terça-feira, 14 de abril de 2009

Leilão de Abril de Soraia Cals e Evandro Carneiro

Vai começar a temporada dos melhores leilões de arte do Brasil. Nos próximos dias 28 e 29 de Abril, no Atlantic Business Center do Rio de Janeiro, ocorrerá o leilão de arte de Soraia Cals e Evandro Carneiro, dois dos principais promotores de eventos de arte no Brasil, famosos inclusive pelos belíssimos livros/catálogos que editam. Soraia e Evandro são reconhecidamente exigentes na seleção das peças e, a exemplo do que está ocorrendo lá fora, onde qualidade se sobrepõe à quantidade, o próximo leilão tem tudo para ser dos melhores. A obra mostrada na capa do convite, reproduzido abaixo, já dá uma mostra. Trata-se de um Milton Dacosta, Figura, da década de 50, fase áurea do artista, reproduzido em livro e tudo o mais, que deve aguçar o apetite de muitos colecionadores.


Outra sensação do leilão será o óleo de Cândido Portinari reproduzido abaixo, Família, datado de 1939, que já foi exposto no exterior e está reproduzido no catálogo raisonné do artista. É uma peça que vai fazer brilhar os olhos de muitos amantes da boa pintura, principalmente por não ser muito fácil de se encontrar obra de Portinari desta fase e desta qualidade hoje em dia no mercado.


Além dessas grandes oportunidades, o leilão está recheado de obras dos maiores nomes das artes plásticas do Brasil, desde acadêmicos e modernos aos contemporâneos. Para maiores informações, o interessado em participar do leilão poderá fazer contato pelos endereços eletrônicos contato@soraiacals.com.br e contato@evandrocarneiroleiloes.com . Não devemos esquecer que arte de primeira linha é resseguro de crise. Com isso, neste próximo leilão, teremos obras importantes e que serão sem dúvida, além de deleite para os olhos e elevação para o espírito, um grande investimento. Vale a pena conferir e participar.

domingo, 12 de abril de 2009

Sotheby's New York - Arte Impressionista e moderna II

Com relação aos leilões da Sotheby's de Nova York do próximo mês de maio, seria interessante fazer também algumas observações sobre a venda do dia 6, a chamada "Day Sale", que abrange, por assim dizer, as obras "mais acessíveis". Em grande parte são obras executadas sobre papel ou pequenos óleos e esculturas de menor expressão, executados por mestres da envergadura de Pablo Picasso, Renoir, Caillebote, André Lhote, Marquet, Vuillard e Matisse entre muitos outros. A peça de maior estimativa é o óleo "Le téléphone II", reproduzido abaixo, de Tamara de Lempicka, artista polonesa pertencente à Escola de Paris, que estudou com Leger e Lhote, com valor estimado entre US$ 800 - 1.200 mil.


Outra peça interessante é a paisagem de Henri Matisse, entitulada "Le Rivage - Étretat", reproduzida abaixo, pintada em 1920, um tanto distante do fauvismo que marcou a fase mais famosa do artista mas que transpira um modernismo que lembra algo de Marquet, seu colega de movimento, e que vai a pregão com estimativa entre US$ 500 - 700 mil.

A comparação com Albert Marquet pode ser feita pela obra também reproduzida abaixo, "SORTIE DE LA PORTE DE CHAUME (LES SABLES-D'OLONNE)", de autoria do mestre de Bordeaux, que vai a leilão logo em seguida no mesmo dia, mas com uma estimativa bem abaixo da paisagem de Matisse, de "apenas" US$ 80 - 120 mil.

O que nitidamente se percebe é que mesmo no núcleo de obras mais baratas, o rigor na seleção com preferência por obras de maior qualidade é a ordem do dia. É provável que começaremos a ver de novo circular no mercado obras que estão "sumidas" há um bom tempo. Bom para os colecionadores e bom para todos que gostam de admirar a boa arte. E essa tendência deve chegar, com certo atraso, ao Brasil também. É esperar para ver.

sábado, 11 de abril de 2009

Sotheby's New York - Arte Impressionista e moderna

Nos próximos dias 5 e 6 de maio de 2009, acontecerá mais um leilão de arte impressionista e moderna na Sotheby's, desta vez em Nova York. Sabemos que nas últimas vendas, os compradores vieram atrás de qualidade, e isso é o que não falta neste próximo evento. Uma das atrações é o quadro de Pablo Picasso de 1938 reproduzido abaixo, cujo título traduzido é " Filha do artista com dois anos e meio com um barco", cuja estimativa está entre US$ 16 - 24 milhões. "Uma pechincha!" Apesar de não assinada e apenas datada, é uma obra importante do artista e está reproduzida em uma série de livros, além de já ter sido exposta pelo mundo inteiro.


Outra sensação da noite será a escultura de Alberto Giacometti "Le Chat", que também possui estimativa de US$ 16-24 milhões. A venda possui uma seleção de obras notáveis de artistas impressionistas como Alfred Sysley, Claude Monet, Camille Pissarro e Pierre-Auguste Renoir, cuja obra reproduzida abaixo"Claude Monet et Mme. Henriot" tem estimativa de US$ 1,5 a 2 milhões.

Contando ainda com obras de artistas modernos como Piet Mondrian, Jean Arp, Ben Nicholson, Archipenko e da polonesa Tamara de Lempicka entre outros, o leilão tem tudo para ser um grande sucesso e afugentar a crise que ronda os mercados. Vamos aguardar para ver.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Giovanni Battista Castagneto

Giambattista, João Batista ou Giovanni Battista Castagneto, nasceu em Gênova, cidade portuária da Itália em 27 de Novembro de 1851, e chegou ao Brasil em 1874 junto com o pai, Lorenzo, em 1874. O jovem Castagneto trazia o mar no sangue. Filho de marinheiro, nascido nos arredores de um dos principais portos da Itália, de onde sairam a maior parte dos imigrantes italianos que aqui aportaram, é perfeitamente compreensível que quando chegou ao Rio de Janeiro, enebriado pela exuberante paisagem marítima daquela que era uma das mais bonitas baías do mundo, quisesse retratá-la da melhor maneira possível.

Dessa forma em 1877 matriculou-se na Academia Imperial de Belas Artes, onde além de gozar da amizade de diversos artistas da época como Antonio Parreiras e Garcia Y Vásquez, teve a oportunidade de estudar com nomes da envergadura de Zeferino da Costa, Vitor Meireles e Georg Grimm. Começa a expor em 1879 na Academia, sendo seu talento premiado desde então, nas variadas modalidades como pintura histórica e principalmente nas paisagens. Em 1882 passa a lecionar desenho elementar no Liceu de Artes e Ofícios, levado por Vitor Meireles que lá organizara um curso profissional. Expôs constantemente no Rio de Janeiro até 1890, quando embarca para a Europa, com o objetivo de aprimorar sua pintura. Pinta principalmente na França, de onde retorna em 1893 com uma série de quadros magníficos, de um vigor e coloridos excepcionais. A obra reproduzida abaixo, O Forte de Toulon, é um exemplo desta fase.



fonte da imagem: Bolsa de Arte do Rio de Janeiro

Castagneto possuía uma personalidade forte, de muitos contrastes, e sua pintura foi uma testemunha disso. Sua pincelada sempre precisa e segura, alternou pelo nervosismo e pela calma, pela rudeza e pela suavidade. De qualquer forma, suas marinhas passaram a ser admiradas e disputadas pelos colecionadores, tendo inclusive exposto algumas vezes em São Paulo, onde obteve sucesso de público e crítica, sempre vendendo a maioria das obras oferecidas. Em 1898, já enfraquecido por doença, passou a morar em Paquetá, no Rio de Janeiro, onde produziu uma vasta série de marinhas, na maior parte em pequenos pedaços de madeira, os quais entendemos eram seus suportes preferidos, principalmente pelo baixo custo. Em 1900, com o agravamento de sua doença, principalmente pelo alcoolismo, vem a falecer em uma casa de saúde do Rio de Janeiro a 29 de Dezembro, praticamente esquecido. Ao final de sua vida, em 1900, Castagneto profetizava a seu amigo Artur Azevedo que seus quadros " serão pagos a peso de ouro quando dentro do Brasil comercial e político, surgir, daqui a muitos anos, o Brasil artístico." E não foi diferente.

O crítico e historiador de arte Carlos Roberto Maciel Levy, está preparando um banco de dados sobre Castagneto, com vistas à catalogação da extensa obra do artista.

terça-feira, 31 de março de 2009

John Graz - Um artista extraordinário

Por fim, já que falamos de Antonio e Regina Gomide, somos compelidos a escrever um pouco sobre o último artista da Família Graz - Gomide: John Graz. Nascido em 12 de Abril de 1891 em Genebra- Suiça, John Louis Graz, ou simplesmente John Graz como assinava suas obras, entrou na Academia de Belas Artes por volta de 1908, onde estudou com Guilliard, Vernet e Edouard Ravel, mestres que além de sólidos conhecimentos de desenho e pintura, lhe transmitiram um ecletismo que John reproduziu em obras das mais variadas espécies ao longo de sua extensa vida criativa. Dono de um desenho sólido e solto, John Graz produziu pinturas, desenhos, esculturas, cerâmicas, vitrais, jóias e também peças de mobiliário de uma leveza surpreendente, onde as curvas e os ângulos de seu desenho estão sempre presentes.



A obra acima, Pescador, é um típico desenho de John Graz. Percebam a sinuosidade das curvas da figura dando a noção de movimento. John Graz, foi um dos pintores participantes da Semana de Arte Moderna de 1922, juntamente com Regina sua esposa, Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Zina Aita e outros. Em 1970, A Fundação Armando Álvares Penteado organizou uma exposição retrospectiva de seu trabalho e em 1976 o Museu Lasar Segall na mostra "Família Graz-Gomide", expôs um bom número de suas obras.

Felizmente, a extensa produção de John Graz está sendo catalogada pelo Instituto John Graz, encabeçado pela Sra. Annie Graz, segunda esposa de John após este ter ficado viúvo de Regina Gomide em 1973, e as informações sobre certificação e catalogação podem ser obtidas no site www.institutojohngraz.org.br . Com certeza, este é um artista do qual ainda vamos ouvir falar muito no futuro.

Regina Gomide Graz - Uma Modernista

Na última postagem, comentei sobre Antonio Gomide, e com isso, faz-se necessário comentar também sobre sua irmã, Regina Gomide Graz. Nascida em Itapetininga - SP em 1897, Regina, como seu irmão, estudou artes decorativas na Escola de Belas Artes da cidade de Genebra, Suiça, onde morou de 1913 a 1920. Foi lá inclusive que Regina conheceu seu futuro marido, John Graz, e com o qual participou da tão famosa Semana de Arte Moderna de 1922 em São Paulo.

Regina se especializou em artes decorativas e seus trabalhos se concentraram nas tapeçarias e almofadas, itens indispensáveis na decoração estilo Art-Deco, do qual junto com seu marido e o próprio irmão, foi uma das precursoras na utilização no Brasil, sendo que alguns autores reputam a ela a introdução do artesanato no país. Regina montou inclusive uma pequena indústria de tapetes artesanais em São Paulo, na dec. de 50. Abaixo temos a reprodução de uma almofada de autoria de Regina Gomide, pertencente à coleção de Benjamin Steiner, que ilustra muito bem o trabalho realizado por ela nas décadas de 20 e 30.


Hoje no mercado, são raríssimos os trabalhos de Regina Gomide Graz, até mesmo pela friabilidade dos materiais utilizados, o que lamentavelmente pode ter gerado o desaparecimento de um importante acervo desta grande artista, que além da Semana de Arte Moderna, participou também do I Salão Paulista de Belas Artes e da coletiva Contribuição da Mulher às Artes Plásticas do País, promovida pelo MAM SP em 1961. Em 1976, o Museu Lasar Segall abrigou a exposição "A Família Graz-Gomide, O Art-Deco no Brasil", na qual várias obras de Regina foram mostradas. Existem referências suas no livro de autoria de Rita Cáurio - Artêxtil - Viagem pelo Mundo da Tapeçaria. O MAB FAAP possui em seu acervo vários esboços de tapetes realizados por Regina Gomide Graz, base e mostruário para as peças que confeccionava sob encomenda. A partir de agora, quando entrarem em uma casa antiga, decorada em estilo Art-Deco principalmente em São Paulo, tomem cuidado onde pisam.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Um pouco sobre Antonio Gomide

Nascido em Itapetininga, município onde resido, em 1895, Antonio Gonçalves Gomide pode ser considerado um dos principais artistas modernistas brasileiros. Dono de um estilo inconfundível, principalmente quanto às obras da dec. 20, com forte influência cubista, fruto da convivência com artistas da envergadura de Pablo Picasso, George Braque, Francis Picabia e Andre Lhote entre outros, durante sua estada em Paris, onde chegou a ter um ateliê na Rue Vercingétorix, 52. Nessa mesma época, chegou a expor no Salon des Indépendants e no Salon d'Automne de Paris. A obra abaixo, Pont Saint Michel, é um dos melhores exemplo dessa época.



Gomide, a bem da verdade, morou na Europa desde 1913, quando mudou com a família para Genebra, na Suiça. Lá estudou na Escola de Comércio de Genebra e na Escola de Belas Artes da mesma cidade. Na primeira conheceu Sergio Milliet e na segunda John Graz, que mais tarde se casaria com sua irmã Regina. Após várias idas e vindas da Europa, só retornaria definitivamente ao Brasil em 1929, quando instalou um ateliê na Alamenda Nothmann, na cidade de São Paulo.
Além da pintura e do desenho, Antonio Gomide executou decoração de interiores e também vitrais para decoração de igrejas para a empresa de Conrado Sorgenicht Filho, deixando sem dúvida, uma obra extensa e eclética. Apesar de ser dono de uma personalidade algo introspectiva, preferindo sempre o isolamento à exposição na mídia da época, Gomide participou de várias e importantes mostras no Brasil e no exterior, como a organizada em Nova York pelo International Art Center do Museu Roerich, bem como dos salões de Maio em São Paulo na década de 30 e da I Bienal de São Paulo de 1951. Em 1968, muda-se para Ubatuba no litoral de São Paulo, vindo a falecer em 1969, totalmente cego. Antonio Gomide foi muito bem retratado por Elvira Vernaschi em seu livro "Gomide", resultado de seu trabalho de mestrado na USP sob orientação do Prof. Walter Zanini, o qual também a credenciou como catalogadora e certificadora da obra deste grande artista.