sábado, 9 de junho de 2012

Pancetti - Poesia do Mar e do Homem em traços

Difícil escrever sobre Pancetti. A começar pelo título do texto, afinal, já foram tantos: O Pintor Marinheiro, O Marinheiro Só, Marinheiro  Pintor e Poeta e muitos outros. Pancetti possui hoje uma extensa bibliografia, com textos críticos e biográficos escritos por gente do mais alto quilate, como o Prof. José Roberto Teixeira Leite, Max Perlingeiro, Denise Mattar e outras estrelas de primeira grandeza.
Mas, sempre pulsou no coração e na mente deste neófito que vos escreve, recém chegado às praias "pancettianas", uma vontade muito grande de prestar neste espaço uma simples mas sincera homenagem a este grande marinhista brasileiro, filho de imigrantes italianos originários da Toscana e marinheiro de carreira chamado Giuseppe Gianinni Pancetti, ou simplesmente, como adotou logo cedo em sua vida, José Pancetti.

"Eu" Auto-retrato, desenho, Coleção Banerj Fonte: MHAERJ

Mas, escrever o quê? O que falar deste artista nascido em Campinas, no ano de 1902, e que amargou uma infância dura e juventude desregrada? Qualquer esforço biográfico cairá inevitavelmente no lugar comum. Tenho que me deter de alguma forma em seu trabalho como pintor, como artista de ponta do modernismo brasileiro. Trabalhos de doutorado recentes, no Brasil e no exterior, já traduziram inclusive e em detalhes as pinceladas vigorosas, muitas vezes carregadas de areia das praias, deste fenomenal artista, cuja obra é de suma importância e se situa no mais alto patamar de representatividade da arte moderna brasileira.

Resolvi então abordar, de forma extremamente resumida, uma parte da obra de Pancetti, que apesar de  pouco extensa quando comparada ao total da obra produzida, não pode ser considerada menos importante, por ser a base de todo o seu trabalho: O desenho


Durante a década de 1940, quando começou a fazer certo sucesso em suas exposições, conquistando prêmios almejados por muitos, Pancetti tinha entre seus mais vorazes críticos, aqueles que debochavam dele  pelo fato de não ter vindo da Academia, do ensino clássico da pintura. A bem da verdade, seu aprendizado foi basicamente auto-didata até 1933, ano em que se matricula no Núcleo Bernardelli, onde conviverá com artistas como Bruno Lechowsky e Milton Dacosta, recebendo deles conselhos e orientações, que muito contribuíram para sua evolução.

Ora, quando deparamos com a obra de um grande artista figurativo e mesmo paisagista, jamais conseguiremos separá-la do seu desenho. Documentos fotográficos como os mostrados abaixo, que mostram Pancetti trabalhando, retratam muitas vezes suas telas com a base de suas pinturas como sendo desenhos a "fusain", precisos e já com o formato final que teriam as pinturas, bastando apenas nelas aplicar a tinta. Muitas vezes o pigmento passou a ser mero detalhe. Abaixo temos um exemplo numa foto do artista executando uma marinha com figuras.

                            Fonte: Max Perlingeiro, Edidota Pinakotheke


Na imagem abaixo, que mostra Pancetti iniciando um de seus quadros da Lagoa de Abaeté na Bahia, percebe-se nitidamente no desenho base a posição definitiva das figuras, as sombras já indicadas e de certa forma percebe-se que a ação do sol e do clima quente do local já emanam genialmente da tela.

Fonte: Bolsa de Arte do Rio de Janeiro

Algumas obras em papel do artista, como a maternidade reproduzida abaixo, vão mostrar também uma mão firme, com execução em traços únicos e precisos, determinando limites, volumes, extensões e não poucas vezes, como citado acima, o clima da composição. Só consegue realizar uma obra com todos esses atributos aquele artista que atinge o patamar de mestre, que domina o ofício como "bom artesão", como definiria Renoir, um dos maiores pintores impressionistas franceses, e título que devemos aplicar a Pancetti sem a menor sombra de dúvida.

                                     
Maternidade, Coleção Particular  Fonte: Bolsa de Arte do Rio de Janeiro

Pancetti dominava o grafite, o crayon, a sanguínea e o lápis de cor bem como o nanquim, a aquarela e a sépia. Alguns de seus desenhos são concisos, com poucos traços definindo a figura. A maior parte porém, é constituída por desenhos nos quais o artista mostrou a preocupação com o delineamento da figura ou paisagem, conferindo harmonia à composição, com todas os nuances de luz e sombra, zelando pelo posicionamento do motivo no suporte e pelas proporções. Os auto-retratos possuem o mesmo clima de seus óleos(vide imagem no início da postagem) e alguns retratos chegam a lembrar as figuras de mulatas feitas por Lasar Segall, tal a expressão conseguida por seus traços.

Outro ponto importante a se salientar em seus desenhos de figuras, é que Pancetti não possuía limitações para representar os modelos. Os desenhava em qualquer posição e com igual precisão. Com poucos traços a figura poderia estar sentada, deitada, de bruços, reclinada, lendo ou escrevendo. Tão fácil que poderia até parecer brincadeira, não levasse ele o ofício tão a sério.

Com o pouco exposto acima, podemos talvez concluir, o leitor julgue, que os críticos da época que questionaram a capacidade do artista Pancetti, o conheciam pouco. Como a verdade histórica, cedo ou tarde sempre prevalece, as cotações das obras do artista atualmente mostram o reconhecimento pelo mercado da genialidade deste grande pintor e da importância de sua obra no contexto do modernismo brasileiro.

Os traços puros de Pancetti, apesar de bem menos conhecidos que suas marinhas, ainda vão impressionar, e muito, as gerações futuras.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Fogaça - Uma pintura interessante


Recentemente, em alguns leilões, tenho encontrado obras de um artista cuja obra é no mínimo interessante. Trata-se de Fogaça, ou melhor, Pedro Soares Fogaça Filho, pintor nascido em 1950 em Mococa, estado de São Paulo, terra de Bruno Giorgi, um dos maiores escultores do modernismo brasileiro.

Fogaça iniciou sua carreira artística dentro de um estilo primitivo, mas seu trabalho apresentou sempre constante evolução, tendo sofrido, a princípio, forte influência de Tarsila do Amaral, um dos monstros sagrados do modernismo brasileiro, de quem foi aluno e amigo. Alguns chegam inclusive a definir sua fase pós primitiva como "tarsiliana", tal a ação que sua obra sofreu da renomada artista. Aliás esta influência é perceptível em como trabalha o valor dos pigmentos na intenção de gerar volumes e efeitos de luz em suas pinturas. A paisagem reproduzida acima é um nítido exemplo.

Apesar de uma pequena variação de motivos, que geralmente são paisagens, o trabalho mais recente de Fogaça caminha por um surrealismo onde exercita todo o seu imaginário, algo poético, com a reprodução de horizontes longínquos iluminados por um sol quente que talvez remonte à sua Mococa de infância, vez ou outra cortado por árvores pintadas em filigrana ou mesmo um barco solitário a  navegar no oceano da sua fantasia, tudo isso executado com uma técnica excelente e primorosa, que denota o perfeito conhecer da arte pictórica.

A primeira exposição de Fogaça de que se tem notícia ocorreu em 1969, ainda em Mococa, um pouco antes do artista se mudar para a capital do estado, onde expôs pela primeira vez individualmente em 1973 no Teatro Arena. De lá para cá, foram inúmeras exposições individuais e coletivas, tanto no Brasil como no exterior, tendo inclusive obras em museus do Chile e da Macedônia e em coleções particulares da Europa e América Latina.

Atualmente, além de pintar e ensinar pintura, Fogaça tornou-se um ativista ecológico, trazendo para o seu trabalho a causa da preservação ambiental. Por essas e outras é que acredito que os leilões começam a mostrar simplesmente o resultado de um trabalho artístico de boa técnica , realizado com seriedade e perseverança.

sábado, 12 de maio de 2012

Portinari na Christie's


No próximo dia 22 de maio de 2012 ocorrerá na Christie'e de Nova York o Leilão de Arte Latinoamericana, que tem na capa do catálogo a obra "Navio Negreiro" (representada acima) do nosso artista maior Cândido Portinari, um belíssimo óleo de 1950, pertencente à coleção do Embaixador Jayme de Barros, que irá a leilão com estimativa entre US$ 700 e US$ 900 mil, na nossa modesta opinião ainda uma pechincha. Portinari é um artista brasileiro que continua a ser "redescoberto" pela crítica e colecionadores do mundo inteiro, o que está fazendo os preços de suas obras dispararem.
O evento conta com pinturas e esculturas de outros brasileiros como Iberê Camargo, Maria Martins, Frans Krajcberg, Aldemir Martins(presente com dois desenhos) e Alfredo Volpi, este representado por uma obra de da dec. de 60, "Bandeirinhas com mastros e fita", que deve aguçar o apetite de alguns volpistas, apesar da estimativa de US$ 350 a US$ 450 mil, o que para boas obras de Volpi já está se tornando fato corriqueiro.
Alguns nomes de peso da pintura latinoamericana estarão representados no leilão como Fernando Botero(com obras de até US$ 1,2 milhão de estimativa), Torres Garcia, Matta, Pedro Figari e Leonora Carrington entre outros, incluindo pintores do sec. XIX, modernos e contemporâneos.
Vale a pena conferir, principalmente pelos artistas brasileiros de peso, que aos poucos vão conquistando seu merecido espaço no mercado de artes mundial.