domingo, 22 de junho de 2025

Anita Malfatti - O Varal ou Roupas no varal

                          Anita Malfatti - O Varal ou Roupas no Varal

 A obra acima de Anita Malfatti, que podemos chamar de O Varal ou Roupas no varal, é um óleo sobre madeira de execução mesclada impressionista com um toque de expressão nos troncos das árvores à direita, o que talvez nos permita situar a mesma no período entre 1918 e 1922, após a fatídica exposição de suas obras expressionistas, "detonada" por assim dizer, pelo artigo de Monteiro Lobato, intitulado "Paranóia ou Mistificação". A pintura está delicadamente assinada em vermelho no canto inferior esquerdo com uma dedicatória " Ao Mario (Mario de Andrade?) Off. Anita C. Malfatti". 

Interessante perceber que a execução em grande parte impressionista, com impasto generoso, é extremamente precisa, com toques únicos, com nítida preocupação do realce da luz. A foto não consegue nem de longe, mostrar toda a beleza e qualidade da obra. É sabido que após o baque da crítica de Lobato e o encerramento da exposição, Anita se recolheu e sua pintura sofreu enormes modificações, deixando para trás a força do expressionismo de "O Homem Amarelo" , " O Japonês" , " A Boba" ou a "Estudante Russa". Esse dito retrocesso, teria deixado Mario de Andrade de certa forma desgostoso pois ele gostaria que Anita continuasse na sua ação de vanguarda. Em uma crônica de 1924, podemos destacar o seguinte trecho: "...Depois da exposição, Anita se retirou. Foi para casa e desapareceu, ferida. Mulher que sofre. Todo aquele másculo poder de deformação, que dirigira as pinceladas do Homem Amarelo, da Estudante Russa, desaparecera. Mulher que sofre. Quis voltar para trás e quase se perdeu. Começou, para contentar os silvícolas, a fazer impressionismo colorido". Estaria Mario de Andrade olhando para esse quadro, eventualmente a ele presenteado por Anita, quando escreveu estas palavras? Creio que a propabilidade seja enorme. O verso da obra contém uma pintura também com traços algo impressionistas de uma cena rural, possivelmente da Fazenda Santa Cruz das Palmeiras, local onde Anita passou uns tempos, experimentando novos rumos para sua pintura após a exposição de 1917/18. De qualquer forma, é perceptível os resquícios expressionitas na gestualidade das árvores e no contraste entre o verde e o amarelo para representar a luz do ambiente. Considero esta obra uma espécie de elo perdido entre o período expressionista  e a produção "amenizada" de Anita Malfatti pós artigo de Monteiro Lobato, que culminou com as paisagens e cenas da vida rural, repletas de poesia. Não poderia deixar de compartilhar esta magnífica pintura.

sábado, 17 de junho de 2023

Garcia Bento - Um grande marinhista - Artista que estará no nosso museu

 Antonio Garcia Bento foi um pintor ativo no início do sec.XX, cuja técnica impressionista permitiu a execução de obras de grande beleza e execução refinada. A obra abaixo, Porto do Calabouço, é desses casos, sendo talvez uma das obras mais bonitas executadas por Garcia Bento. Esta pintura participou em 2017 da exposição "O Impressionismo e o Brasil" no MAM de São Paulo, o que reforça sua beleza e importância. Esta é mais uma pintura que compõe o acervo do futuro museu. Espero que apreciem. Até a próxima.



Nosso projeto do museu de arte - começa a tomar forma - Mario Navarro da Costa

 Após longo período sem postar, retomo a sequência do blog com a notícia de que começamos a levar em frente o projeto do nosso museu, ainda sem local e nome definidos. Vamos aos poucos mostrar algumas obras que comporão o acervo, colecionadas ao longo dos últimos 40 anos pelas famílias reunidas para o empreendimento. Desta vez, apresentamos uma das peças de extrema beleza do futuro museu. Um Navarro da Costa, Pont Royal em Paris, de execução puramente impressionista. Pintura de grande qualidade e um exemplar raro deste grande artista, que além de pintor foi diplomata. É considerado um dos grandes marinhistas brasileiros. Espero que apreciem.


Curiosidade nesse obra é que estivesse assinado "Claude Monet" muitos achariam realidade...Até a próxima postagem com mais uma obra do acervo do futuro museu, cujo slogan a princípio será: É pequeno, mas é um baita museu...😃


segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Francisco Aurélio de Figueiredo - Importante pintor brasileiro

Possuímos em nosso acervo duas pinturas de autoria de Francisco Aurélio de Figueiredo e Mello, cujas reproduções seguem abaixo, irmão do pintor Pedro Américo, que nasceu na Paraíba em 1854 (algumas fontes citam 1856) e faleceu no Rio de Janeiro em 1916. Foi desenhista e pintor de história, paisagens, retratos e de gênero, tendo deixado uma vasta e importante obra. Estudou na Academia Imperial de Belas Artes, tendo como professores o próprio irmão e Jules Le Chevrel.


 No contexto de pintura de história, deixou uma das obras mais importantes referente ao império, que se trata do Último Baile da Ilha Fiscal, de 1905, retratando evento das últimas horas do período Imperial do Brasil. Começou a expor em 1884 na própria Academia Imperial, tendo participado de inúmeras exposições. Após sua morte, sua arte tem sido lembrada em várias exposições, incluindo mostras no Museu Nacional de Belas Artes e uma paisagem exposta da 2a. Bienal de São Paulo em 1953.


Possui obras em vários museus brasileiros e em importantes coleções particulares, sendo um dos artistas de característica acadêmica dos mais procurados e valorizados.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Carlos Scliar - Artista gaúcho excepcional - Um breve comentário



A pintura reproduzida acima, "Vidro de Farmácia" é de autoria de Carlos Scliar, artista nascido no Rio Grande do Sul de grande talento e que faleceu em 2001 no Rio de Janeiro deixando uma obra maravilhosa e de conteúdo e características excepcionais.

Pintor, desenhista, gravador, ilustrador e cenógrafo, Scliar, como é comumente chamado no meio artístico, começou na vida artístiva em 1934, quando ainda tinha 14 anos. Cinco anos mais tarde, em 1939, vem para São Paulo e Rio de Janeiro quando trava conhecimento com Cândido Portinari. Já em 1940, com vinte anos, realiza em São Paulo, onde se estabeleceu, sua primeira exposição individual. Em 1943 foi convocado pela FEB e foi para a Europa lutar na 2a. Guerra Mundial, período que inspirou algumas obras posteriores como Guerra I e Campo de Concentração. Na sua volta executa pinturas e gravuras onde é nítida a influência de Lasar Segall e Cândido Portinari.

Na década de 50, executa uma série de trabalhos gráficos e de cenografia, entre eles os trabalhos para o filme "Rio Zona Norte" cujo diretor foi Nelson Pereira dos Santos, tendo inclusive assumido a diretoria de Artes da revista Senhor até o início de 1960.

Scliar - Jarituba I - Lito da década de 80

Nas décadas de 70 e 80 executa uma série de trabalhos utilizando também as técnicas da colagem e do do vinil encerado, com soluções plásticas de características peculiares, onde elementos de natureza morta e paisagens convivem com trechos de escrita ou simplesmente letras, cujo sentido exigem do observador uma leitura atenta do trabalho como um todo, para que se possa compreender e adentrar o universo criativo de Scliar, no qual flui sua sensibilidade, crítica e questionamento de paradigmas. Dentro da linha de questionamentos, foi militante do partido comunista, possivelmente influenciado por amigos como Portinari, tendo inclusive participado de exposição específica de artistas pertencente aos seus quadros. Já que falamos de exposição, Scliar participou de centenas de mostras individuais e coletivas, no Brasil e no exterior, onde se destacam os Salões Nacionais de Belas Artes, A Bienal do Sec. XX e muitas outras. Sem dúvida Carlos Scliar receberá o reconhecimento devido do mundo das artes.


terça-feira, 31 de julho de 2018

Marina Caram - de Sorocaba para o mundo


Há tempos que pretendo escrever alguma coisa sobre Marina Caram, artista que participa de nosso acervo com duas obras que estão reproduzidas abaixo e das quais emanam toda a força do  expressionismo da artista. Homens, mulheres, crianças e animais possuem e transmitem um misto de espanto e dor, tristeza e solidão, traduzidos por traços vigorosos transformados em figuras desformes, que nos levam a sentir na pele e no coração as mesmas sensações.


Nascida em Sorocaba em 1925, cidade na qual iniciou seu aprendizado artístico , mudou-se para São Paulo em 1945 onde conheceu Oswald de Andrade, que entusiasmado com sua obra a apresenta a Pietro Maria Bardi, diretor do MASP. Alguns anos mais tarde, em meados da década de 50, conhece Di Cavalcanti que não menos sensibilizado, lhe empresta o atelier. Expõe pela primeira vez em 1951 numa individual no MASP e em seguida segue para Paris como bolsista do governo francês e estuda até 1953 na Escola Nacional de Belas Artes daquela cidade. Trabalhou como desenhista, pintora, gravadora, escultora e ilustradora, participando de inúmeras exposições individuais e coletivas das quais se destacam a Bienal Internacional de São Paulo em várias edições desde 1953, Salão Paulista de Arte Moderna de 1956 a 1961, indivuais no MASP em 1951 e 1953, no Musée Saint-Vic na França e no Museu Lasar Segall em 2005 com o título "Alma pelo Avesso".




Marina Caram faleceu em 2008 em São Paulo, deixando uma obra marcante, característica em extremo e principalmente de grande qualidade, podendo ser considerada sem sombra de dúvida como uma das grandes senão a maior representante do expressionismo brasileiro. Suas obras estão presentes em alguns dos principais museus do Brasil e do exterior além de numerosas coleções particulares. O mercado recentemente vem voltando os olhos para a monumental obra desta excelente artista e seu reconhecimento é uma mera questão de tempo.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Um pouco mais sobre Maria Leontina


Maria Leontina, Rosto de Mulher, Pastel sobre papel, Coleção Particular

Em Março de 2009, escrevi um post sobre Maria Leontina e hoje coloco no ar mais um com algumas informações diferentes, até como homenagem e em memória aos 100 anos de nascimento da artista comemorados em 2017, quando inclusive a Dan Galeria produziu uma magnífica exposição com muitas obras inéditas da pintora. Apesar de alguns meses de atraso, como a arte é eterna, a homenagem ainda está em tempo.

Maria Leontina Mendes Franco da Costa nasceu em São Paulo em 1917, filha de família tradicional paulistana. Começou a se interessar pelas artes plásticas após visitar uma exposição de Fávio de Carvalho, tendo iniciado o aprendizado de desenho com Antônio Covello em 1938 e em seguida o de pintura com Waldemar da Costa. Em 1946 já no Rio de Janeiro, passa a frequentar o atelier de Bruno Giorgi e estuda Museologia no Museu Histórico Nacional entre 1946 e 1948. Em 1949 casa-se com o pintor Milton Dacosta. Começou a expor em 1942 no Salão Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e desde então foram inúmeras as suas exposições individuais e coletivas, das quais podemos destacar a Bienal de Veneza de 1950, 1952 e de 1956, a I e III Bienal de São Paulo, I Salão Nacional de Arte Moderna do MAM Rio, o Salão de Maio de Paris de 1952 entre muitas outras. Entre os vários prêmios recebidos cabe citar o da Fundação Guggenheim em Nova York em 1960.

Considerada uma das melhores coloristas entre todos os artistas brasileiros, teve sua temática mais voltada ao expressionismo no começo de sua carreira. O desenho reproduzido acima é típico desta fase expressionista e demonstra a forma fluida do desenho de Leontina, aliás técnica que explorava muito bem e que mereceria melhor estudo pelos curadores e conservadores brasileiros. Com o tempo, após sua viagem à França na década de 50 como bolsista pelo governo francês, começa a migrar para a abstração, também sob forte influência do marido Milton Dacosta. Como consequência desse processo, enveredou pelo abstracionismo geométrico mas com características próprias e marcantes, principalmente por um colorido de bom gosto indiscutível tanto na utilização de uma paleta baixa como alta. Sua carreira culminou com a série dos "Estandartes" (vide um exemplar abaixo) , talvez a fase mais conhecida pelo mercado, durante a qual produziu óleos, desenhos e gravuras nos quais explorou o contraste e superposição de planos de cores ora vibrantes ora sombrios, mas sempre com resultado estético de grande qualidade. Até o final de sua vida, suas obras foram mostrando uma síntese de seu trabalho, nas quais linhas ligeiras acompanhavam planos coloridos, induzindo a formas que o observador as intuía com facilidade.

Maria Leontina, Estandarte, Pastel sobre Papel. Foto: Rômulo Fialdini. Fonte: Itaú Cultural

Suas obras estão presentes nos mais importante museus brasileiros como o MNBA, MAM RJ, MAC USP entre muitos outros. Sem sombra de dúvida Maria Leontina deve constar da relação do seleto grupo dos grandes artistas brasileiros. Alexandre Dacosta, filho da artista, disse em 2017 que pretende iniciar os trabalhos de catalogação da obra da pintora, aliás sugestão que eu já havia dado em 2009 quando do primeiro post. O mercado vai agradecer muito.