segunda-feira, 4 de maio de 2015

A polêmica sobre Romero Britto

                                                   fonte: website "Romero Britto"    

Tenho acompanhado recentemente, uma certa polêmica gerada em torno da obra de Romero Britto, onde o cerne reside na discussão se o que ele faz é arte ou não é arte. Antes de mais nada seria importante buscar uma definição de arte. Na minha modesta opinião, arte é a atividade humana relacionada a manifestações de ordem estética, nas quais o ser humano externa emoções, idéias e sensações, com a finalidade de registrar, expor, questionar e partilhar estas mesmas manifestações com um ( onde se inclui ele mesmo) ou mais observadores. A obra de arte em si, seja ela um quadro, escultura, instalação, música, peça teatral ou filme cinematográfico, é o registro físico dessa manifestação.

Dentro dessa ótica, o que Romero Britto faz é arte sim! É uma manifestação estética de espírito criador, com uma linguagem que foi criada e transformada dentro do meio no qual ele vive há anos (EUA - Miami), e que registra uma experiência pessoal que transborda alegria e cor. O sucesso que ele fez e faz com sua arte, principalmente nos Estados Unidos, é decorrente do uso de uma linguagem que possui estreita intimidade com a forma de ser e de pensar do norte americano médio, seu grande público consumidor( sim porque arte se consome), pautada por um gosto quiça infantil, mas não menos original que qualquer outro, por mais "erudito" que seja. A verdade é que como qualquer outra obra de arte, por ser manifestação estética, há quem goste e quem não goste. Admira, curte e compra quem gosta. Agora, se este tipo de arte vai permanecer, só o tempo vai dizer. Talvez, o que realmente incomode o mercado é o fato de Romero Britto ter desenvolvido um esquema próprio de venda e franqueamento que fatura milhões de dólares anualmente, dinheiro este que fica no seu bolso e não no de algum "marchand". Agora pergunto: será que Damien Hirst com seus touros e tubarões, Beatriz Milhazes com seus círculos de florzinhas coloridas e outros que poderia enumerar são mais artistas que Romero Britto? O leitor julgue.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Beatriz Milhazes na Christie's


Neste último dia 13 de maio, na Christie's de Nova York, o quadro reproduzido acima de autoria de Beatriz Milhazes, com o título "Palmolive", alcançou a soma de US$ 1.685.000. Até que não fez feio numa venda de arte pós-guerra e contemporânea na qual compradores de 35 países arremataram o total, pasmem-se, de US$ 975 milhões em obras da mais fina nata da arte contemporânea internacional. Foram três dias de leilões onde algumas obras chegaram a ultrapassar a cifra de US$ 80 milhões, como "Black Fire I" de Barnett Newman, que foi vendida pela "pechincha" de US$ 84,165 milhões. Obras de artistas como Jeff Koons, Andy Warhol, Basquiat e Rotko foram vendidas por cifras acima dos US$ 30 milhões.

Quem sabe os ventos de preços explosivos de Nova York batam por aqui em nossa terra tupiniquim. Enquanto isso não acontece, tome Copa do Mundo...

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Resgatando um pouco de Maty Vitart


Maty Vitart foi uma das artistas que expôs na galeria de meu falecido sogro, José Luiz Pereira de Almeida, a Galeria Projecta. A exposição ocorreu em 1977 e dela só consegui resgatar um convite que estava perdido em meio a papéis antigos na casa de minha sogra. Como sempre gostei do trabalho dela, busquei no mercado alguns desenhos e técnicas mistas, como a reproduzida abaixo, que apareceram "perdidos" em leilões. O termo "perdidos" é devido ao fato de que Maty Vitart é muito pouco conhecida atualmente pelo meio artístico e são raros os agentes que possuem alguma informação sobre ela. Após um período de muita atividade até os anos 80, a artista se retirou do eixo Rio-São Paulo. Pelo que descobri, foi morar no Centro-Oeste brasileiro com o esposo, permanecendo lá em torno de 15 anos. Posteriormente o casal mudou-se para São Manuel, município do interior do estado de São Paulo, onde montaram a Oficina Vitart, que produz móveis artesanais. Não consegui ainda descobrir se Maty ainda desenha e pinta. O mais interessante é que a sua ausência no mercado fez com que alguns pensassem até que ela havia morrido. Cheguei a ver obras em leilões onde se colocava uma data de falecimento com um ponto de interrogação ao lado. O fato é que a procura por obras da artista cresceu recentemente, principalmente pela excelente qualidade, o que fez os preços invariavelmente subirem. E o trabalho que a artista realizou vale o preço. 


Suas cenas de conteúdo surrealista são impactantes. Algumas, como a paisagem surrealista reproduzida acima, chegam até a lembrar alguma coisa de Cícero Dias. Seus animais e figuras humanas desformes, executados com desenho refinado e colorido ora suave, ora até quase inexistente, nos remetem a reflexões de nossa própria existência, de nossos sonhos, medos e desejos mais íntimos, aqueles que talvez não queiramos que ninguém saiba mas que a artista, com maestria, os confina na superfície de uma tela ou papel, e nos faz defrontar-nos com os mesmos, como que diante de um espelho, um espelho mágico que reflete nossas almas.
Maty Vitart nasceu em 1955 na cidade de Marrakesch, no Marrocos, vindo ainda criança para o Brasil. Residindo inicialmente em Recife, Pernambuco, lá travou conhecimento com os artistas locais, como João Câmara Filho, em cujo ateliê aprende a técnica da litografia. Vindo para São Paulo em 1974, começou a colaborar como ilustradora em jornais e revistas. Seu trabalho de desenhista logo chamou a atenção e com isso iniciou uma série de exposições individuais e coletivas, no Brasil e no exterior, das quais podemos destacar a exposição individual no Museu de Arte de São Paulo e a Bienal Internacional de São Paulo de 1976. No exterior ressaltamos a exposição na Galeria Debret em Paris, o que nos faz pensar que não será impossível encontrar alguma obra sua perdida por lá. É bom ficar de olhos bem abertos.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Um Clóvis Graciano dos bons


A obra acima, de autoria de Clóvis Graciano, foi mais uma dessas descobertas que posso qualificar como emocionante. Estava por assim dizer "perdida" em um leilão no Rio de Janeiro, sendo o lote no. 1 do pregão. Não tive dúvida quanto à excelente oportunidade de adicionar ao acervo uma peça da melhor fase do artista, pertencente à série dos retirantes, de conteúdo social intenso e retratado com um expressionismo forte onde os gemidos de dor e sofrimento das figuras como que emanam e ressoam do plano da pintura. É desta fase um óleo sobre tela que, em tempos recentes, ultrapassou os R$ 150.000 no leilão da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro.
Contribuiu para a menor concorrência no leilão o estado precário de conservação e a descrição como "Acrílico sobre cartão", técnica que Graciano talvez nunca tenha utilizado. Mas valeu o risco e o lance de certa forma ousado, que gerou o arremate, muito comemorado, do Graciano de certa forma outrora desprezado.
Recebida a obra, vimos que na verdade trata-se de uma técnica mista sobre cartão colado em chapa de madeira industrializada, assinado e datado de 1945. O cartão deve ter sido guardado dobrado por anos e depois colado em chapa na tentativa de compensar os vincos. Apenas uma pequena parte do pigmento, que aparenta ser a óleo, se desprendeu, permitindo a contemplação da pintura em sua plenitude.

Existem pinturas famosas de Graciano desta mesma fase em alguns museus brasileiros, como a reproduzida abaixo, "Mulher ajoelhada" que pertence ao acervo do MAB FAAP, datada de 1944. A semelhança de técnica e execução é impressionante e só referencia o achado.


Clóvis Graciano nasceu no ano de 1907 em Araras, cidade do interior do estado de São Paulo, e começou sua vida artística pintando placas e tabuletas para a Estrada de Ferro Sorocabana. Em 1934 transferiu-se para São Paulo onde realiza estudos com Waldemar da Costa. Fez parte do Grupo Santa Helena e da Família Artística Paulista. Foi pintor, desenhista, gravador, ilustrador, figurinista, cenografista e principalmente muralista. Só na cidade de São Paulo se contam 120 murais de sua autoria. Foi adido cultural em Paris e diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Sempre fiel ao figurativismo, deixou uma obra na qual as questões sociais são sempre abordadas de forma incisiva (talvez influência do amigo e mestre Portinari), com uma técnica impecável e um estilo cuja evolução deixou um fio condutor em cada uma de suas pinturas ou desenhos, onde os retirantes, flautistas e dançarinos, alguns de seus temas prediletos, transmitem ao observador uma visão madura mas algo lúdica das realidades cotidianas brasileiras, vividas intensamente por este que foi, sem sombra de dúvida, um dos maiores artistas do modernismo brasileiro.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Desenho de Henri Lebasque - A drawing from Henri Lebasque

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This post written in portuguese is about a drawing from Henri Lebasque, a study for the important painting " Mon fils", that was joined to the collection of works on paper and that is going to be exhibited at MISP - Museu do Interior Sul Paulista
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Outro artista que está presente na coleção de papéis é Henri Lebasque. Pintor pós-impressionista francês, amigo de Segonzac e de Pierre Bonnard e que expôs juntamente com Maximilien Luce e Paul Signac, constituindo-se dessa forma em um dos mais importantes artistas franceses da primeira metade do sec. XX.

Dono de uma paleta equilibrada e de um desenho despojado mas muito preciso, Lebasque trouxe para suas obras muito da paisagem e da vida alegre francesa. Suas meninas com chapéus de laços de fita, os nus de mulheres que parecem flutuar e as paisagens com pontes e lugares quietos e agradáveis chegam a trazer à lembrança algumas obras de mestres impressionistas como Pierre-Auguste Renoir e Camille Pissarro, este último tendo-o influenciado bastante, principalmente em algumas pinturas em técnica pontilhista.


A desenho que chegou para o acervo, como pode ser visto acima, retrata o filho do pintor executando uma escultura sobre um cavalete. Este desenho serviu de estudo para uma das obras mais importantes de Lebasque, de título "Mon Fils", reproduzida abaixo, que retrata o escultor trabalhando num canto de um jardim. 


Claro que passa a ser praticamente indiscutível a procedência e autenticidade da obra mas mesmo assim ela está certificada por Mme. Denise Bazetoux, expert e maior autoridade em Henri Lebasque, que incluirá a mesma na próxima edição do catálogo raisonné da obra do artista. Mais uma peça que valerá muito ser exposta e admirada pelos amantes das artes.

Um autêntico desenho de Jean Louis Forain - An Authentic drawing from Jean Louis Forain

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This post, written in portuguese, is related to a drawing from Jean-Louis Forain , joined recently to our collection, which has in its provenance track the sale of june/ 2002 at Christie's London and that is going to be exhibited at the "Museu do Interior Sul Paulista".
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O núcleo de papéis do acervo recebeu recentemente mais uma importante contribuição. Trata-se de um desenho de Jean-Louis Forain, pintor, desenhista e ilustrador pós-impressionista francês, que faleceu em julho de 1931. Famoso por suas caricaturas, era disputado pelos jornais da época para que ilustrasse suas publicações. De humor agudo, gostava de mostrar o lado cômico da vida, ora ridicularizando o que o mundo enaltecia, ora louvando o que o mundo desprezava. São famosas suas representações de tribunais, concertos e prostíbulos, nas quais desnudava nas expressões de seus personagens as verdadeiras intenções dos protagonistas, muitas vezes com paralelos a importantes membros da sociedade da época.

Jean-Louis Forain  "Cavalier" desenho a nanquin 

O desenho é executado em pinceladas rápidas e apesar de sua simplicidade é nítido o perfeito sentido de conjunto e de perspectiva.
No verso  há um esboço de uma cena da sociedade da época executado em grafite, representando um personagem masculino com a toga, o que nos faz crer que seja uma cena de tribunal, talvez presente em algum de seus quadros, hoje muito disputados nos leilões internacionais.

Jean-Louis Forain  "Personagens" desenho a lápis (verso)

Esta obra já esteve em leilão da Christie's de Londres, em junho de 2002, reproduzida sob o no. 20 do catálogo de da venda de Arte Contemporânea e Pós-Guerra, sendo que a autenticidade da mesma foi certificada na sala do pregão pela neta do pintor. Mais um belo exemplar que merece ser contemplado e quem sabe em breve, exibido numa mostra para o público. Estamos nos esforçando para isso.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Desenho de Albert Marquet - Drawing of Albert Marquet

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This post, written in portuguese, is about a drawing from Albert Marquet, which probably shows Pierre Auguste Renoir in his late years, and that is going to be exhibited at our future museum.
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Albert Marquet - Portrait de Renoir?

Em abril de 2009, publiquei neste blog uma pequena biografia de Albert Marquet, pintor pós-impressionista francês, amigo de Henri Matisse, e que foi, em minha opinião, um dos maiores coloristas do movimento "Fauve". Aliás, a postagem gira em torno da maestria com a qual o pintor tratava a cor. Sempre fui apaixonado pela obra de Marquet e no final do ano passado, consegui trazer para o acervo um pequeno exemplar, um desenho, do famoso mestre de Bordeaux. É uma peça simples, como mostra a reprodução acima, mas também permite perceber como Marquet desenhava de maneira solta e rápida. Poucos traços e a figura está definida. Arriscaria até a dizer que o artista tenha feito um esboço de Renoir em seus últimos anos. A mão contorcida da figura como ponto central, denuncia talvez a intenção de realçar a deformação gerada pela artrite que tanto fez sofrer o grande mestre impressionista. A foto logo abaixo de Renoir com Marquet e Matisse talvez possa embasar a suspeita. Mas é só um palpite. Percebam o detalhe da mão fechada de Renoir, como mostra o desenho.

Renoir na cadeira de rodas, Marquet à esquerda e Matisse em pé no centro em 1918



No verso da obra, reproduzido abaixo, temos um esboço rapidíssimo de um nu feminino, muito característico quando comparado com outros desenhos de Marquet.


Uma assinatura com a iniciais "a.m" alinhava a obra, que é de uma leveza impressionante. Realmente simples mas sem dúvida um Marquet.