sábado, 2 de maio de 2009

Claude Monet - O grande mestre impressionista

De todos os pintores pertencentes ao movimento impressionista, Claude Monet é sem dúvida o mais importante. Não só por ter sido um dos fundadores do movimento mas também pela fidelidade aos princípios impressionistas até o dia de sua morte, mesmo tendendo seus últimos trabalhos a uma abstração das formas.




Claude Oscar Monet nasceu em 14 de novembro do ano de 1840, na Rue Lafitte em Paris. Para tentar melhorar de vida sua família muda-se para Le Havre, onde já em 1855, aos quinze anos, Monet começa a fazer suas primeiras caricaturas, justamente das pessoas que frequentavam o porto. A habilidade do jovem artista logo foi reconhecida pela população local, que no lugar de se sentirem contrariados pelas caricaturas e a eventual zombaria que poderiam gerar, divertiam-se com elas e o incentivava comprando-as por até 20 francos cada uma. Esse pequeno sucesso permitiu ao jovem Monet juntar um pequeno "pé de meia" e mudar para Paris para estudar desenho e pintura, inclusive com incentivo dos pais, pouco tempo depois de já ter sido iniciado na pintura de paisagem pelo mestre Eugène Boudin, quando inclusive expôs em Rouen junto com seu professor o quadro "Vista de Rouelles".

Em Paris, frequentando inicialmente um ateliê livre, Monet conhece Pissarro, outro dos que viriam a se tornar um dos grandes mestres impressionistas. Sempre mais afeito às paisagens do que a outros motivos, a pintura " a plein air" o cativava e o estimulava cada vez mais. Em 1862, entra no ateliê do pintor suiço Charles Gleyre, onde conhece Renoir, Bazille e Sisley. Pronto, a base do grupo impressionista estava formada. Pintou com seus amigos pelos arredores de Paris e nas cidades vizinhas. Alguns quadros pintados por ele e Renoir são inclusive muito parecidos, principalmente os executados em Argenteuil. Expõe no Salão de Paris e arranca de Zola grandes elogios. Seu reconhecimento aumenta gradativamente, assim como suas dificuldades financeiras. Em 1870 casa-se com Camille Leónie Doncieux. Em 1874, juntamente com seus companheiros impressionistas, realiza a primeira exposição do grupo, no estudio do fotógrafo Nadar, no Boulevard des Capucines, onde expõe o quadro reproduzido abaixo, " Impression - Soleil Levant", que valeu a Monet e todo o grupo severas críticas de Louis Leroy no jornal Charivari, quando inclusive o termo "impressionista" aparece, em referência ao nome do quadro exposto.

Hoje em dia, "Impression - Soleil Levant" é um dos maiores ícones da história da arte mundial e considerada uma das obras de arte cujo valor é muito difícil de se estimar. Digamos que tem um valor incalculável.
A pintura impressionista de Monet é clara e vigorosa. Seus toques de pincel são rápidos, nervosos e precisos, captando as cenas com uma exatidão fabulosa, capaz de até ser possível de se estabelecer o horário em que a pintura foi feita. Algumas telas de séries realizadas pelo artista vinham inclusive com o momento do dia em que foram pintadas agregado ao nome. Algo importante a se salientar também, é que a qualidade de algumas obras pintadas melhorou com o tempo. Existem algumas cenas de regatas de Argenteuil que parecem ainda frescas, recém pintadas, mesmo já tendo mais de cento e trinta anos.
Em 1879, morre sua esposa Camille. Passa um período difícil mas graças a amigos colecionadores e principalmente ao marchand Durand Ruel consegue superar as dificuldades. Em 1890, adquiri a propriedade em Giverny, onde seriam pintadas as séries das famosas Ninféias, como a obra reproduzida abaixo.
Em 1891, uniu-se formalmente a Alice Hoschedé, com quem já se relacionava. Entre 1892 e 1893 pinta a famosa série da Catedral de Rouen e desde esse período até 1903, sofre muito com a perda de entes queridos como a enteada Suzanne e os pintores e amigos de juventude Sisley em 1899 e Pissarro em 1903.
De qualquer forma, continua pintando. Pintou pela França, na Inglaterra e na Itália, enquanto sua visão permitia. Perde sua companheira Alice em 1911 e acometido de catarata, em torno de 1915, começa a perder a vista gradativamente. Pinta os grandes painéis das ninféias, tendo inclusive construído um novo ateliê muito mais amplo, encorajado pelo amigo Clemenceu, para poder abrigá-los.
Com o mal da visão piorando, volta a pintar a "plein air", para que fosse possível enxergar a paisagem, e executa grandes telas, como já que num prenúncio de abstração. Nos últimos anos de vida, continua pintando quase que num isolamento total e vem a falecer em decorrência de um câncer em 1926.

Por ironia do destino, as telas de Claude Monet, que passava grandes dificuldades financeiras quando pintava encorajado pelo ideal impressionista, hoje valem milhões de dólares. Exemplo, é a obra acima "Dans le praierie", executada no mais característico estilo impressionista, que foi recentemente arrematada na Sotheby's de Londres por uma soma equivalente a US$ 16 milhões. Difícil imaginar o que Monet deve estar pensando lá em cima, mas uma gargalhada deve ser inevitável.
A obra de Claude Monet foi catalogada por Daniel Wildenstein, que editou o catálogo raisonné em 1996, em quatro volumes e o Wildenstein Institute de Paris é quem certifica e dá pareceres sobre as obras de Monet. O MASP - Museu de Arte de São Paulo, possui em seu acervo as obras "Canoa sobre o Epte" e a " Ponte Japonesa em Giverny", e também sediou a grande exposição de Monet no Brasil em 1997. Seria necessário escrever muito mais sobre este grande artista que foi Claude Monet, mas vou reservar um pouco de energia para outros importantes nomes do impressionismo francês que pretendo publicar em breve. Até lá!

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Pierre-Auguste Renoir - 90 Anos de sua morte

Neste ano de 2009, celebramos os 90 anos de falecimento de Pierre-Auguste Renoir, um dos principais pintores franceses de todos os tempos, responsável juntamente com Monet, Sisley, Pissarro e mais alguns, pelo movimento denominado Impressionismo, que floresceu na Europa em meados do sec. XIX.


Na foto, Renoir em 1904.
Renoir nasceu em Limoges, França, em 1841, e muito cedo, quando ainda era uma criança, apresentou grande aptidão artística. Com a mudança de seu pai para Paris, pode frequentar ateliês e também a Escola de Artes Decorativas. Começou pintando porcelanas, onde executava a princípio personagens do império e da realeza e depois flores. Pintou também leques, pois eram objetos de uso obrigatório das damas da época. Com isso, como diria François Fosca, um dos principais biógrafos de Renoir "pintou festas galantes, cenas campestres e temas mitológicos, onde os tons rosas e azuis predominavam, eram os motivos em voga, para os quais Renoir foi se inspirar em Watteau e Boucher. Foi assim que começou a conhecer e depois a amar e a estudar a pintura francesa do século XVIII, e até o fim da vida teve por ela grande predileção...." . Em meados da década de 1860, entrou para a Escola de Belas Artes de Paris e frequentou o ateliê de Charles Gleyre, onde veio a conhecer Monet, Sisley e Bazile, com os quais estabeleceu uma sólida amizade.

Renoir não suportou muito tempo a convivência com o velho mestre suiço e resolveu sair do ateliê de Gleyre. Juntamente com Monet, pegaram os cavaletes e foram pintar ao ar livre, como diria outro impressionista, Paul Cezanne, "sur le motif". Foi desse modo que Renoir e seus companheiros começaram a captar a luz plena das paisagens, em quadros que representavam um determinado instante da situação pintada, onde rios, matas e o céu ganhavam um colorido diferente, mais límpido e vivo. Mas longe de ter sido fácil serem entendidos. Com isso, Renoir não vendia muitos quadros e para se sustentar fazia retratos da burguesia da época. Muitas vezes teve que dar quadros em pagamento do aluguel, de comida e também dos materiais de pintura que utilizava. O retrato reproduzido abaixo, que mostra a Condessa de Pourtalès, pertencente ao acervo do MASP, é um bom exemplo dos retratos pintados por Renoir.
Na década de 1870, podemos dizer que Renoir, mesmo nos retratos, foi de um impressionismo puro, principalmente nas paisagens, executadas em pinceladas muito rápidas, geralmente carregadas de "impasto", o qual também ajudava no efeito visual da obra. O quadro abaixo, chamado " O esquife", de 1875, é um belíssimo exemplo da pintura de paisagem impressionista de Renoir.

Na década de 1880, começam as primeiras mudanças na obra de Renoir. Após uma viagem à Itália, o pintor volta para a França em plena crise. Após ter visto as obras dos grandes mestres renascentistas e do afrescos de Pompéia, Renoir chegou a declarar a alguns amigos que não sabia nem desenhar e nem pintar. Com isso, deu uma guinada drástica na sua forma de pintar, tentando se aproximar dos grandes mestres. Começou então aquela que alguns chamam de fase ácida, ou então período "ingresco", fazendo referência ao pintor Ingres, um dos mestres que Renoir também muito admirava. As figuras eram extremamente desenhadas e bem acabadas, os rostos eram perfeitamente delineados e as obras possuiam mais detalhes do que geralmente utilizava. Mais uma vez, choveram críticas pelo abandono da velha forma por aqueles que já começavam a gostar e se acostumar com o impressionismo. O quadro reproduzido abaixo, " As Grandes Banhistas", é o melhor exemplo dessa fase.


Após alguns anos, no final da década de 1880 e início da década de 1890, Renoir retorna ao estilo antigo mas desta vez um pouco suavizado. Impressionismo em alguns detalhes e melhor acabamento em outros. Nesta fase, Renoir pintou obras maravilhosas, onde prevalecem as suas famosas banhistas, cenas de jovens no campo com chapéus floridos, e paisagens executadas de uma forma mais suave, onde as pinceladas continuam sendo rápidas mas um pouco mais leves. Aparecem alguns verdes realizados de forma mais "esfumada", com toques de amarelo para a luz e de azul para indicar as partes sombreadas, tudo dentro de uma harmonia e um estilo inconfundível. A paisagem com ponte reproduzida abaixo, que pertence à Reunião dos Museus Franceses, é um exemplo desta pintura.


Em meados da década de 1890, Renoir começa a sentir os efeitos de uma doença que muito o abalou: a artrite reumática deformante. Sentia dores nas mãos e nas juntas, a ponto de quando, em função do incômodo que geravam, acordava durante a madrugada, pedia material de pintura e executava pequenas pinturas em madeira para suportar e tentar esquecer o mal que sofria. No Natal de 1898, foi acometido da sua mais forte crise de artrite, a ponto de não poder mexer as mãos e os braços. A partir deste momento, o estado de sua saúde só se agravou. Mas quem vê a pintura de Renoir, não consegue ver nela os efeitos de um homem doente e atormentado pela dor. Sempre pintou a alegria de viver. A estória de que ele amarrava os pincéis às mãos para pintar é pura fantasia. Sofria mas reclamava pouco, principalmente se tinha algum motivo para pintar.
Foi casado com Aline Charigot, que além de esposa lhe serviu de modelo, e com ela teve três filhos: Pierre, que foi ator famoso na França, Jean, que foi um dos mais renomados diretores de cinema do mundo e Claude, o mais novo, que se dedicou à cerâmica.
Pintou praticamente até o últimos dia de vida e faleceu em 3 de dezembro de 1919 em Cagnes sur Mer, para onde havia mudado em função do clima que lhe era mais favorável, deixando uma obra extensa e maravilhosa, estimada em mais de 6000 peças. Hoje sua catalogação é feita pelo Wildenstein Institute e pela Galeria Berheim-Jeune, sendo que François Daulte editou dois volumes do catálogo de figuras de Renoir. Em futuras postagens, comentaremos sobre outros importantes mestres impressionistas.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Exposição "Dois Tempos" na AC Galeria de Arte

Acabo de receber o convite acima da Ana Claudia Roso, sobre a exposição " Dois Tempos". Uma proposta interessante onde cinco artistas contemporâneos da maior importância, estarão expondo lado a lado, obras das décadas de 60 e 70, em contraponto com a produção atual. São eles Claudio Tozzi, Gilberto Salvador, Luiz Paulo Baravelli, Marcelo Nitsche e Samuel Szpigel. Deles, apenas Szpigel não participou da mostra 15 Jovens Artistas do Brasil no MAB FAAP, a qual já comentei há uns tempos. Achei a proposta interessante pois são artistas em plena maturidade e já consagrados, e será sem dúvida agradável perceber as mudanças de execução, determinar fios condutores e analisar os caminhos percorridos ao longo de 40 anos de trabalho por todos eles. Considero uma mostra imperdível para todos aqueles que gostam da nossa arte contemporânea. Vale a pena conferir na AC Galeria de Arte, de 7 de Maio a 10 de Junho, à Rua José Maria Lisboa, 1008, sobreloja, em São Paulo. Mais informações pelo site da galeria www.acgaleria.com . Bom divertimento!

Tadashi Kaminagai - Um grande artista

Tadashi Kaminagai, nasceu em Hiroshima no Japão em 1899. Decidiu-se na verdade pela vida artística apenas aos vinte e sete anos. Antes disso, desde muito jovem, trabalhou na Indonésia como plantador de arroz e milho, apanhador de coco e extrator de borracha.
Já na mais tenra idade fora atraído pela pintura e com o firme propósito de ser artista, rumou para Paris, centro artístico mundial da época. Lá, com a ajuda de Foujita, seu compatriota, sobreviveu como mestre moldureiro, trabalhando para artistas da envergadura de Henri Matisse, George Braque, Marc Chagall, Derain e Dufy, que sem dúvida lhe serviram de escola, e das melhores. Com a Segunda Guerra Mundial, é obrigado, assim como outros artistas, a sair da França, chegando dessa forma ao Brasil em 1940. Aqui, expôs em 1941 no Salão Nacional de Belas Artes e individualmente em São Paulo. Trabalhou no Rio de Janeiro, onde além de pintar exercia o ofício de mestre moldureiro, o que lhe permitiu o contato com uma série de artistas, entre os quais Portinari, de quem arrancaria rasgados elogios.

Participou das duas primeiras Bienais de São Paulo ( 1951 e 1953) e do Salão Nacional de Arte Moderna em 1952. Residiu no Brasil até 1954 quando foi para o Japão e de lá para Paris, onde se fixou definitivamente, até sua morte em 1982.

Dono de um desenho refinado e de uma técnica perfeita, com pinceladas precisas, marcadas por um "impasto" generoso, Kaminagai registrou principalmente paisagens, francesas e brasileiras em sua maioria, que retratam de um modo único e de estilo inconfundível os lugares por onde passou. Pintou também nus, retratos e naturezas mortas, onde o vigor e a autenticidade do artista sempre se fizeram presentes. A paisagem com ponte da Bretanha reproduzida abaixo, possivelmente pintada um pouco antes da vinda para o Brasil, é um ótimo exemplar da pintura cheia de vida de Kaminagai.


No Brasil, Kaminagai viajou muito e registrou magníficas paisagens na Bahia, Belém do Pará e em São Luís do Maranhão. Pintou também em São Paulo, Lins e Mogi das Cruzes, além é claro do Rio de Janeiro, onde residiu por um bom tempo. A marinha reproduzida abaixo, pintada em São Luís do Maranhão, é um exemplo da "pintura brasileira" de Kaminagai, que antes de tudo, é reconhecidamente um pintor pertencente à Escola de Paris. Alguns críticos inclusive, chegaram a fazer paralelo de sua pintura com a de Vlaminck.


Tadashi Kaminagai é citado no Benezit, o maior dicionário de artes do mundo, editado na França, e participou durante muitos anos do Salão de Outono de Paris. Sem dúvida alguma, ainda ouviremos falar muito de Kaminagai, um artista que o mundo das artes está redescobrindo.

domingo, 26 de abril de 2009

Soraia Cals e Evandro Carneiro - O dia do leilão está chegando

Gostaria de salientar aos meus leitores, que no próximo dia 28 de abril de 2009 começa o tão esperado leilão de Soraia Cals e Evandro Carneiro. Serão três noites, terminando no dia 30, quando serão colocados à venda nada menos que 461 lotes, de uma seleção de altíssima qualidade, reproduzidos em um catálogo finíssimo, com texto de Frederico Morais. O acervo à venda é quase que um perfeito corte horizontal na produção artística brasileira de todos os tempos. Temos mestres acadêmicos do século XIX como Henrique Bernardelli e Décio Villares, modernos como Guignard, Ismael Nery, Tarsila, Rego Monteiro, Lasar Segall, Antonio Gomide e Di Cavalcanti e ainda concretos, neo-concretos, abstratos e contemporâneos, com nomes da envergadura de Antonio Bandeira, Ivan Serpa, Tomie Ohtake, Beatriz Milazes e muitos mais. As estimativas vão de R$ 560,00 para uma xilogravura de Manuel Messias dos Santos a R$ 800.000,00 para o Portinari "Família", já mostrado em postagem anterior. O Di Cavalcanti reproduzido abaixo, "Mulher", da década de 40, é uma das estrelas do leilão e possui estimativa de R$ 220.000,00. Uma belíssima obra.

Soraia e Evandro também levarão a pregão obras de ótimos artistas ingênuos e naifs como Rosina Becker do Valle, Heitor dos Prazeres, Poteiro e mais alguns. Contará também com obras de alguns artistas estrangeiros como Pablo Picasso e Mane-Katz, este último, artista nascido na Ucrânia pertencente à Escola de Paris, cuja obra reproduzida abaixo "Estudante Religioso", irá a pregão com estimativa de R$ 22.000,00.

Sem dúvida será um belíssimo leilão, que só pela seleção já é um sucesso. Vale a pena acompanhar e participar, pois existem oportunidades raras ( como por exemplo algumas xilos de Oswaldo Goeldi) que podem incrementar em qualidade o acervo de qualquer colecionador. Aos que moram no Rio de Janeiro, será com certeza interessante ir ao Atlântica Business Center acompanhar pessoalmente e claro, fazer algum excelente negócio. Bom leilão a todos!