Quem sabe os ventos de preços explosivos de Nova York batam por aqui em nossa terra tupiniquim. Enquanto isso não acontece, tome Copa do Mundo...
sexta-feira, 16 de maio de 2014
Beatriz Milhazes na Christie's
Quem sabe os ventos de preços explosivos de Nova York batam por aqui em nossa terra tupiniquim. Enquanto isso não acontece, tome Copa do Mundo...
Marcadores:
arte,
Arte Contemporânea,
Leilões e mercado de arte internacional,
Pintura
sábado, 1 de fevereiro de 2014
Resgatando um pouco de Maty Vitart
Maty Vitart foi uma das artistas que expôs na galeria de meu falecido sogro, José Luiz Pereira de Almeida, a Galeria Projecta. A exposição ocorreu em 1977 e dela só consegui resgatar um convite que estava perdido em meio a papéis antigos na casa de minha sogra. Como sempre gostei do trabalho dela, busquei no mercado alguns desenhos e técnicas mistas, como a reproduzida abaixo, que apareceram "perdidos" em leilões. O termo "perdidos" é devido ao fato de que Maty Vitart é muito pouco conhecida atualmente pelo meio artístico e são raros os agentes que possuem alguma informação sobre ela. Após um período de muita atividade até os anos 80, a artista se retirou do eixo Rio-São Paulo. Pelo que descobri, foi morar no Centro-Oeste brasileiro com o esposo, permanecendo lá em torno de 15 anos. Posteriormente o casal mudou-se para São Manuel, município do interior do estado de São Paulo, onde montaram a Oficina Vitart, que produz móveis artesanais. Não consegui ainda descobrir se Maty ainda desenha e pinta. O mais interessante é que a sua ausência no mercado fez com que alguns pensassem até que ela havia morrido. Cheguei a ver obras em leilões onde se colocava uma data de falecimento com um ponto de interrogação ao lado. O fato é que a procura por obras da artista cresceu recentemente, principalmente pela excelente qualidade, o que fez os preços invariavelmente subirem. E o trabalho que a artista realizou vale o preço.
Suas cenas de conteúdo surrealista são impactantes. Algumas, como a paisagem surrealista reproduzida acima, chegam até a lembrar alguma coisa de Cícero Dias. Seus animais e figuras humanas desformes, executados com desenho refinado e colorido ora suave, ora até quase inexistente, nos remetem a reflexões de nossa própria existência, de nossos sonhos, medos e desejos mais íntimos, aqueles que talvez não queiramos que ninguém saiba mas que a artista, com maestria, os confina na superfície de uma tela ou papel, e nos faz defrontar-nos com os mesmos, como que diante de um espelho, um espelho mágico que reflete nossas almas.
Maty Vitart nasceu em 1955 na cidade de Marrakesch, no Marrocos, vindo ainda criança para o Brasil. Residindo inicialmente em Recife, Pernambuco, lá travou conhecimento com os artistas locais, como João Câmara Filho, em cujo ateliê aprende a técnica da litografia. Vindo para São Paulo em 1974, começou a colaborar como ilustradora em jornais e revistas. Seu trabalho de desenhista logo chamou a atenção e com isso iniciou uma série de exposições individuais e coletivas, no Brasil e no exterior, das quais podemos destacar a exposição individual no Museu de Arte de São Paulo e a Bienal Internacional de São Paulo de 1976. No exterior ressaltamos a exposição na Galeria Debret em Paris, o que nos faz pensar que não será impossível encontrar alguma obra sua perdida por lá. É bom ficar de olhos bem abertos.
Marcadores:
arte,
Arte Contemporânea,
Biografias e textos críticos,
Pintura
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
Um Clóvis Graciano dos bons
A obra acima, de autoria de Clóvis Graciano, foi mais uma dessas descobertas que posso qualificar como emocionante. Estava por assim dizer "perdida" em um leilão no Rio de Janeiro, sendo o lote no. 1 do pregão. Não tive dúvida quanto à excelente oportunidade de adicionar ao acervo uma peça da melhor fase do artista, pertencente à série dos retirantes, de conteúdo social intenso e retratado com um expressionismo forte onde os gemidos de dor e sofrimento das figuras como que emanam e ressoam do plano da pintura. É desta fase um óleo sobre tela que, em tempos recentes, ultrapassou os R$ 150.000 no leilão da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro.
Contribuiu para a menor concorrência no leilão o estado precário de conservação e a descrição como "Acrílico sobre cartão", técnica que Graciano talvez nunca tenha utilizado. Mas valeu o risco e o lance de certa forma ousado, que gerou o arremate, muito comemorado, do Graciano de certa forma outrora desprezado.
Recebida a obra, vimos que na verdade trata-se de uma técnica mista sobre cartão colado em chapa de madeira industrializada, assinado e datado de 1945. O cartão deve ter sido guardado dobrado por anos e depois colado em chapa na tentativa de compensar os vincos. Apenas uma pequena parte do pigmento, que aparenta ser a óleo, se desprendeu, permitindo a contemplação da pintura em sua plenitude.
Existem pinturas famosas de Graciano desta mesma fase em alguns museus brasileiros, como a reproduzida abaixo, "Mulher ajoelhada" que pertence ao acervo do MAB FAAP, datada de 1944. A semelhança de técnica e execução é impressionante e só referencia o achado.
Clóvis Graciano nasceu no ano de 1907 em Araras, cidade do interior do estado de São Paulo, e começou sua vida artística pintando placas e tabuletas para a Estrada de Ferro Sorocabana. Em 1934 transferiu-se para São Paulo onde realiza estudos com Waldemar da Costa. Fez parte do Grupo Santa Helena e da Família Artística Paulista. Foi pintor, desenhista, gravador, ilustrador, figurinista, cenografista e principalmente muralista. Só na cidade de São Paulo se contam 120 murais de sua autoria. Foi adido cultural em Paris e diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Sempre fiel ao figurativismo, deixou uma obra na qual as questões sociais são sempre abordadas de forma incisiva (talvez influência do amigo e mestre Portinari), com uma técnica impecável e um estilo cuja evolução deixou um fio condutor em cada uma de suas pinturas ou desenhos, onde os retirantes, flautistas e dançarinos, alguns de seus temas prediletos, transmitem ao observador uma visão madura mas algo lúdica das realidades cotidianas brasileiras, vividas intensamente por este que foi, sem sombra de dúvida, um dos maiores artistas do modernismo brasileiro.
segunda-feira, 24 de junho de 2013
Desenho de Henri Lebasque - A drawing from Henri Lebasque
--------------------------------------------------
This post written in portuguese is about a drawing from Henri Lebasque, a study for the important painting " Mon fils", that was joined to the collection of works on paper and that is going to be exhibited at MISP - Museu do Interior Sul Paulista
-------------------------------------------------
Outro artista que está presente na coleção de papéis é Henri Lebasque. Pintor pós-impressionista francês, amigo de Segonzac e de Pierre Bonnard e que expôs juntamente com Maximilien Luce e Paul Signac, constituindo-se dessa forma em um dos mais importantes artistas franceses da primeira metade do sec. XX.
Dono de uma paleta equilibrada e de um desenho despojado mas muito preciso, Lebasque trouxe para suas obras muito da paisagem e da vida alegre francesa. Suas meninas com chapéus de laços de fita, os nus de mulheres que parecem flutuar e as paisagens com pontes e lugares quietos e agradáveis chegam a trazer à lembrança algumas obras de mestres impressionistas como Pierre-Auguste Renoir e Camille Pissarro, este último tendo-o influenciado bastante, principalmente em algumas pinturas em técnica pontilhista.
A desenho que chegou para o acervo, como pode ser visto acima, retrata o filho do pintor executando uma escultura sobre um cavalete. Este desenho serviu de estudo para uma das obras mais importantes de Lebasque, de título "Mon Fils", reproduzida abaixo, que retrata o escultor trabalhando num canto de um jardim.
Claro que passa a ser praticamente indiscutível a procedência e autenticidade da obra mas mesmo assim ela está certificada por Mme. Denise Bazetoux, expert e maior autoridade em Henri Lebasque, que incluirá a mesma na próxima edição do catálogo raisonné da obra do artista. Mais uma peça que valerá muito ser exposta e admirada pelos amantes das artes.
Marcadores:
arte,
desenho,
Escola Francesa,
Obras redescobertas
Um autêntico desenho de Jean Louis Forain - An Authentic drawing from Jean Louis Forain
-----------------------------------------------
This post, written in portuguese, is related to a drawing from Jean-Louis Forain , joined recently to our collection, which has in its provenance track the sale of june/ 2002 at Christie's London and that is going to be exhibited at the "Museu do Interior Sul Paulista".
----------------------------------------------
O núcleo de papéis do acervo recebeu recentemente mais uma importante contribuição. Trata-se de um desenho de Jean-Louis Forain, pintor, desenhista e ilustrador pós-impressionista francês, que faleceu em julho de 1931. Famoso por suas caricaturas, era disputado pelos jornais da época para que ilustrasse suas publicações. De humor agudo, gostava de mostrar o lado cômico da vida, ora ridicularizando o que o mundo enaltecia, ora louvando o que o mundo desprezava. São famosas suas representações de tribunais, concertos e prostíbulos, nas quais desnudava nas expressões de seus personagens as verdadeiras intenções dos protagonistas, muitas vezes com paralelos a importantes membros da sociedade da época.
Jean-Louis Forain "Cavalier" desenho a nanquin
O desenho é executado em pinceladas rápidas e apesar de sua simplicidade é nítido o perfeito sentido de conjunto e de perspectiva.
No verso há um esboço de uma cena da sociedade da época executado em grafite, representando um personagem masculino com a toga, o que nos faz crer que seja uma cena de tribunal, talvez presente em algum de seus quadros, hoje muito disputados nos leilões internacionais.
Jean-Louis Forain "Personagens" desenho a lápis (verso)
Esta obra já esteve em leilão da Christie's de Londres, em junho de 2002, reproduzida sob o no. 20 do catálogo de da venda de Arte Contemporânea e Pós-Guerra, sendo que a autenticidade da mesma foi certificada na sala do pregão pela neta do pintor. Mais um belo exemplar que merece ser contemplado e quem sabe em breve, exibido numa mostra para o público. Estamos nos esforçando para isso.
Marcadores:
arte,
desenho,
Escola Francesa,
Obras redescobertas
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
Desenho de Albert Marquet - Drawing of Albert Marquet
----------------------------------------------------------------
This post, written in portuguese, is about a drawing from Albert Marquet, which probably shows Pierre Auguste Renoir in his late years, and that is going to be exhibited at our future museum.
----------------------------------------------------------------
Albert Marquet - Portrait de Renoir?
Renoir na cadeira de rodas, Marquet à esquerda e Matisse em pé no centro em 1918
No verso da obra, reproduzido abaixo, temos um esboço rapidíssimo de um nu feminino, muito característico quando comparado com outros desenhos de Marquet.
Uma assinatura com a iniciais "a.m" alinhava a obra, que é de uma leveza impressionante. Realmente simples mas sem dúvida um Marquet.
Marcadores:
arte,
desenho,
Escola Francesa,
Fauve,
Obras redescobertas
sábado, 9 de junho de 2012
Pancetti - Poesia do Mar e do Homem em traços
Difícil escrever sobre Pancetti. A começar pelo título do texto, afinal, já foram tantos: O Pintor Marinheiro, O Marinheiro Só, Marinheiro Pintor e Poeta e muitos outros. Pancetti possui hoje uma extensa bibliografia, com textos críticos e biográficos escritos por gente do mais alto quilate, como o Prof. José Roberto Teixeira Leite, Max Perlingeiro, Denise Mattar e outras estrelas de primeira grandeza.
Mas, sempre pulsou no coração e na mente deste neófito que vos escreve, recém chegado às praias "pancettianas", uma vontade muito grande de prestar neste espaço uma simples mas sincera homenagem a este grande marinhista brasileiro, filho de imigrantes italianos originários da Toscana e marinheiro de carreira chamado Giuseppe Gianinni Pancetti, ou simplesmente, como adotou logo cedo em sua vida, José Pancetti.
"Eu" Auto-retrato, desenho, Coleção Banerj Fonte: MHAERJ
Mas, escrever o quê? O que falar deste artista nascido em Campinas, no ano de 1902, e que amargou uma infância dura e juventude desregrada? Qualquer esforço biográfico cairá inevitavelmente no lugar comum. Tenho que me deter de alguma forma em seu trabalho como pintor, como artista de ponta do modernismo brasileiro. Trabalhos de doutorado recentes, no Brasil e no exterior, já traduziram inclusive e em detalhes as pinceladas vigorosas, muitas vezes carregadas de areia das praias, deste fenomenal artista, cuja obra é de suma importância e se situa no mais alto patamar de representatividade da arte moderna brasileira.
Resolvi então abordar, de forma extremamente resumida, uma parte da obra de Pancetti, que apesar de pouco extensa quando comparada ao total da obra produzida, não pode ser considerada menos importante, por ser a base de todo o seu trabalho: O desenho
Durante a década de 1940, quando começou a fazer certo sucesso em suas exposições, conquistando prêmios almejados por muitos, Pancetti tinha entre seus mais vorazes críticos, aqueles que debochavam dele pelo fato de não ter vindo da Academia, do ensino clássico da pintura. A bem da verdade, seu aprendizado foi basicamente auto-didata até 1933, ano em que se matricula no Núcleo Bernardelli, onde conviverá com artistas como Bruno Lechowsky e Milton Dacosta, recebendo deles conselhos e orientações, que muito contribuíram para sua evolução.
Ora, quando deparamos com a obra de um grande artista figurativo e mesmo paisagista, jamais conseguiremos separá-la do seu desenho. Documentos fotográficos como os mostrados abaixo, que mostram Pancetti trabalhando, retratam muitas vezes suas telas com a base de suas pinturas como sendo desenhos a "fusain", precisos e já com o formato final que teriam as pinturas, bastando apenas nelas aplicar a tinta. Muitas vezes o pigmento passou a ser mero detalhe. Abaixo temos um exemplo numa foto do artista executando uma marinha com figuras.
Fonte: Max Perlingeiro, Edidota Pinakotheke
Na imagem abaixo, que mostra Pancetti iniciando um de seus quadros da Lagoa de Abaeté na Bahia, percebe-se nitidamente no desenho base a posição definitiva das figuras, as sombras já indicadas e de certa forma percebe-se que a ação do sol e do clima quente do local já emanam genialmente da tela.
Fonte: Bolsa de Arte do Rio de Janeiro
Algumas obras em papel do artista, como a maternidade reproduzida abaixo, vão mostrar também uma mão firme, com execução em traços únicos e precisos, determinando limites, volumes, extensões e não poucas vezes, como citado acima, o clima da composição. Só consegue realizar uma obra com todos esses atributos aquele artista que atinge o patamar de mestre, que domina o ofício como "bom artesão", como definiria Renoir, um dos maiores pintores impressionistas franceses, e título que devemos aplicar a Pancetti sem a menor sombra de dúvida.

Maternidade, Coleção Particular Fonte: Bolsa de Arte do Rio de Janeiro
Pancetti dominava o grafite, o crayon, a sanguínea e o lápis de cor bem como o nanquim, a aquarela e a sépia. Alguns de seus desenhos são concisos, com poucos traços definindo a figura. A maior parte porém, é constituída por desenhos nos quais o artista mostrou a preocupação com o delineamento da figura ou paisagem, conferindo harmonia à composição, com todas os nuances de luz e sombra, zelando pelo posicionamento do motivo no suporte e pelas proporções. Os auto-retratos possuem o mesmo clima de seus óleos(vide imagem no início da postagem) e alguns retratos chegam a lembrar as figuras de mulatas feitas por Lasar Segall, tal a expressão conseguida por seus traços.
Outro ponto importante a se salientar em seus desenhos de figuras, é que Pancetti não possuía limitações para representar os modelos. Os desenhava em qualquer posição e com igual precisão. Com poucos traços a figura poderia estar sentada, deitada, de bruços, reclinada, lendo ou escrevendo. Tão fácil que poderia até parecer brincadeira, não levasse ele o ofício tão a sério.
Com o pouco exposto acima, podemos talvez concluir, o leitor julgue, que os críticos da época que questionaram a capacidade do artista Pancetti, o conheciam pouco. Como a verdade histórica, cedo ou tarde sempre prevalece, as cotações das obras do artista atualmente mostram o reconhecimento pelo mercado da genialidade deste grande pintor e da importância de sua obra no contexto do modernismo brasileiro.
Os traços puros de Pancetti, apesar de bem menos conhecidos que suas marinhas, ainda vão impressionar, e muito, as gerações futuras.
Marcadores:
arte,
Biografias e textos críticos,
desenho,
Pintura
Assinar:
Postagens (Atom)