sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Rubem Cassa - Conhecem?



Há um bom tempo que pretendo publicar um texto sobre Rubem Cassa, autor da paisagem reproduzida acima, pertencente ao nosso acervo. Não há uma biografia extensa sobre o artista em todos os compêndios pesquisados e sua cronologia vai até 1959, relativamente curta para um pintor que nasceu em 1905.
Nascido em São Paulo, Cassa mudou-se para o Rio de Janeiro em 1910, onde quinze anos mais tarde, já como pintor auto-didata, conheceu Portinari de quem foi aluno e assistente, juntamente com Burle-Marx e Enrico Bianco. Começou a participar de exposições coletivas em 1939, tendo participado do Salão Nacional de Belas Artes, no qual recebeu a medalha de prata em 1941, do Salão Nacional de Arte Moderna em 1953 entre outros. Teodoro Braga o citou em seu livro "Artistas Pintores no Brasil" e o historiador argentino Jorge Romero Brest fez-lhe referências inclusive reproduzindo o quadro "Flores", mostrado abaixo, em seu livro "La Pintura Brasileña Contemporânea", editado em Buenos Aires em 1945.


É relativamente fácil perceber o "impasto" generoso dos pigmentos aplicados sobre ambas as telas representadas como uma espécie de "fio condutor" entre os trabalhos, apesar de serem cronologicamente bem distantes uma execução da outra. Mas é nítido também o desenho elaborado e a utilização de uma paleta relativamente baixa, onde predominam os terras e marrons. O artista parece brincar com a luz, utilizando-se dela para realçar volumes e dar grande harmonia ao conjunto. Suas obras são vistas muito raramente. Uma das últimas vezes em que teve uma obra exposta foi na exposição "O olhar modernista de JK" em 2006, exposição esta comemorativa da exposição de modernistas patrocinada por Juscelino Kubitschek em 1944 em Minas Gerais, da qual Cassa havia participado. Apesar de poucas obras e informações disponíveis trata-se sem dúvida um grande artista.


terça-feira, 18 de julho de 2017

João Del Nero - Que pintura bonita! Redescoberta da obra e do artista.


Há umas semanas encontrei em um leilão de internet a natureza morta acima, descrita como autor não identificado. Mesmo sem ter visto a obra pessoalmente, fiquei impressionado com a aparente qualidade da mesma: um desenho muito bom, paleta de extremo bom gosto e equilíbrio e um conjunto harmônico da composição. A assinatura era impossível de ler. De qualquer forma havia sido cativado pelo quadro. Mesmo consciente de que atravessamos um crise econômica e financeira sem precedentes, raspei o cofrinho e arrisquei o lance mínimo, que já não era tão baixo assim. Por sorte, arrematei sem disputa.

Assim que chegou em casa, como criança que recebe um bom doce ou brinquedo, desfiz o pacote com cuidado mas certa pressa e ao ter acesso ao quadro o queixo caiu: era melhor do que eu imaginava. Ao analisar a obra com o ultra-violeta descobri que a assinatura era de Del Nero, mais especificamente de João Del Nero, pintor nascido em São Paulo em 1910 e que participou de várias edições do Salão Paulista de Belas Artes entre 1934 e 1959, tendo sido membro inclusive da comissão organizadora do mesmo salão em alguns dos eventos. Consta do Dicionário de Artistas Plásticos do Pontual, do Dicionário do MEC, do Itaú Cultural, todos citando que Teodoro Braga reuniu dados biográficos sobre o pintor em sua obra de referência Artistas Pintores no Brasil. Ruth Sprung Tarasantchi o cita também como pintor paisagista paulista em sua obra Pintores Paisagistas: 1890 - 1920. É sabido de obra do artista pertencente ao Museu Nacional de Belas Artes e que está presente em inúmeras coleções particulares, agora inclusive na minha. Espero que apreciem.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

O Brecheret de Itapê



Há tempos que desejo postar algo sobre a escultura de Victor Brecheret que se encontra no Centro Cultural de Itapetininga(vide foto acima), no meio do burburinho dos bancos e estabelecimentos comerciais. A peça já está na exposta na cidade há vários anos, fruto de um comodato entre a família de Julio Prestes e a prefeitura do município. Pena que, em minha opinião, foi muito pouco divulgada a sua existência.

D. Maria Prestes, artista plástica que faleceu recentemente, pintora de grande qualidade e professora, com quem tive aulas de pintura, me dizia que essa escultura, presente de Brecheret ao seu tio Júlio Prestes, foi um dos primeiros estudos escultóricos para a realização do Monumento às Bandeiras, que está no Parque do Ibirapuera em São Paulo.

Executada em gesso com aproximadamente um metro de comprimento, a escultura traz em suas linhas sinuosas o mais intenso modernismo de Brecheret que o consagrou mundialmente. Hoje, está exibida com uma proteção de vidro, para evitar que as pessoas passem as mãos sobre a peça, como já o fizeram anteriormente, testemunhado pelo "encardido" sobre as crinas dos cavalos. Com o título de "O Esforço", está exposta num canto da sala onde se encontram alguns pertences, documentos e outras obras em bronze oriundas do acervo do eminente político itapetiningano, orgulho da terra, que Getúlio Vargas impediu que assumisse a presidência do Brasil. Aliás a palavra "esforço" foi realmente a base para o imaginário do escultor desenvolver a escultura final, projeto de intelectuais paulistas de 1920 que levou 33 anos para ficar pronta e ser inaugurada em 1954, no ano do Quarto Centenário. E toda essa demora por meras questões políticas...Vale a pena uma visita.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Virgílio Lopes Rodrigues- Pintor de marinhas

Virgílio Lopes Rodrigues - Canoa em Copacabana osm  27x41cm

Virgílio Lopes Rodrigues foi um pintor de paisagens e marinhas nascido em Recife em 1863, que, por suas próprias palavras, se considerava amador. Transferindo-se para o Rio de Janeiro no final do sec. XIX, foi comerciante de arte e de artigos para pintura e com isso travou conhecimento e amizade com muitos pintores do final do sec.XIX e da primeira metade do sec.XX como por exemplo Santa-Olalla, de quem recebeu orientações e o incentivo para que ingressasse como aluno no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Mesmo mantendo a pintura em segundo plano em suas atividades, começa a expor em 1897, tendo participado de inúmeras exposições vindo inclusive a receber a Grande Medalha de Prata na Exposição Geral de 1930. Sem dúvida um reconhecimento pela sua tenacidade e perseverança. Faleceu no Rio de Janeiro em 1944, deixando uma produção razoável de pinturas, geralmente executadas em suportes alternativos como pedaços de madeira e tampas de caixa de charutos.

Atualmente, as obras de Lopes Rodrigues são relativamente bem disputadas no mercado, principalmente as marinhas, pois contém em sua maioria a reprodução da iconografia dos recantos cariocas, numa paleta agradável e madura, onde os contornos das canoas se dissolvem em jogos de luz e sombra que refletem o calor e beleza das praias da cidade maravilhosa. Acima, reproduzo uma das obras de Lopes Rodrigues do acervo, reproduzindo uma canoa na praia, iconografia predileta do pintor. É sempre bom ficar de olho quando uma dessas aparecer nos leilões por aí.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Uma pequena pintura atribuída a Renoir V - Algumas opiniões - A small painting attributed to Renoir (part V) - Some Opinions

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Abstract
This post in portuguese refers to some opinions about the quality of the painting coming from some important curators, restorers and from people of Andre Chenue, one of the most important companies on art transport and conservation in France.
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Le Pont Alexandre III - atribuído a Renoir

Após alguns anos das primeiras postagens sobre nosso pequeno Renoir, Le Pont Alexandre III, resolvi publicar algumas opiniões, informais é claro, de gente do meio da arte do Brasil e do exterior. Servirão apenas como endosso para o árduo trabalho de pesquisa que fizemos ao longo dos últimos 20 anos.

A primeira delas foi dada no começo do processo por Domingo Tellechea, restaurador argentino renomado estabelecido em São Paulo. Uma das atribuições de Tellechea foi como restaurador/conservador do Masp, cujo acervo dispensa comentários. Quando em 1996, levado por Claudia Cseri, artista plástica e restauradora, ao ateliê de Tellechea, que foi seu professor, apresentei a pintura de forma despretensiosa, sem moldura ou qualquer outra forma de apresentação formal, inclusive sequer dizendo qual seria a atribuição. Domingo Tellechea tomou a obra nas mãos, arregalou os olhos e com voz embargada nos disse: "Que maravilha, que obra espetacular, que execução de mestre. Não posso afirmar de quem é mas é com certeza de um grande mestre". Peguei a pintura e viemos embora. De Tellechea não necessitava ouvir mais nada.

Uma segunda opinião nos veio por parte de Eugenia Gorini Esmeraldo, curadora/conservadora do Masp. Um dia em 2000, eu já tendo passado pelo Masp várias vezes em conversas e pesquisas com Ivani Di Grazia e Eugenia Gorini, recebo um telefonema da última com um tom um tanto esbaforido no qual disse:"Rui, achei seu quadro!". Na verdade Eugenia havia visto uma imagem da obra de Renoir  "Pont des Arts et l'Institute" do Norton Simon Foundation, cujo esquema de execução é muito semelhante ao do nosso pequeno quadro. Com o bom olho que Eugenia tem, pela qualidade da pintura, associou imediatamente ao nosso quadro. Aparentemente aos olhos dela, quem fez um, fez o outro. No mínimo interessante.

A terceira opinião que vou descrever agora, foi talvez a mais contundente de todas. É necessário contudo um preâmbulo. Em setembro 1999, rumei a Paris com o intuito de apresentar nosso quadrinho ao Wildenstein Institute, responsável pela catalogação e consequentemente autenticação das obras de Renoir, desde a morte de François Daulte, como já descrito nas postagens anteriores. Minha viagem a Paris foi coalhada de "surpresas". A maior delas foi quando me apreenderam a obra no aeroporto Charles De Gaulle, ao tentar declará-la para a entrada na França. Eu não sabia, e ninguém mesmo da Receita Federal do Brasil do aeroporto de Cumbica pois perguntei a eles, que era necessário a realização de um processo de exportação e importação temporária, para que a obra pudesse entrar e posteriormente sair do território francês para o expertise. A preocupação do governo francês é simplesmente com o imposto eventualmente devido, caso a obra fosse comercializada em território francês. Graças a Deus, me correspondia à época com um rapaz francês, de nome Mark Sokolovitch, que atuava no mercado de arte fina, e me conseguiu a realização do processo pelo pessoal da Andre Chenue, a maior empresa de transporte, movimentação, embalagem e desembaraço aduaneiro de obras de arte da França. Ao custo de 2.000 euros, fui "salvo" pelo pessoal da Chenue, que ficou como fiel depositária da obra no território francês, enquanto durasse minha permanência lá. Tanto que a obra permaneceu guardada nos seus cofres, entre as idas e vindas do Wildenstein Institute, até o dia da minha partida. Interessante salientar que o pessoal da Andre Chenue, realiza também os trabalhos de conservação de algumas coleções públicas e privadas francesas. Ou seja, conhecem muito da arte da melhor qualidade que existe. E foi justamente no dia da minha partida, quando fui retirar a obra para me dirigir ao aeroporto, que Mme. Marceaux, uma senhora francesa morena de olhos algo puxados, com estatura pouco superior a 1,50m mas que mandava em boa parte das operações da Andre Chenue no escritório de Porte de la Chapelle, me entregou a obra vinda dos cofres no andar inferior e me disse : "Monsieur Rui, o pessoal lá de baixo - falou apontando para os andares inferiores onde ficavam os cofres e o setor de expertise e conservação - pediu para avisá-lo de que esta obra é muito boa! Aqui está ela, tome cuidado" e me entregou o envelope onde estava depositada. Confesso que o meu caminho de volta para o hotel e depois para o aeroporto foi dos momentos mais tensos que já passei na minha vida. É só pesquisar sobre a André Chenue e vão descobrir sobre o peso de uma opinião como essa.

São por essas e ainda outras, que continuo otimista que vamos conseguir a autenticação. Quem sabe em breve.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

The Brooklyn Museum - Uma grata visita



Há poucos dias, minha esposa e eu retornamos do casamento de meu filho mais velho, que se deu no Brooklyn, sub-distrito de Nova York. Além das ruas com casarões altos que recheiam os filmes de Hollywood, o Brooklyn possui uma intensa vida cultural, com diversos espetáculos e exposições, capitaneados principalmente pelo Brooklyn Museum, cuja fachada se vê acima.

O museu possui um excelente acervo com obras surpreendentes. Na coleção achamos Picasso, Monet, Rodin, Courbet, Feininger entre muitos outros, principalmente de artistas da escola norte-americana. Inaugurado em 1895, o imponente prédio possui cinco andares de exposições, entre temporárias e do acervo permanente, cuja visitação é tranquila pois não está no burburinho de Manhatan como o MET e o MoMa, os principais museus de Nova York.


Para dar exemplo da qualidade do acervo, reproduzo acima um dos Monet da coleção, uma vista do parlamento de Londres, uma das principais e mais valorizadas fases do artista. Simplesmente espetacular.


O museu possui também obras do período medieval e do renascimento, além de uma coleção de peças arqueológicas da Mesopotâmia e Egito como a placa Assíria reproduzida acima. Acervo de primeira e lazer garantido para quem for a Nova York e quer evitar a correria de Manhatan. Próximo também do museu há a biblioteca do Brooklyn. Um suntuoso edifício cujo acervo também merece uma visita. Um grande país se faz com educação e cultura. Deveríamos aprender a fazer o mesmo aqui no Brasil...

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Ottone Zorlini redescoberto



Foi com grande emoção que encontrei a obra reproduzida acima, uma técnica mista sobre papel, já algo oxidado, tido na ocasião como de autoria desconhecida. Na verdade, o trabalho veio das mãos de Ottone Zorlini, artista de origem italiana que chegou ao Brasil no começo do século XX. Está inclusive assinado e datado de 4-11-60. Pintor, escultor, desenhista e ceramista, Zorlini é considerado por muitos, inclusive pelo saudoso Pietro Maria Bardi, como pertencente ao grupo Santa Helena, uma vez que pintou durante muito tempo nas décadas de 30 e 40 ao lado de Volpi, Zanini e Rebolo, membros máximos do referido grupo. O fato de sua obra também estar fundada nas paisagens, marinhas e figuras, endossa ainda mais a afirmação.

Ottone Zorlini nasceu em Gorgo al Monticano - Treviso, na Itália em 1891 e faleceu em São Paulo em 1967. Estudou na Academia de Belas Artes de Veneza e ainda na Itália, trabalhou como ceramista e escultor. Em 1927, quando chega ao Brasil, tem íntimo contato com a colônia italiana da cidade e já no ano seguinte realiza o famoso Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico. Por sua atividade intensa na área do desenho, pintura e escultura, participa inclusive da formação do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo. É sem sombra de dúvida um dos nomes mais importantes da pintura figurativa paulista, tendo participado de inúmeras exposições individuais e coletivas.

O Instituto Volpi (www.institutovolpi.com.br) divulga em seu site o Projeto Ottone Zorlini, que catalogará a importante obra do artista. Vale a pena acompanhar.