segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Jorge Vidgili - Lembram dele?

Dos artistas que passaram pela Projecta Galeria de Arte, que pertenceu ao meu falecido sogro José Luiz Pereira de Almeida, um dos que mais impressionou pela técnica e desenho refinados aplicados às suas obras foi Jorge Vidgili. Lá ele expôs duas vezes, uma individual e outra coletivamente, ambas na década de 70, quando a galeria começava. Tendo as marinhas como tema principal, usava da transparência com a qual mesclava bambuzais, troncos e folhagens ao mar da Praia Grande, que adotou como local para viver e criar.

Jorge Vidgili - Natureza morta com cerâmica - do acervo

As naturezas mortas também faziam parte de sua temática, onde abóboras e cocos recebiam tratamento hiper-realista, sempre entremeados a cerâmicas, molduras ou fundos algo enigmáticos, despertando no observador uma necessidade de análise além da contemplação, mas que sempre ficará aquém do verdadeiro pensamento do gênio criativo.

Jorge Vidgili- Sem título - do acervo

Não são raras também as composições de cunho surrealista, onde a técnica de execução esmerada com desenho preciso, nos transportam como mágica para a cena da tela, que possui um mundo à parte de texturas e movimentos, onde figuras, animais e objetos com seus volumes, luzes e sombras, já por si provocam o olhar e deixam transparecer uma inquietação e um questionamento até quase selvagem do artista com relação à existência e aos relacionamentos que dela emanam.

Há uma referência de um texto biográfico da Ranulpho Galeria de Arte, onde Vidgili expôs, que diz que o artista faleceu em 1999. Acredito que possa ser possível, uma vez que não encontramos no mercado qualquer obra posterior a essa data, Mas como já ocorreu com outros artistas que pesquisamos, ele pode estar ainda vivo e quieto em algum canto, talvez produzindo ou quem sabe meio brigado com o mundo. Tenho uma relação de artistas que adotaram esse comportamento e com isso não estranharia. De qualquer forma as obras de Jorge Vidgili são raras atualmente e começam a chamar a atenção quando aparecem pela enorme beleza e qualidade, num mundo onde a abstração talvez esteja dando sinais de saturação e cansaço. Dificilmente uma dessas pinturas passa um leilão sem vender. Vale a pena ficar atento.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Macaparana - Breve olhar sobre suas antigas pinturas


Macaparana - Oratório - OST. Do acervo

Quem hoje em dia se inicia no mercado de arte contemporânea brasileiro, vai inevitavelmente cruzar com obras de José de Souza Oliveira Filho, dito Macaparana, apelido este dado em função de sua cidade natal homônima, localizada no sertão de Pernambuco. A geometria por ele utilizada atualmente, talvez possa ser considerada como uma síntese de um trabalho que começou há quarenta anos, na década de 70, quando pintava paisagens surrealistas que remontavam ao sertão de sua terra natal, sucedidas pelos ex-votos, cuja madeira e respectiva textura aparentemente encantavam o artista, que as reproduzia em suas telas com enorme perícia, apesar da formação auto didata. A enorme qualidade do trabalho de Macaparana é sem dúvida de reconhecimento geral, traduzido por participações em inúmeras exposições, no Brasil e no exterior, onde se destaca a 21a. Bienal de São Paulo de 1991. Lembro que ele também expôs na Projecta Galeria de Arte, que pertencia a José Luiz Pereira de Almeida, meu falecido sogro, para quem Macaparana pintou o quadro do oratório acima.

Após breve passagem pelo Rio de Janeiro em 1972, Macaparana desembarca em São Paulo em 1973 e lá se estabelece. Em 1983 entra em contato com Willys de Castro, um dos principais artistas do neoconcretismo brasileiro, e a partir daí, a síntese geométrica que já se avistava, sofre uma mudança ainda mais radical e se transforma na obra que hoje conhecemos, composta por elementos geométricos reproduzidos em duas ou três dimensões. Com isso, ao que sabemos, a produção pictórica figurativa se encerrou, deixando para nossa análise uma obra de temática interessante e execução refinada, que chama a atenção do observador pela beleza e pelo tratamento delicado conferido a cada quadro, onde o equilíbrio de paisagens, ex-votos ou simples folhas de árvores elevadas à condição de objeto ou tema principal, nos transportam a um mundo à parte, cercado de horizontes longínquos verde-azulados, contrastados por cabeças ou peixes-paisagens surreais, espetados em galhos ou troncos secos que restaram sobre o solo do semi árido do sertão, cuja imagem jamais morrerá na mente do artista.

Macaparana - Ex-voto, fonte: site escritoriodearte.com.br

As obras reproduzidas acima reforçam de certa forma a descrição feita e mostram inclusive o tratamento da textura da madeira citado, onde veios e nós são tratados com elevado realce e as figuras e objetos estão dispostos com relativa simetria. No quadro mostrado mais acima, cujo motivo principal é um oratório, os objetos e figuras presentes na pintura estão representados alinhados na parte inferior e  compõem com a cruz no topo do oratório um triângulo imaginário que aponta para cima, para o céu, talvez como se quisesse dizer que é lá que estão todas as respostas. No outro quadro, no qual temos um ex-voto sobre um tronco, a forma obtida é de um monolito esculpido, um cilindro, que contrasta com as linhas do horizonte, com as quais forma uma cruz. O solo árido ao redor do tronco, cujo pé nele está enraizado, transmite um sentimento de solidão, de esquecimento e de certa impotência, como se o horizonte verde, belo e luminoso que o observador vislumbra, fosse impossível de se alcançar.

As pinturas dessa fase de Macaparana são realmente singulares e belas, e já estiveram inclusive em leilões internacionais como Christie's de Nova York, onde uma paisagem surrealista foi leiloada há alguns anos por valor em torno de US$ 10.000, se não me falha a memória. O artista está em plena produção da fase geométrica mas entendo que a valorização de suas paisagens e ex-votos é certa. O mais importante é nos deleitarmos com a beleza e toda a carga de reflexão que estas belas pinturas nos transmitem.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Carlos Bastos - Espetacular artista baiano


Carlos Bastos, Figuras, Nova York 1950. Do acervo

Carlos Frederico Bastos nasceu em Salvador, Bahia, em 1925 e pode ser considerado um dos principais e mais importantes artistas que a boa terra já produziu. Sua morte em 2004, data relativamente recente, fez com que se acendesse uma luz mais intensa sobre sua obra, que vai da pintura e ilustração aos murais e à cenografia. Iniciou seu aprendizado artístico na Escola de Belas Artes da Universidade da Bahia em 1944. Nesse mesmo ano já participa com Mario Cravo e Genaro de Carvalho da 1a. Mostra de Arte Moderna da Bahia. Em 1946 se muda para o Rio de Janeiro onde ingressa na Escola Nacional de Belas Artes. Estuda com Iberê Camargo, Santa Rosa, Carlos Oswald e Portinari. Em 1947 faz estudos em Nova York e posteriormente em 1949 vai para Paris onde estuda pintura mural e afresco na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts e desenho na Académie de la Grande Chaumière, retornando ao Brasil em 1951. Percebe-se no breve relato acima a sólida formação artística conquistada.

Participou de inúmeras exposições individuais e coletivas, no Brasil e no exterior, onde se destacam a Bienal de São Paulo de 1953 e o Salão Nacional de Arte Moderna do Rio de Janeiro de 1955, possuindo obras em vários museus e coleções particulares.

Com uma temática diretamente ligada à sua terra natal, reproduziu seu povo, festas e tradições com um desenho de maturidade indiscutível e um colorido intenso, forte e quente como a Bahia e sua gente. Sem sombra de dúvida a redescoberta de Carlos Bastos está só começando.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Simon Segal - Artista da Escola de Paris que passou por São Paulo


A obra reproduzida acima, de autoria de Simon Segal, foi mais um dos achados gratificantes no mercado de arte de São Paulo.

Simon Segal, artista de origem judaica da Escola de Paris, nasceu no ano de 1898 em Bialystok - hoje Polônia, mas que na época pertencia ao Império Russo. Emigrou para a França em 1925, vindo a se naturalizar em 1949. Começou a expor em 1935 em Paris, onde era amigo do marchand Bruno Bassano. Foi pintor, ilustrador e muralista, tendo inclusive trabalhado com o brasileiro Antonio Carelli nos murais da Catedral da Sé em São Paulo, após ter sido apresentado ao muralista brasileiro em Paris. Foi em São Paulo também onde Segal realizou uma exposição individual de seus mosaicos no MAM - Museu de Arte Moderna em 1960. Na pintura, executou retratos, paisagens, marinhas e quadros com motivos de animais, como o pertencente ao nosso acervo.

O artista veio a falecer em 1969 em Arcachon, onde está enterrado, e deixou uma obra de certa forma escassa. Do site da Sociedade dos Amigos de Simon Segal, entidade parisiense criada para difundir, estudar e catalogar a obra de Simon Segal, extraímos as exposições abaixo :

Em vida
  • 1935 — Paris – Billiet-Worms Gallery
  • 1950 — Paris – Drouant-David Gallery
  • 1951 — Toulon
  • 1953-55 — Paris – Bruno Bassano Gallery
  • 1956 — Albi – Musée Toulouse-Lautrec (retrospectiva)
  • 1957 — Paris – Bruno Bassano Gallery
  • 1959 — Paris – Musée Bourdelle (mosaicos)
  • 1960 — São Paulo – MAM - Museu de Arte Moderna (mosaicos)
  • 1961 — London – Grosvenor Gallery
  • 1963 — Milan – Stendhal Gallery
  • 1964 — Paris – Bruno Bassano Gallery
  • 1968 — Paris – Drouant Gallery
Póstumas

  • 1971 — Brest – Palais des Arts et de la Culture (retrospectiva)
  • 1972 — Valréas – Château de Simiane (retrospectiva)
  • 1982 — Paris – Salon de la Rose-Croix (retrospectiva)
  • 1989 — Paris – Musée du Luxembourg (retrospectiva, 160 obras)
  • 1990 — Paris – Salon du Dessin & de la Peinture à l'eau (30 obras)
  • 1997 — Arcachon (retrospectiva, 50 obras)
  • 1999 — Cherbourg – Musée Thomas Henry, Segal à La Hague (70 obras)
  • 2010 — Białystok – Muzeum PodlaskieThe secret child of Białystok (90 obras)

O artista e sua obra têm como especialista a senhora Nadine Nieszawer, expert nos artistas judeus da Escola de Paris, que gentilmente confirmou a autenticidade do quadro de Simon Segal exposto acima e que será exibido no MISP - Museu do Interior Sul Paulista. 

Resgatando Alfredo Ugarte Del Castillo - Contemporâneo Espanhol que viveu no Brasil



Recentemente, achei em um leilão de São Paulo, uma obra abstrata de execução carregada de "impasto", do artista espanhol Alfredo Ugarte del Castillo (vide acima), que faleceu em São Paulo em 1986. Originário da cidade de Pamplona - Navarra, Espanha, o artista está descrito na Grande Enciclopédia de Navarra como um dos representantes da pintura contemporânea espanhola, que juntamente com Gerardo Lizzárraga (que foi marido de Remedios Varo), Adela Bazo e outros, deixaram o país ainda jovens com destino à América. O pesquisador Francisco Javier Zubiaur Carreño, em seu trabalho "Pintura contemporánea en Navarra. Historiografía 1995-2005" fala do total desconhecimento do trabalho desses artistas emigrados, à exceção de Lizzárraga e Bazo, cuja produção pictórica foi em parte resgatada pelo Museu de Navarra.




Indo um pouco mais além na pesquisa, descobrimos que Alfredo Ugarte del Castillo trabalhou como ilustrador. A capa do livro de Therese A. Tellegen reproduzida acima é um exemplo e um registro de mais uma obra desta desconhecida produção. Quanto às exposições, encontramos o registro da participação de Ugarte del Castillo no VII Salão de Arte Contemporânea de São Caetano do Sul em 1974, juntamente com artistas como Ermelindo Nardim, Luiz Carlos Ferracioli, Manfredo Souza Neto, Pedro Fogaça Filho e Romildo Paiva.

O crítico de arte Joseph Luyten, na apresentação do livro de Oscar D'Ambrosio " Os pincéis de Deus - vida e obra do pintor naif Waldomiro de Deus" de 1999, faz uma citação a Ugarte de Castillo como pertencente a um grupo de artistas que nos anos 60, juntamente com Waldomiro, perambulava por galerias e exposições de São Paulo, tendo sido descrito pelo crítico como um artista espanhol contra tudo e contra todos. A pintura forte e marcante destes dois únicos exemplos que temos reproduzidos acima realmente mostra um pouco disso.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Colete Pujol - Pequeno tributo a uma grande artista


Colete Pujol - Côtes Sauvages - década de 40 - coleção particular

                 É de certa forma até comum encontrarmos no mercado de arte obras de Colete Pujol. Pintora, desenhista e professora, nasceu em São Paulo em 1913. Desde muito cedo começou a desenhar e a pintar, tendo iniciado o aprendizado com Georges Pavec em Paris em 1925. Estudou posteriormente com Lucília Fraga e Antonio Rocco, tendo já na década de 40 exposto individual e coletivamente. Em 1942 vai para Salvador na Bahia, onde estuda com Presciliano Silva e executa paisagens de um colorido intenso, de contrastes harmoniosos, com um tratamento da luz em suas paisagens que traduzem todo seu talento e maestria de execução. A obra abaixo, de beleza ímpar, é um belo exemplo das obras pintadas na Bahia. Contemplada com uma bolsa de estudos do governo francês, Colete Pujol ruma para Paris em 1946 onde estuda na École de Beaux Arts e na Academia Julian, retornando ao Brasil em 1949. Na sua experiência francesa adquire um gosto todo especial pelo impressionismo, tendo produzido verdadeiras obras primas a "um toque", como a paisagem acima "Côtes Sauvages", executada na Bretanha em torno de 1948.

Colete Pujol - Azul e Sol - reprodução de autoria desconhecida - fonte : Itaú Cultural

                Estabeleceu-se posteriormente em São Paulo onde passou a dar aulas de desenho e pintura(deu aulas inclusive para Arcângelo Ianelli) , além obviamente de pintar e participar de diversas exposições. Com o tempo, suas obras passaram a apresentar formas mais definidas e um colorido mais suave, sem deixar contudo de apresentar grande harmonia e equilíbrio, conferidos por um enorme conhecimento da arte pictórica. Veio a falecer em 1999 em São Paulo, deixando uma obra extensa e de conteúdo marcante, onde predominam as paisagens e naturezas mortas. Não tenho dúvida de que o mercado de arte brasileiro vai "redescobrir" Colete Pujol muito em breve.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Pedra fundamental do MISP - Museu do Interior Sul Paulista

Hoje, 29 de junho de 2015, dia de São Pedro e São Paulo, além de fogueira, quentão e pipoca para festejar os grandes santos, dentro da antiga tradição brasileira, estamos comemorando o lançamento da pedra fundamental ( ainda digital), do Museu do Interior Sul Paulista, o MISP.

Era um sonho antigo da família poder compartilhar nosso pequeno acervo de arte com a coletividade, e proporcionar às pessoas interessadas o acesso a obras de artistas de renome internacional, nacionais e estrangeiros, participantes das mais diversas correntes artísticas, de acadêmicos a contemporâneos, de figurativos aos abstratos, de iconográficos a conceituais.

A maior parte das obras está no acervo da família há muitos anos e são procedentes de outras importantes coleções e de leilões de renome.

Disponibilizaremos também no futuro, o acesso à pequena biblioteca de arte da família, que possui hoje em torno de 1.000 volumes e contém algumas jóias em termos de edições especiais e catálogos, incluindo alguns catálogos raisonnés como os de Portinari e Iberê Camargo entre outros.

A intenção é a construção de um espaço próprio, em terreno a ser definido, no município de Itapetininga, que possa abrigar salas de exposição, acervo técnico, biblioteca e utilidades como atelier de restauro, salas de aula e um pequeno auditório. Como já foi dito, é um sonho que começaremos a tornar realidade.

Iniciaremos com exposições virtuais e paralelamente iremos informando a evolução do projeto. Quaisquer contribuições em idéias, experiências e dicas serão amplamente aceitas. Fiquem à vontade.


 Clóvis Graciano - Retirantes - óleo s/ papel - assinado e datado 1945 c.i.d - Obra do acervo