as suas famosas banhistas, cenas de jovens no campo com chapéus floridos, e paisagens executadas de uma forma mais suave, onde as pinceladas continuam sendo rápidas mas um pouco mais leves. Aparecem alguns verdes realizados de forma mais "esfumada", com toques de amarelo para a luz e de azul para indicar as partes sombreadas, tudo dentro de uma harmonia e um estilo inconfundível. A paisagem com ponte reproduzida abaixo, que pertence à Reunião dos Museus Franceses, é um exemplo desta pintura.


Em meados da década de 1890, Renoir começa a sentir os efeitos de uma doença que muito o abalou: a artrite reumática deformante. Sentia dores nas mãos e nas juntas, a ponto de quando, em função do incômodo que geravam, acordava durante a madrugada, pedia material de pintura e executava pequenas pinturas em madeira para suportar e tentar esquecer o mal que sofria. No Natal de 1898, foi acometido da sua mais forte crise de artrite, a ponto de não poder mexer as mãos e os braços. A partir deste momento, o estado de sua saúde só se agravou. Mas quem vê a pintura de Renoir, não consegue ver nela os efeitos de um homem doente e atormentado pela dor. Sempre pintou a alegria de viver. A estória de que ele amarrava os pincéis às mãos para pintar é pura fantasia. Sofria mas reclamava pouco, principalmente se tinha algum motivo para pintar.
Foi casado com Aline Charigot, que além de esposa lhe serviu de modelo, e com ela teve três filhos: Pierre, que foi ator famoso na França, Jean, que foi um dos mais renomados diretores de cinema do mundo e Claude, o mais novo, que se dedicou à cerâmica.
Pintou praticamente até o últimos dia de vida e faleceu em 3 de dezembro de 1919 em Cagnes sur Mer, para onde havia mudado em função do clima que lhe era mais favorável, deixando uma obra extensa e maravilhosa, estimada em mais de 6000 peças. Hoje sua catalogação é feita pelo Wildenstein Institute e pela Galeria Berheim-Jeune, sendo que François Daulte editou dois volumes do catálogo de figuras de Renoir. Em futuras postagens, comentaremos sobre outros importantes mestres impressionistas.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Exposição "Dois Tempos" na AC Galeria de Arte

Acabo de receber o convite acima da Ana Claudia Roso, sobre a exposição " Dois Tempos". Uma proposta interessante onde cinco artistas contemporâneos da maior importância, estarão expondo lado a lado, obras das décadas de 60 e 70, em contraponto com a produção atual. São eles Claudio Tozzi, Gilberto Salvador, Luiz Paulo Baravelli, Marcelo Nitsche e Samuel Szpigel. Deles, apenas Szpigel não participou da mostra 15 Jovens Artistas do Brasil no MAB FAAP, a qual já comentei há uns tempos. Achei a proposta interessante pois são artistas em plena maturidade e já consagrados, e será sem dúvida agradável perceber as mudanças de execução, determinar fios condutores e analisar os caminhos percorridos ao longo de 40 anos de trabalho por todos eles. Considero uma mostra imperdível para todos aqueles que gostam da nossa arte contemporânea. Vale a pena conferir na AC Galeria de Arte, de 7 de Maio a 10 de Junho, à Rua José Maria Lisboa, 1008, sobreloja, em São Paulo. Mais informações pelo site da galeria www.acgaleria.com . Bom divertimento!