segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Carlos Scliar - Artista gaúcho excepcional - Um breve comentário



A pintura reproduzida acima, "Vidro de Farmácia" é de autoria de Carlos Scliar, artista nascido no Rio Grande do Sul de grande talento e que faleceu em 2001 no Rio de Janeiro deixando uma obra maravilhosa e de conteúdo e características excepcionais.

Pintor, desenhista, gravador, ilustrador e cenógrafo, Scliar, como é comumente chamado no meio artístico, começou na vida artístiva em 1934, quando ainda tinha 14 anos. Cinco anos mais tarde, em 1939, vem para São Paulo e Rio de Janeiro quando trava conhecimento com Cândido Portinari. Já em 1940, com vinte anos, realiza em São Paulo, onde se estabeleceu, sua primeira exposição individual. Em 1943 foi convocado pela FEB e foi para a Europa lutar na 2a. Guerra Mundial, período que inspirou algumas obras posteriores como Guerra I e Campo de Concentração. Na sua volta executa pinturas e gravuras onde é nítida a influência de Lasar Segall e Cândido Portinari.

Na década de 50, executa uma série de trabalhos gráficos e de cenografia, entre eles os trabalhos para o filme "Rio Zona Norte" cujo diretor foi Nelson Pereira dos Santos, tendo inclusive assumido a diretoria de Artes da revista Senhor até o início de 1960.

Scliar - Jarituba I - Lito da década de 80

Nas décadas de 70 e 80 executa uma série de trabalhos utilizando também as técnicas da colagem e do do vinil encerado, com soluções plásticas de características peculiares, onde elementos de natureza morta e paisagens convivem com trechos de escrita ou simplesmente letras, cujo sentido exigem do observador uma leitura atenta do trabalho como um todo, para que se possa compreender e adentrar o universo criativo de Scliar, no qual flui sua sensibilidade, crítica e questionamento de paradigmas. Dentro da linha de questionamentos, foi militante do partido comunista, possivelmente influenciado por amigos como Portinari, tendo inclusive participado de exposição específica de artistas pertencente aos seus quadros. Já que falamos de exposição, Scliar participou de centenas de mostras individuais e coletivas, no Brasil e no exterior, onde se destacam os Salões Nacionais de Belas Artes, A Bienal do Sec. XX e muitas outras. Sem dúvida Carlos Scliar receberá o reconhecimento devido do mundo das artes.


terça-feira, 31 de julho de 2018

Marina Caram - de Sorocaba para o mundo


Há tempos que pretendo escrever alguma coisa sobre Marina Caram, artista que participa de nosso acervo com duas obras que estão reproduzidas abaixo e das quais emanam toda a força do  expressionismo da artista. Homens, mulheres, crianças e animais possuem e transmitem um misto de espanto e dor, tristeza e solidão, traduzidos por traços vigorosos transformados em figuras desformes, que nos levam a sentir na pele e no coração as mesmas sensações.


Nascida em Sorocaba em 1925, cidade na qual iniciou seu aprendizado artístico , mudou-se para São Paulo em 1945 onde conheceu Oswald de Andrade, que entusiasmado com sua obra a apresenta a Pietro Maria Bardi, diretor do MASP. Alguns anos mais tarde, em meados da década de 50, conhece Di Cavalcanti que não menos sensibilizado, lhe empresta o atelier. Expõe pela primeira vez em 1951 numa individual no MASP e em seguida segue para Paris como bolsista do governo francês e estuda até 1953 na Escola Nacional de Belas Artes daquela cidade. Trabalhou como desenhista, pintora, gravadora, escultora e ilustradora, participando de inúmeras exposições individuais e coletivas das quais se destacam a Bienal Internacional de São Paulo em várias edições desde 1953, Salão Paulista de Arte Moderna de 1956 a 1961, indivuais no MASP em 1951 e 1953, no Musée Saint-Vic na França e no Museu Lasar Segall em 2005 com o título "Alma pelo Avesso".




Marina Caram faleceu em 2008 em São Paulo, deixando uma obra marcante, característica em extremo e principalmente de grande qualidade, podendo ser considerada sem sombra de dúvida como uma das grandes senão a maior representante do expressionismo brasileiro. Suas obras estão presentes em alguns dos principais museus do Brasil e do exterior além de numerosas coleções particulares. O mercado recentemente vem voltando os olhos para a monumental obra desta excelente artista e seu reconhecimento é uma mera questão de tempo.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Um pouco mais sobre Maria Leontina


Maria Leontina, Rosto de Mulher, Pastel sobre papel, Coleção Particular

Em Março de 2009, escrevi um post sobre Maria Leontina e hoje coloco no ar mais um com algumas informações diferentes, até como homenagem e em memória aos 100 anos de nascimento da artista comemorados em 2017, quando inclusive a Dan Galeria produziu uma magnífica exposição com muitas obras inéditas da pintora. Apesar de alguns meses de atraso, como a arte é eterna, a homenagem ainda está em tempo.

Maria Leontina Mendes Franco da Costa nasceu em São Paulo em 1917, filha de família tradicional paulistana. Começou a se interessar pelas artes plásticas após visitar uma exposição de Fávio de Carvalho, tendo iniciado o aprendizado de desenho com Antônio Covello em 1938 e em seguida o de pintura com Waldemar da Costa. Em 1946 já no Rio de Janeiro, passa a frequentar o atelier de Bruno Giorgi e estuda Museologia no Museu Histórico Nacional entre 1946 e 1948. Em 1949 casa-se com o pintor Milton Dacosta. Começou a expor em 1942 no Salão Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e desde então foram inúmeras as suas exposições individuais e coletivas, das quais podemos destacar a Bienal de Veneza de 1950, 1952 e de 1956, a I e III Bienal de São Paulo, I Salão Nacional de Arte Moderna do MAM Rio, o Salão de Maio de Paris de 1952 entre muitas outras. Entre os vários prêmios recebidos cabe citar o da Fundação Guggenheim em Nova York em 1960.

Considerada uma das melhores coloristas entre todos os artistas brasileiros, teve sua temática mais voltada ao expressionismo no começo de sua carreira. O desenho reproduzido acima é típico desta fase expressionista e demonstra a forma fluida do desenho de Leontina, aliás técnica que explorava muito bem e que mereceria melhor estudo pelos curadores e conservadores brasileiros. Com o tempo, após sua viagem à França na década de 50 como bolsista pelo governo francês, começa a migrar para a abstração, também sob forte influência do marido Milton Dacosta. Como consequência desse processo, enveredou pelo abstracionismo geométrico mas com características próprias e marcantes, principalmente por um colorido de bom gosto indiscutível tanto na utilização de uma paleta baixa como alta. Sua carreira culminou com a série dos "Estandartes" (vide um exemplar abaixo) , talvez a fase mais conhecida pelo mercado, durante a qual produziu óleos, desenhos e gravuras nos quais explorou o contraste e superposição de planos de cores ora vibrantes ora sombrios, mas sempre com resultado estético de grande qualidade. Até o final de sua vida, suas obras foram mostrando uma síntese de seu trabalho, nas quais linhas ligeiras acompanhavam planos coloridos, induzindo a formas que o observador as intuía com facilidade.

Maria Leontina, Estandarte, Pastel sobre Papel. Foto: Rômulo Fialdini. Fonte: Itaú Cultural

Suas obras estão presentes nos mais importante museus brasileiros como o MNBA, MAM RJ, MAC USP entre muitos outros. Sem sombra de dúvida Maria Leontina deve constar da relação do seleto grupo dos grandes artistas brasileiros. Alexandre Dacosta, filho da artista, disse em 2017 que pretende iniciar os trabalhos de catalogação da obra da pintora, aliás sugestão que eu já havia dado em 2009 quando do primeiro post. O mercado vai agradecer muito.

terça-feira, 10 de abril de 2018

Vera Bocayuva Mindlin - Um pequeno tributo


Existem artistas brasileiros excelentes que muitas vezes caem no esquecimento cruel de uma sociedade cuja elite intelectual (ou pseudointelectual) se deixa influenciar por efeitos midiáticos, negligenciando a essência de muitos trabalhos artísticos sérios de grande sensibilidade, baseados em estudos profundos de tema e técnica, com aprendizado proveniente de grandes mestres da pintura, desenho e gravura. Vera Bocayuva Mindlin acredito ser um desses casos.

Apesar de suas obras, principalmente gravuras, estarem constantemente presentes em alguns dos melhores leilões de arte do país, pouco ou nada se vê sobre sua história, percurso de trabalho, exposições e acervos. Recentemente, quando me senti atraído pela gravura reproduzida acima, uma máquina, de execução refinada em metal/relevo, tive a curiosidade desperta para saber mais dessa artista cuja obra me fascinara.

Vera nasceu no Rio de Janeiro em 1920 e faleceu na mesma cidade em 1985. Foi casada com Henrique Mindlin, arquiteto de fama na cidade maravilhosa e irmão de José Mindlin, o grande bibliófilo. Seu percurso de aprendizado foi intenso e de grande qualidade. Estudou com Léger e Lhote em Paris e com Oswaldo Goeldi e Iberê Camargo no Brasil. Sua obra a princípio seguiu pelo abstracionismo, aliás uma tendência da época, mas aos poucos foi retornando à forma, sendo a gravura acima um bom exemplo dessa sua fase de maior maturidade. Começou a expor desde a década de 1940, sendo que em 1947 ganhou a medalha de bronze no SNBA. Entre suas inúmeras mostras individuais e coletivas podemos destacar a Bienal Interamericana de Pintura e Gravura do México em 1958 e a Bienal de São Paulo de 1959.

Suas obras, principalmente gravuras, integram os acervos de museus como o MOMA de Nova York e o MAM do Rio de Janeiro entre outros. Pena que a última referência que se tem notícia de uma obra sua exposta data de 2003. Fica aqui a sugestão para conservadores e curadores quem sabe promoverem um resgate dessa grande artista.