sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Macaparana - Breve olhar sobre suas antigas pinturas


Macaparana - Oratório - OST. Do acervo

Quem hoje em dia se inicia no mercado de arte contemporânea brasileiro, vai inevitavelmente cruzar com obras de José de Souza Oliveira Filho, dito Macaparana, apelido este dado em função de sua cidade natal homônima, localizada no sertão de Pernambuco. A geometria por ele utilizada atualmente, talvez possa ser considerada como uma síntese de um trabalho que começou há quarenta anos, na década de 70, quando pintava paisagens surrealistas que remontavam ao sertão de sua terra natal, sucedidas pelos ex-votos, cuja madeira e respectiva textura aparentemente encantavam o artista, que as reproduzia em suas telas com enorme perícia, apesar da formação auto didata. A enorme qualidade do trabalho de Macaparana é sem dúvida de reconhecimento geral, traduzido por participações em inúmeras exposições, no Brasil e no exterior, onde se destaca a 21a. Bienal de São Paulo de 1991. Lembro que ele também expôs na Projecta Galeria de Arte, que pertencia a José Luiz Pereira de Almeida, meu falecido sogro, para quem Macaparana pintou o quadro do oratório acima.

Após breve passagem pelo Rio de Janeiro em 1972, Macaparana desembarca em São Paulo em 1973 e lá se estabelece. Em 1983 entra em contato com Willys de Castro, um dos principais artistas do neoconcretismo brasileiro, e a partir daí, a síntese geométrica que já se avistava, sofre uma mudança ainda mais radical e se transforma na obra que hoje conhecemos, composta por elementos geométricos reproduzidos em duas ou três dimensões. Com isso, ao que sabemos, a produção pictórica figurativa se encerrou, deixando para nossa análise uma obra de temática interessante e execução refinada, que chama a atenção do observador pela beleza e pelo tratamento delicado conferido a cada quadro, onde o equilíbrio de paisagens, ex-votos ou simples folhas de árvores elevadas à condição de objeto ou tema principal, nos transportam a um mundo à parte, cercado de horizontes longínquos verde-azulados, contrastados por cabeças ou peixes-paisagens surreais, espetados em galhos ou troncos secos que restaram sobre o solo do semi árido do sertão, cuja imagem jamais morrerá na mente do artista.

Macaparana - Ex-voto, fonte: site escritoriodearte.com.br

As obras reproduzidas acima reforçam de certa forma a descrição feita e mostram inclusive o tratamento da textura da madeira citado, onde veios e nós são tratados com elevado realce e as figuras e objetos estão dispostos com relativa simetria. No quadro mostrado mais acima, cujo motivo principal é um oratório, os objetos e figuras presentes na pintura estão representados alinhados na parte inferior e  compõem com a cruz no topo do oratório um triângulo imaginário que aponta para cima, para o céu, talvez como se quisesse dizer que é lá que estão todas as respostas. No outro quadro, no qual temos um ex-voto sobre um tronco, a forma obtida é de um monolito esculpido, um cilindro, que contrasta com as linhas do horizonte, com as quais forma uma cruz. O solo árido ao redor do tronco, cujo pé nele está enraizado, transmite um sentimento de solidão, de esquecimento e de certa impotência, como se o horizonte verde, belo e luminoso que o observador vislumbra, fosse impossível de se alcançar.

As pinturas dessa fase de Macaparana são realmente singulares e belas, e já estiveram inclusive em leilões internacionais como Christie's de Nova York, onde uma paisagem surrealista foi leiloada há alguns anos por valor em torno de US$ 10.000, se não me falha a memória. O artista está em plena produção da fase geométrica mas entendo que a valorização de suas paisagens e ex-votos é certa. O mais importante é nos deleitarmos com a beleza e toda a carga de reflexão que estas belas pinturas nos transmitem.

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